𝐏𝐫𝐞𝐟𝐚𝐜𝐢𝐨

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-- Meu amor, eu sei que é difícil, mas vamos conseguir, aquele emprego não era pra mim mesmo. - Papai e mamãe estavam sentados na pequena mesa da cozinha, eu estava escondida atrás da porta do corredor escutando, e o choro de mamãe era audível dali.

-- Hyuk querido, o que vamos fazer? Não importa se era o trabalho certo ou não, era o trabalho que garantia nosso aluguel, como vamos pagar o hospital? Roupas para Hye, a pobrezinha acabou de nascer e vai passar fome e frio?

-- Acalme-se Eun-Ji, vamos dar um jeito...juntos, tudo bem? Sempre conseguimos resolver as coisas juntos, não vai ser dessa vez!

Como um sopro sou jogada a outro momento. Estávamos almoçando e papai entra sem fôlego na cozinha, suado como se houvesse corrido uma maratona.

-- Eun-Ji... Crianças...Eu... - Tentava recuperar a respiração conforme falava pausadamente.

-- O que foi amor? O que há de errado? Você está bem? - Mamãe já se desesperada, achando que o mais velho estava tendo algum tipo de ataque cardíaco.

-- Bem? Querida...Minha flor de jardim, meu girassol mais brilhante! - Pegou o rosto de mamãe nas mãos e a encheu de beijos, ao meu lado escuto Hyujun e Nae-min fazerem caretas de nojo. - Minha preciosa! Eu consegui um emprego, e um muito bom! Contém a eles sobre nossas condições e me deram o primeiro salário adiantado! Ree-na e Nae-min, subam e se troquem rápido, vamos a shopping comprar presentes de natal para todos! Junnie e nossa pequena Hyeri vão ficar com a babá.

-- Hyuk você ficou louco? O natal é só semana que vem e a babá deve estar ocupada! E o shopping é tão longe...

-- Mãe, acho que papai bateu com a cabeça! - Min se manifestou já fazendo seu caminho para o quarto.

-- Não fiquei louco, já liguei pra babá, adivinha...Ela está feliz em vir brincar com os pequenos! Vamos sair um pouco querida, faz tanto tempo que não nos divertimos um pouquinho.

Minha mãe espera um pouco antes de responder um grande sim. Os dois se abraçavam e giravam pelo cômodo, tirando sorrisos de Jun e Hye, e consequentemente, de mim também.

Estávamos no carro a caminho dos presentes. A neve caía branda pela janela. Ao meu lado Nae-min cantava com a música do rádio, fazendo meus pais cantarem com ela. O ar cheirava a algodão doce, com certeza arte de minha irmã e seus gostos por doces. A pequena me cutuca me chamando para cantar junto, e é claro, não resisto a toda aquela fofura.

Um carro vem se aproximando na pista contrária e consigo ver seu farol piscando, compadecidos e imersos no momento, nenhum de nós notou o desastre. Tudo aconteceu rápido, o carro à frente deslizou e entrou na nossa pista, numa velocidade bateu de frente com o nosso, só sobrou um leve relance do outro carro caindo ladeira abaixo ao nosso lado.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

Um zumbido forte se martirizava em meus ouvidos. Abro os olhos devagar e ainda com a visão embaçada e cabeça doendo consigo olhar em volta. O carro estava de ponta cabeça, por que eu estava de ponta cabeça. Meus braços sangravam e havia vidro para todos os lados, o zumbido ainda não tinha ido embora. Quando me viro para o lado oposto de onde era a janela me deparo com Nae-min, estava desacordada e pendurada pelo cinto de segurança, sangue escorria de sua cabeça. Comecei a chamá-la, gritar por ela, fiz um esforço que me doeu todo o corpo para alcançá-la e chacoalhá-la, mas nada. Ela não se movia e uma sensação de desespero começou a subir pelo meu corpo. Me contorci e alcancei a trava de meu sinto soltando o mesmo. Cai em baque no chão coberto de vidro e sangue...meu sangue, havia um enorme corte em minha perna onde um caco de vidro havia feito morada. O que aconteceu?

Com o corpo em chamas de dor custei a alcançar o ombro de meu pai no banco a minha frente.

-- Pai? O que aconteceu? O carro...bateu na gente?

Silêncio.

-- Pai?

Mais silêncio.

