Capítulo 2. Confuso Há Muito Tempo

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Tomando muito cuidado pra não apertar os ferimentos, Jimin ajuda Jeon a tirar a roupa, enquanto a banheira enchia de água. Ambos, já nus, entram dentro da água quente e ficam sentados juntos. Usando uma esponja e um sabonete, Park começa a limpar o sangue seco que estava espalhado pelo rosto de JK:
- Se você soubesse o tanto que me preocupo com você... - Em prantos, diz. Desde o momento em que chegou, Jungkook não disse nada. Ainda tentava entender o que havia acontecido, pois, de fato, não se lembrava de como foi parar naquele lugar e muito menos quem havia provocado os ferimentos. Não é a primeira vez que isso acontece: pela segunda vez, Jeon chega de madrugada, machucado e sem se lembrar do que ocorrera. Isso perturbou Jimin na primeira e agora, pela segunda vez, o leva a desilusão quanto à confiança que deposita no namoro. - Você não diz nada, fica quieto quando isso acontece e isso não melhora a situação... Eu queria muito entender, Jungkook, queria muito saber os lugares por onde você anda. Onde vai todas as quintas-feiras? - Park Jimin já chorava menos nesse momento, sem parar de limpar as feridas do amado. JK olha pra baixo, evitando os olhos do namorado, continuando em silêncio. - Por favor, Jungkook, me responde...
- Eu não me lembro... - Responde com uma voz baixa, revoltando o rapaz que está cuidando dele. Este, se levanta da banheira, derrubando água em todos os cantos.
- Não se lembra, tá bom... - Ele pega uma toalha e sai do banheiro, deixando JK sozinho e pensativo na banheira.
Park, após se enxugar, coloca um pijama, se deita na cama e, com apenas a luz do abajur iluminando-o, começa a chorar muito. Após alguns minutos, ouve os passos de seu namorado. Ao se deitar, Jeon abraça ele por trás, limpando suas lágrimas e dando beijos em seu rosto:
- Eu acordei perto daqui, desse jeito... Todo dolorido e machucado. - Jungkook se senta e Jimin faz o mesmo, ficando frente a frente um ao outro. JK segura o rosto de Jimin, enxugando suas lágrimas. - Eu não me lembro de nada... Só disso. Eu te juro, Jimin. Vim andando de lá até aqui. Um homem ainda me deu um cartão de um psiquiatra e... Eu só não me lembro. - O garoto começa a chorar conforme fala. - Eu não sou maluco Jimin, me fala que eu não sou maluco, eu só... eu não me lembro. - Park respira fundo e engole o choro.
- Jungkook, eu não sei mais o que te dizer. Não é a primeira vez que isso acontece e você diz que se esqueceu... É impossível.
Jimin tem muito medo de ser traído e de se machucar em um relacionamento. No entanto, Jungkook, mesmo não se lembrando de todos os acontecimentos que o levaram até a boate e, consequentemente, aos ferimentos, não vai contar tudo: não contará do bar, não contará o lugar em que acordou dessa maneira, nem dos flashes que tem das conversas no bar com Namjoon:
- Eu quero acreditar em você, mas... - Park respira fundo, tentando não deixar escorrer mais nenhuma lágrima. - Eu vou dormir no sofá hoje. - E então, se levanta e, mais uma vez, deixa Jungkook sozinho, preso em seus próprios pensamentos.
[...]
Era de manhã quando Jungkook enviou uma mensagem de texto pra Jung Hoseok (na lista de contatos, o nome salvo como "J-Hope"), convidando-o para tomar café na padaria favorita deles. Às oito e meia da manhã, os dois estavam sentados vendo a rua e os transeuntes passando por ela:
- Aconteceu de novo? - Pergunta J-Hope, JK apenas diz que sim, sem maiores explicações. - E você não vai fazer nada, Kookie? Esses flashes, essas... perdas de memória, tem que ter uma explicação! - Enquanto ele finaliza sua fala, JK pega o cartão que Jin entregara para ele na noite anterior e mostra para o amigo.
