Uma Fissura na Parede (um conto)

3. Final: A Descoberta

Tocou a última sineta do expediente, olhou ao redor e todos já tinham saído para os costumes vespertinos. Não era uma atividade obrigatória, mas os residentes tinham prazer em cumprí-la para celebrar a comunidade de Às, era um momento de interação. Nunca houvera sentido menos vontade de confraternizar com os outros como agora, percebia-se distante dos residentes do laboratório; e se estes soubessem o que estava passando em sua cabeça, com certeza a julgariam.

Não se deu ao trabalho de recolher as suas coisas, saiu da baia e se dirigiu à porta, esvaziando a mente de quaisquer pensamentos que viriam a atrapalhar. Passara tempo demais pensando em coisas irrisórias, agora, sentia que havia algo demasiado grande e importante a explorar e eram nessas coisas que ela se concentraria.

Chegou à parede, dessa vez não haviam vozes nem zumbidos. Da pequena fissura emanava uma sensação de paz e calmaria que jamais sentira, olhou com clareza para ela, afastando de si qualquer fio da teia que outrora a deteria. Fechou os olhos por um breve momento e os abriu como nunca abrira dantes, não ficou surpresa quando viu que não havia mais paredes, e nem transparência, mas sim uma porta, uma larga e grande porta. - Aaah! - exclamou quase de satisfação. Através do portal se via tudo, um infinito vasto e NADA cinza. Apesar de não ser imaculadamente alvo, era muito mais claro do quanto lembrava das paredes do laboratório. Este mundo era muito mais amplo do que jamais imaginara! Ela não sabia colocar em palavras, e nem o que fazer a partir daí, porém, já não tinha mais medo; sentia, acima do que qualquer coisa que já sentira antes na vida, que precisava descobrir tudo por conta própria, sem interferências. Deixou então que a cálida luz a envolvesse, sentiu-a dentro de si e atravessou o portal; deixando para trás Às e qualquer sentimento impróprio que lá habitava.

-FIM-