Eu o sacudi, mas nada mudava. Com persistência rastejei até o vão entre os bancos para poder ter uma visão melhor. Papai estava com um grande caco de vidro preso em seu abdômen, sangue escorria por todo o seu corpo, virei depressa para mamãe. Ela não estava no banco. Exasperada me arrastei de volta para a janela, cada vez que fazia um movimento sentia os pequenos cacos de vidro cortando minha pele. Com grande apuro consegui sair do carro. Me levantei devagar, apoiando todo meu peso sobre a perna esquerda, pois a dor que me subia a alma estava na direita. Com a respiração ofegante olhei em volta e nada. Não havia uma única alma ali. Ao longe consigo avistar alguém jogado ao chão, à frente do nosso carro. Morosamente caminho até o local, e conforme vou chegando mais e mais perto reconheço o vulto ao chão. Era mamãe. Deitada de barriga pra cima ela respirava com dificuldade.

-- Mãe, mãe, ainda bem! Você está ferida? O que aconteceu?

Me abaixei devagar e a apoiei em minha perna boa. Seu rosto estava pálido, suas mãos frias e seus lábios secos e trêmulos, sujos de sangue. Tentava balbuciar algo, mas nada saia. Suas mãos faziam pressão em sua cintura. Tirei meu foco de seus olhos por um momento e segurei suas mãos, tirando-as do local. Levantei sua blusa e em sua pele jazia um enorme hematoma, mais roxo que ameixas secas. Não entendia porque ela sangrava se não havia corte. Em agonia voltei o olhar para minha mãe, com os olhos já cheios de lágrimas, já tinha me esquecido de como respirar.

-- Hy-Hye... - Ela soltou em um grunhido me fazendo aproximar nossos rostos para que eu pudesse ouvi-la. - Tome con-conta dela... - Sua respiração tinha um odor inebriante e azedo de ferro.

-- Eu vou, vou sim, não se preocupe mamãe! Não se preocupe. - Falava em meio as lágrimas, consumida de desespero.

-- Ree...Eu...Te a-amo.

Mamãe soltou aquelas palavras em um suspiro, e não disse mais nada. Não falava, não se movia, não...respirava. Uma dor brutal e avassaladora tomou conta de mim, como se alguém me arrancasse o braço ou a cabeça, o coração.

-- Mãe? MÃE! ME RESPONDE MÃE! - Eu a chamava e ela não reagia, seus olhos ainda abertos olhando para o céu, a neve caindo em seu rosto.

Gritei alto em pânico e agarrei em meus braços, a abraçando mais forte do que nunca. Em meio aos soluços eu lembrava de suas últimas palavras.

-- Eu também mamãe! Eu tamb-bém te a-amo! Por favo-or, não me deixe sozinha! - Com o resto de fôlego que me sobrava gritei por ajuda, gritei por alguém. Mas só ouvia o silêncio. O frio era demais.

Ouvi um grunhido vindo do carro e logo escuto alguém chorando. Mesmo com a perna doendo me levanto novamente e ando depressa até a porta de Nae-min. Ela havia acordado.

-- Nana, me tira daq-qui, tá doendo muito. - A pequena soluçava aos prantos, colocando a mão na cabeça.

Com zelo afrouxei seu cinto de segurança e a puxei para fora. Agarrei-a em meu colo e entrelacei meus braços em seu pequeno e frágil corpo. Ambas chorando, com medo, sozinhas. Respirei fundo e engoli as lágrimas, não podia deixá-la com mais medo.

-- Acalme-se Minmin, respire. - Beijei o topo de sua cabeça, a fazendo tornar seu olhar para cima, para mim. - Vai ficar tudo bem ok? Alguém vai vir nos salvar, logo logo a polícia chega, fique tranquila.

Esfregava minhas mãos em seus braços para aquecê-la. Encostamos no carro e em poucos minutos ela dormiu em meus braços. O frio já me deixava sonolenta, tremendo o queixo acabei caindo no sono também, enquanto encarava o corpo de meus pais ao longe.


Não posso mentir, chorei quando escrevi isso, imaginar a perda da mãe já é horrível, imagina sentir.

Estou pensando em publicar um capítulo por dia a té sábado, já que é estreia...o que acham?

Wattpad não está enviando notificações gente, fiquem espertos.

É isso pimpolhxs, beijos na testa, fiquem segurxs.

ʚ𝗚𝗹𝗶𝘁𝘁𝗲𝗿 𝗖𝗹𝘂𝗯ɞOnde histórias criam vida. Descubra agora