2 - 80 ou mais Loucuras

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    Gotas, gotas e mais gotas. Rápidas, escorregadias e extremamente pesadas atingiam meu guarda-chuva. Normalmente eu não reclamaria, sabe eu até gosto da chuva, ela é alegre, gosto de ver a chuva como algo libertador. Deixar seus sentimentos pingar em e escorregar em no mundo... É, parece que as filosofias do meu professor estão mexendo comigo. Preciso descansar. 

    Cheguei em casa e abri a porta, tirei meu casaco de chuva que estava ensopado e o deixei no porta guarda-chuva junto com o próprio guarda-chuva. Finalmente em casa. Sem tarefas, lições ou qualquer outra coisa que pudesse ficar martelando na minha cabeça. Me preparei para soltar um suspiro de alívio, mas fui impedido pois os gritos da minha mãe brigando com meu pai eram tão perigosos quanto aqueles trovões que rasgavam o céu. 

    — Eu já te falei milhões de vezes!! Minha guitarra não é para você brincar, você estourou uma das cordas de novo seu palhaço!!! — minha mãe gritava e rugia sem parar, meu pai coitado, estava se escondendo atrás do sofá em uma tentativa desesperada de se proteger daquela mulher. Mesmo ela sempre gritando com ele, ele é teimoso e sempre mexe nas coisas dela.

    — Mais eu só queria fazer um solo, eu não--

    — Um solo?! Eu que vou solar essa sua cara seu palerma! — Igual uma bandeira branca, assim que os olhos da minha mãe me encontraram seu ar mudou completamente. De uma tempestade ela se tornou um mar calmo e sereno. — Olá filho. Como foi o curso hoje? E a escola? 

    — Bem foi... — eu olhei de relance para lado e vi meu pai, ele estava fazendo diversos sinais desesperados com a mão para que eu prolongasse a conversa, meu pai caminhou a passos leves para fugir pela porta dos fundos. Eu precisava acoberta-lo. — Foi incrível, hoje nós... Espera, eu conheço essa camisa. 

    — Conhece..? — Respondeu minha mãe confusa, olhando a própria camisa vermelha com a silhueta de um homem brigando contra um esqueleto. Era uma camisa bem legal e que ela usava várias vezes, ele tem um ótimo gosto. 

    — Mas é claro, essa é sua camisa de cozinha você está preparando panquecas não é? Mãe eu já disse, você não precisa ficar me mimando eu não sou mais criança — me forcei a dar um sorriso, mas parecia mais um rosto com dor. 

    As feições de minha mãe mudaram de um vermelho vinho para um amarelo fluorescente ao ouvir cada uma das minhas palavras. Encostando a mão no rosto e ajeitando o cabelo seu espírito se encheu com uma alegria contagiante. 

    — Eu sou sua mãe bobão — disse enquanto passou a mão na minha cabeça. — Você tem se esforçado tanto para conseguir boas notas, você não pode ficar com fome, deixe que a mamãe vai preparar a melhores panquecas do mundo!! 

    — Preparar? 

    — Terminar — ela se corrigiu. Me dando as costas ela foi para a cozinha para tentar fazer panquecas mesmo eu tendo quase certeza que ou ela vai queimar a casa ou as panquecas. É por isso que meu pai sempre faz a janta. 

    Eu tirei meus tênis que estavam encharcados a ponto de um peixe conseguir viver ali. Subi as escadas para meu quarto, eu precisava urgentemente de um banho para conseguir relaxar um pouco antes que minha mãe achasse meu pai e uma nova Guerra Mundial começasse. 

    Girei a maçaneta da porta e adentrei meu quarto finalmente podendo dar meu suspiro de alívio. Fechei a porta atrás de mim e tirei minha mochila das costas, minha mãe tinha razão em uma coisa eu tenho me esforçado bastante para conseguir notas boas o suficiente para passar de ano. Por que biologia precisa ser tão difícil? 

    Não, eu não vou pensar nisso, tudo o que preciso agora é relaxar e viver o presente, sem tempo para pensar nas provas, escola e--

    — SEU IDIOTA!! — O grito de minha mãe atravessou a porta me dando um enorme susto. Conhecendo meu pai, ele deve ter tentado fazer uma de suas piadas sem sentido para animar minha mãe. Essa noite vai ser longa, melhor eu riscar o descansar da lista. 

Oneshot For Love - Lucas PortoOnde histórias criam vida. Descubra agora