Conto 7: Pinguim-azul

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A irmã de Ana, Cecília, é obcecada por animais. Enquanto a maioria das pessoas ocupa o seu tempo livre assistindo a séries na Netflix ou a vídeos de comédia no YouTube, ela prefere assistir a documentários sobre a vida selvagem no Animal Planet.

Um dia, Ana estava sem nada para fazer e resolveu sentar ao lado da irmã para assistir a um desses programas. Era um episódio que falava sobre o que os machos do mundo animal faziam para conquistar as fêmeas. Ao que parecia, a natureza era bem dedicada nesse quesito: os métodos para atrair uma parceira eram variados, elaborados e inusitados. Alguns deles incluíam:

Gatos

Brigar (feio) com os concorrentes do mesmo sexo.

Aranha-pavão

"Dançar" de um lado para o outro, vibrar o abdômen e exibir a cauda colorida.

Fragata

Encher de ar um saco de pele que fica no papo – o saco fica até 30 vezes maior do que o seu tamanho normal.

Ave-Do-Paraíso

Fazer rebuscadas coreografias, apostando em movimentos variados.

Gibão macho (espécie de macaco)

Fica pelo menos 15 minutos "cantando" junto com a sua pretendente, como se estivessem fazendo um dueto.

Pinguim-azul

Dança para a parceira e "arruma" as penas dela que estão desalinhadas.

Pavão

Empina e abre as penas da cauda. Quando está aberta, a cauda pode chegar a 2,5 metros de diâmetro.

Coala

Produz sons variados com a boca. Os sons são tão rebuscados que podem dar a impressão de que ele é muito maior do que de fato é.

Abetarda (espécie de ave)

Aponta o traseiro na direção do sol para que suas penas fiquem mais brilhantes e chamativas.

Conforme os animais vão passando, Ana e Cecília não desgrudam os olhos da tela. Parecem estar fascinadas com o que estão vendo.

- É engraçado... – comenta Ana, quebrando o silêncio entre elas. – Enquanto, nas outras espécies de animais, os machos são extremamente criativos para conquistar as fêmeas, na espécie humana, os homens são extremamente criativos para se livrar das mulheres.

- O quê? – Pergunta Cecília, sem entender o que a irmã queria dizer.

- Depois da primeira vez que nós saímos, convidei o Gabriel três vezes para sair. Na primeira, ele disse que não podia porque "estava muito ocupado com o TCC" – ela diz a última frase com uma voz esganiçada e faz aspas com as mãos. – Na segunda, disse que não podia porque tinha que "cuidar da irmã mais nova, já que os pais tinham viajado". Na terceira, cancelou porque tinha "quebrado o pé jogando futebol". Haja criatividade para inventar tantas desculpas...

Cecília se inclina para trás e enterra as costas no travesseiro. 

- Uma vez, um cara disse que não podia sair comigo porque estava indo para o hospital. Disse que tinha torcido o braço tentando evitar que uma coxinha caísse da bancada da cozinha. Depois disso, comecei a achar que eles são capazes de inventar absolutamente qualquer coisa. - Ela encara a televisão à sua frente e pondera por um minuto. Então, vira-se para a irmã e diz: -Acho que eu preferia ser uma fêmea de pinguim-azul.

Ana sorri.

- Eu também, Ceci. Eu também.  

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