- Um cara me deu isso ontem. Disse que estou lá toda quinta e que não fazia sentido eu não me lembrar dele. Eu só consegui lembrar do nome: Jin.
- Hm... - Curioso com a historia, Hoseok pega o cartão. - psiquiatra Kim Taehyung... Você quer ir? - Jeon dá de ombros, esperava que obtivesse alguma ajuda na escolha. - Tem dinheiro?
- Eu tenho, eu... - Ele pensa um pouco. - Não tenho... - Suspira. - Meus pais só estão ajudando com o aluguel.
- Bom, Kookie, é uma boa opção e eu faço questão de te ajudar... Vamos ligar pra ele.
- Não! - Suplica JK. - Não quero ficar te devendo nada, ainda mais com uma coisa que só é problema meu.
- Jeon, você precisa de ajuda! Eu sou seu melhor amigo e eu quero te ajudar...
Na verdade, Jeon Jungkook tem medo. Tem medo de não ser normal, de ser qualificado, em qualquer sentido, como mentalmente instável.
A adolescência foi o período em que ele começou a esquecer das coisas, como se a mente dele apagasse e tudo acontecesse. Em um dia, ele pedia alguém em namoro, iniciando um relacionamento, mas no outro, não se lembrava de tal ato. Ter relações estáveis sempre foi um problema, assim como cumprir com certas obrigações. Ninguém nunca entendeu o que acontece na mente de Jungkook, ele nunca quis procurar por ajuda e seus pais se negavam a pagar algum tratamento, opondo-se à possibilidade de que o filho poderia ter alguma irregularidade. Amigos da família sempre diziam que havia algo incomum no menino, o que fez com que ele ficasse ainda mais confuso e desenvolvesse certa insegurança. Aparentemente, quanto mais as pessoas falavam, mais as perdas de memoria aconteciam e, de tanto os pais dele falarem que ele não precisava de ajuda, ele acabou tendo medo de receber qualquer diagnóstico psicológico:
- O que me diz? Eu ligo pra ele agora, vai ficar tudo bem. - Hoseok sugere. JK toma todo o café de uma só vez e pensa mais um pouco antes de responder. Em silêncio, J-Hope deixa-o pensar e analisar, entende como é difícil para o amigo, pois sabe tudo o que passou ao longo de sua vida.
- Acho que eu posso tentar...
J-Hope sorri com a resposta e começa a discar no telefone o número que estava escrito no cartão.
- Oi, bom dia, ahm... Eu gostaria de falar com o doutor... - Ele pausa para ler o nome no cartão. - Kim Tae-hy-ung - diz o sobrenome pausadamente. - Isso, doutor Kim Taehyung, por favor... Ah, sim, eu espero, sem problemas. - Hoseok fica em silêncio por alguns segundos, mas logo volta a falar. - Bom dia, me entregaram um cartão do seu consultório ontem, eu queria saber, quais horários você tem disponível? ... Hoje? - Ele olha pra Jungkook, que, mesmo querendo negar, diz que tudo bem. - Pode ser hoje sim... Meu nome é Jeon Jungkook... Certo, três e meia, obrigado!
- Três e meia... - Diz Jeon, aceitando a informação aos poucos.
- E Jimin? Como vocês estão?
- Não estamos bem... Ele acha que eu estou traindo ele, mas... Não tenho como saber se de fato estou, porque não me lembro! - JK fica nervoso mais uma vez consigo mesmo. - Ele quis dormir no sofá ontem.
- Você explicou pra ele? Que não se lembra?
- Contei! É claro que contei, mas ele não acredita, diz que é impossível eu não me lembrar! E eu fico muito triste... Eu amo muito ele... - Jeon suspira. - Mas... Não conta pra ele que vou fazer esse tratamento... Nem que você vai me ajudar, pelo menos por enquanto, por favor.
- Ta bom, não conto...
- Vamos pra minha casa comigo, tenta conversar por mim, acalmar ele...

Duality (이중성) - FANFIC FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora