Elena Gilbert nunca teve uma vida fácil. Perdeu mais pessoas do que possa contar, tendo que ficar sozinha no mundo junto de seu irmão mais novo, Jeremy. A seu modo, a garota tenta sobreviver e seguir em frente mesmo com as dores que carrega consigo...
Não há ninguém a quem eu possa recorrer E nada que eu poderia fazer Sou nada se eu estou aqui Sem você Without You | Ashes Remain
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O silêncio dentro do meu carro me parecia confortável. Mas para minha filha não, tendo em vista o biquinho em seu lindo rostinho voltado para a janela do carro.
— Tudo bem, filha?
Minha pergunta é o bastante para fazer com que a pequena garotinha de olhos azuis me encare. Ela solta um suspiro exasperado antes que volte minha atenção para a estrada.
— Mais ou menos. — Franzo o cenho, esperando por explicações. — Pai, você me ama de verdade? — Essa pergunta me pega de surpresa.
— Claro, filha. É óbvio que eu te amo mais que tudo. Que pergunta é essa? — Eu definitivamente não esperava algo assim. Meu amor por Chloe é enorme e sempre fiz questão de deixar isso explícito. Eu acho.
— Não sei. — Ela abaixa sua cabecinha e fica cada vez mais difícil manter o foco na estrada. — Você nunca disse que me amava.
E essas palavras me atingiram como um golpe. Um duro golpe. Eu senti vergonha por saber que essa era a verdade. Depois da morte de Rose, eu não me lembro de quando abri a boca para dizer um "eu te amo" para a minha filha.
— Filha, é que... eu... isso... — Eu nem conseguia falar. Eu não sabia o que falar.
— Pai, se você me amasse, não continuaria casado com a Katherine. — Franzo o cenho.
— O quê? — Indago. — Filha, o que isso tem a ver? Katherine é a minha esposa. Qual o problema?
— Ela é irmã da minha mãe. Você largou minha mãe pela bruxa da minha tia. Pai, você sabe como eu odeio ela. — Ver Chloe tão irritada e magoada me doía, doía de verdade. Mas eu não podia abrir mão do meu casamento com a mulher que me amava e que eu amava por puro capricho. Eu também mereço ser feliz. Ainda mais depois de tudo.
— Chloe, você não tem o direito de opinar sobre a minha própria vida. — Olho para a garotinha de grandes olhos azuis aborrecida. — Eu nem sei o porquê desse assunto ser comentado agora. Eu não tô aqui? — Pergunto retoricamente.
— Atrasado. Você sempre se atrasa com o que tem a ver comigo. Agora quando se trata da Katherine, você seria capaz de beijar o chão que ela pisa. Só que você não vê como ela é cruel comigo. Eu odeio ela, pai. Eu odeio. — Sua voz começava a ficar embargada. Eu não queria vê-la chorar, mas não podia mais falar desse assunto. Não vou abrir mão da mulher que eu amo porque minha filha não aceita que eu siga em frente. Se ela ao menos soubesse de metade da história.
— Chloe, vamos parar com isso. Esse assunto não é vantajoso para ninguém.
A garotinha encosta a cabeça na janela, escolhendo me ignorar pelo resto do caminho. Ao chegarmos em casa, ela pega sua mochila e corre até seu quarto, sem falar uma única palavra comigo.
Subo as escadas e sigo até meu quarto. Ao abrir a porta, encontro uma Katherine simplesmente linda, deitada em minha cama. Ela dormia como um anjo.
Eu não conseguia entender como Chloe conseguia odiá-la. Katherine sempre foi uma mulher incrível. Jamais vou esquecer como ela esteve comigo e me apoiou em todos os momentos.
Tento espantar esses pensamentos nada saudáveis. Retiro a roupa para tomar o meu merecido banho. Mas mesmo ali, debaixo do chuveiro, eu não conseguia parar de pensar em tudo o que houve e no salto gigantesco que minha vida deu há alguns anos. Foi muita coisa.
Eu amava Rose. Eu a amava tanto que morreria e mataria por ela. Eu juro.
Depois da morte dela, sentia que estava morrendo aos poucos. Eu definhava em pura tristeza e puro ódio. Lembro que quis desistir de tudo. Eu queria abrir mão da Chloe, da empresa, da minha casa e ir embora para qualquer lugar e esquecer de tudo. Só Deus sabe como quis fugir daqui e, principalmente, fugir do fantasma que ela se tornou em minha vida. Tudo o que Rose fez foi trazer a escuridão para a minha vida e destruir minha família. Ela me destruiu.
Eu quis muito não ter me entristecido com sua morte. Meu Deus, como eu quis. Mas eu sofri. E sofri demais. Afinal, como poderia não sofrer pela mulher que eu amava?
Naquela maldita noite o que eu tinha de mais precioso foi roubado de mim. A minha felicidade se foi junto com a Rose e nunca mais voltou. Mesmo tendo Katherine ao meu lado, eu nunca mais fui o mesmo. Eu nunca mais fui feliz de verdade. Apesar de tudo, eu queria tê-la comigo, ao meu lado.
Por sorte, me restou Chloe. Ela sim, é a minha maior prioridade. Foi por ela que decidi recomeçar. E mesmo não sendo o melhor pai do mundo, eu a amo mais que tudo e quero o seu bem. Eu queria que sua mãe estivesse viva. Não por mim ou por ela, mas por Chloe. Eu sabia que ela merecia muito mais que um pai ausente. Ela merecia ter sua mãe do lado, porque eu sei a falta que ela faz na vida da minha filha. Esperava que encontrasse isso em Katherine, mas por algum motivo, ela não conseguiu.
Depois de não sei quantos minutos refletindo embaixo do chuveiro, me seco e sigo para o quarto. Katherine continuava dormindo e eu me esforçava para não despertá-la. Me visto calmamente para não fazer barulho e abro a porta com todo o cuidado do mundo. Ao descer as escadas, Christine, pontual como sempre foi, já havia organizado tudo e meu prato estava posto na mesa esperando que eu o devorasse e, assim o faço.
Terminando a refeição, estava satisfeito. Me levanto e sigo para meu quarto, na intenção de junto com Katherine, dormir um pouco. Lembrar de Rose me magoava. Ela era a ferida que ninguém podia tocar, porque a qualquer momento poderia infeccionar. Rose Salvatore Pierce é a parte do passado que eu não consigo esquecer ou ignorar. Querendo ou não, ela sempre vai estar comigo.
Antes de parar na porta do meu quarto, passo pelo de Chloe. Abro a porta, mas ela parecia estar dormindo. Me aproximo e sento na beirada da cama, fazendo um leve carinho em sua perna.
— Você merecia um pai melhor do que eu. — Era fácil constatar isso quando encarava seu rosto angelical enquanto dormia. Chloe merecia um pai muito melhor que eu. — Só que mesmo com todos os meus defeitos, eu te amo. Posso não dizer isso muitas vezes, mas eu te amo mais que qualquer pessoa no mundo.
Nesse momento, eu pude jurar que ela havia esboçado um sorriso, mas seu rosto continuava passivo. Ela dormia como um anjo.
Ajeito sua coberta e deposito um beijo em sua testa antes de me retirar. Antes de fechar a porta, dou uma última olhada na minha filha, a coisa mais valiosa que eu tenho na vida. Então finalmente a fecho, pronto para ir ao meu quarto e dormir ao lado de outra pessoa extremamente preciosa para mim. Katherine Salvatore Pierce.
