Mitologia: Etíope, Judaica-cristã, Árabe
Personagem: Bilquis/Makeda/a Rainha de Sabá.Sugestão de @teratomaquia do Nyah! Fanfiction.
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Eu sou a rainha de Sabá.
Foi difícil, no começo, me adaptar ao ato de governar, pois não havia sido criada para de fato governar um reino. Aprendi, sim, tudo o que precisava para isso, mas não era o pensamento de todos que reinaria, pelo menos não sozinha. Precisaria de um casamento, com um homem claro. Além de que, se me coroassem, eu não teria voz em nada. Minha única preocupação seria para com os "deveres de uma rainha", que eram conseguir ficar grávida, basicamente.
Nada disso aconteceu. Subi ao trono sem uma aliança no dedo. E administrei tudo muito bem, segundo a maioria dos meus súditos.
Por vezes, era difícil uma conversa verdadeira com os meus vizinhos governantes. Isso porquê, quando ouviam falar de mim - uma soberana governando sem marido ao seu lado e fazendo um reino ser próspero e rico -, eles ( os outros monarcas) não acreditavam. Pensavam que era uma brincadeira de seus conselheiros. E quando vinham, a conversa era recheada de comentários que nada tinham a ver com o assunto principal do encontro. Como uma mulher poderia fazer isso, exercer esse cargo tão bem, sem que precisasse ter uma aliança no dedo? Como era possível? E o dia inteiro essas perguntas vinham até mim e tinha que respirar fundo para não causar um briga ou até uma guerra. Qual é o problema em aceitar que sou uma rainha e que governo um reino inteiro com sabedoria e precisão? Mulheres são bem inteligentes, okay?
Era... sufocante.
Então, qual não é a minha surpresa quando recebo uma carta enviada pelo rei de Israel me convidando para um encontro entre monarcas e talvez um acordo.
Claro, não estou endeusando o monarca de Israel, mas foi uma surpresa realmente. Sei que ele deve ter a mesma, senão uma parte, da mentalidade dos mesmos reis que me fizeram e fazem as mesmas perguntas toda vez que vou ter com eles. Mas, acredite, isso já é uma conquista em meio a tanta discriminação e machismo com mulheres no poder.
Esse foi o pensamento que tive assim que recebi o convite para um banquete com o rei de Israel. Mas se teria mais um aliado, recusar eu não iria. E já havia ouvido que sabedoria era o que não faltava àquele rei, então aceitei e a viagem até Israel foi feita.
Eu devia ter imaginado...
Salomão não era tão diferente assim dos outros, ele me enganou para passar a noite comigo. Quando disse ao rei que não estava ali para tratar de assuntos pessoais e que não toleraria nenhuma ""piada"" sobre meu cargo e minha capacidade para governar, ele pareceu aceitar de bom grado. Até que me disse que não faria nenhuma implicância que sugeriria algo a mais se, e somente se, eu não pegasse nada do seu reino.
No mesmo instante me senti ofendida. Eu era uma rainha, tinha tudo que quisesse, não precisaria roubar nada de ninguém. Porém, a comida que ele me serviu estava muito condimentada e, com sede, peguei um jarro de água na cabeceira da cama. No mesmo instante, Salomão apareceu e disse que eu descompri a promessa e que foi ainda mais ruim, porque a água é o maior objeto de maior valor. Esperteza não falta nesse rei, não é?
Bom, eu não tinha muita escolha. Se eu dissesse não a melhor coisa que poderia acontecer era ser despachada do reino. A pior, a morte...
E agora, depois de voltar de Israel, eu tenho um filho, que precisarei criar sozinha. Porém irei cria-lo para que seja diferente do seu pai, do seu avô, e todos os homens que existem no meu e no seu tempo. Ensinarei a construir um reino, com pelo menos o mínimo de respeito e igualdade perante todos os gêneros.
Ele viverá em um mundo diferente. Um mundo igual e justo, como o que eu queria ter visto. Nem que seja depois da minha morte, para esse mundo acontecer.
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Rainha de Sabá ou rainha do Sul foi, na Torá, no Antigo e no Novo Testamento, no Alcorão, na história da Etiópia e do Iémen, uma célebre soberana do antigo Reino de Sabá, reino mais poderoso da Arábia Feliz. A localização deste reino pode ter incluído os atuais territórios da Etiópia e do Iémen.
Conhecida entre os povos etíopes como "Makeda", esta rainha recebeu diferentes nomes ao longo dos tempos. Para o rei Salomão de Israel ela era a "rainha de Sabá". Na tradição islâmica ela era Balkis ou Bilkis. Flávio Josefo, historiador romano de origem judaica, a chamou de "Nicauli". Acredita-se que tenha vivido no século X a.C. A questão sobre se a rainha de Sabá representaria uma ancestral dos hamitas ou dos semitas suscita debates passionais até hoje.
No judaísmo, no velho testamento e no islamismo, não existe qualquer sinal de amor ou atração sexual entre a rainha de Sabá e o rei Salomão. Os dois são descritos apenas como dois monarcas envolvidos em assuntos de estado. Porém a tradição etíope afirma com segurança que o rei Salomão realmente seduziu e engravidou a sua convidada, e possui um relato detalhado de como ele o fez, um assunto de importância considerável para o povo etíope, já que a linhagem dos seus imperadores remontaria àquela união.
A narrativa contida no Kebra Negast (uma antiga compilação de lendas etíopes que foi datada como tendo sido escrito há 700 anos) - que não encontra paralelo na história bíblica - é de que o rei Salomão teria convidado a rainha de Sabá para um banquete, servindo comida condimentada para induzi-la a ter sede, e convidando-a a passar a noite no seu palácio. A rainha pediu-lhe então que jurasse não a tomar à força. Ele aceitou com a condição de que ela, por sua vez, não levasse nada do seu palácio à força. A rainha assegurou que não o faria, ofendida pela insinuação de que ela, uma monarca rica e poderosa, precisaria roubar qualquer coisa. No entanto, quando ela acordou no meio da noite, sedenta, pegou uma jarra de água que havia sido colocada ao lado de sua cama. O rei Salomão então apareceu, avisando-a de que estava a quebrar a sua promessa, ainda mais pelo fato de que a água, segundo ele, seria a mais valiosa de todas as suas posses materiais. Assim, enquanto ela saciou a sua sede, libertou o rei de sua promessa, e passaram a noite juntos. Dessa união nasceu Menelik I, que se tornaria o primeiro imperador da Etiópia.
Em 8 de maio de 2008, a Universidade de Hamburgo anunciou oficialmente que arqueólogos alemães, depois de uma pesquisa comandada pelo professor Helmut Ziegert, descobriram os restos do palácio da Rainha de Sabá, datados do século X a.C., em Axum (Aksum), uma cidade sagrada da Etiópia, sob um antigo palácio real.
Sendo reais ou não, muitas rainhas dos nossos antigos impérios são vistas somente como esposas do rei. Isso aconteceu com Leopoldina, Teresa Cristina, Catarina de Aragão, Ana Bolena, Maria Antonieta e várias outras rainhas e imperatrizes, que tinha a missão de dar um herdeiro, de preferência um menino, ao reino. Só isso.
Se elas se destacaram alguma vez durante esse tempo, seja que destaque for esse, somente ficamos sabendo agora. Elizabeth I deve ter ouvido falas parecidas das que a rainha de Sabá ouviu, e ela foi a melhor governante da Inglaterra! Várias outras mulheres ouviram também, sendo rainha ou uma simples plebeia, que o casamento era o momento máximo de alegria na vida de uma mulher, que se você não arranjar um marido a infelicidade vem a sua procura. Diga não, se não quiser, tá bom?
Mulheres são inteligentes, e faça com que elas demonstrem essa inteligência. Não tente interromper, não as enganem, nem a desmereceram por estar em um cargo e ser mulher. Isso se chama machismo e pode levar a misoginia - que é o ódio ou aversão contra mulheres e o gênero feminino -.
Se ela está ali, é porque ela se esforçou para isso. Não a desqualifique, como desqualificaram essas soberanas e fizeram o mesmo com todas as outras até hoje.
Imagem de autoria de Kristina Carroll
( http://www.kristinacarrollart.com/ )
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MITOLÓGICAS
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