(U)nliving.

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    Min Yoongi

Meu celular tocava inúmeras vezes e eu imaginava ser mensagens de pessoas que pudessem estar preocupadas comigo, porém eu não dava a mínima. Deveriam ter se preocupado quando eu estava no início de meu sofrimento, não agora que estou no fundo do poço.  Desligo o aparelho e me deito novamente, escutando xingamentos de meus pais, que provavelmente estavam dizendo que eu deveria estar de pé a essa hora mas, sinceramente? Eu não estava nem um pouco a fim de ver suas caras, não hoje. Queria ficar somente aqui, por mais que eles me julgassem demais. Não queria comer e muito menos dormir. Eu só precisava de reflexão e eles precisavam entender isso. Entender que eu sou uma pessoa como eles e também tenho momentos de fraqueza. Não sei lidar com muitas situações e ainda estou aprendendo sozinho a como lutar contra a dor.

Decidi que hoje tentaria fazer diferente: eu iria sair para caminhar e me distrair um pouco. Sinto que talvez isso me ajude a melhorar e que muito provavelmente meus pais sejam o problema de eu estar tão pra baixo, já que nem apoio eles me oferecem, para nada. O que quer que seja, tudo o que fizeram/fazem sempre foi e sempre será por interesse, até porque eles mesmos já disseram que eu fui um erro e não deveria ter acontecido. Me pergunto o que fiz para eles, mas é aí que chego em minha resposta: Nada. Absolutamente nada, ou talvez até tenha feito, que no caso é o ato de ter nascido, mas nunca fui uma pessoa ruim, somente extremamente antisocial. Antes que eu pudesse pensar mais ou ouvir outra reclamação de minha mãe, levanto e calço meus tênis, indo até o banheiro lavar meu rosto e escovar os dentes para sair. Passo pela sala e vejo que meu pai estava sentado no sofá enquanto minha mãe cuidava da cozinha. Eu tinha pena de minha mãe apesar de tudo o que ela me fez. Meu pai já chegou até a bater nela em minha frente, porém ela nunca o viu como um mal homem, ou tem medo de denunciar.

— Para onde vai desse jeito? Precisa nos dizer, você nunca sai. — Meu pai me barra com palavras, me fazendo forçar um sorriso.

— Vou para a praça, ficar sozinho. Somente isso, nada mais. Tudo bem? Não vou passar a noite fora ou algo assim, fiquem tranquilos porque eu tenho senso. — Afirmo, abrindo a porta e saindo, só não totalmente porque tive de escutar a fala de minha progenitora.

— Isso é influência daqueles seus amiguinhos com aquelas caras de quem faz coisa errada. — Ela diz. — Você nunca foi uma pessoa de sair assim e agora quer? Você não me engana.

— Nunca fui mas agora estou sendo. Ponto final. Não preciso mudar pra agradar ninguém. Ah, e nem amigos eu tenho. Passar muito bem. — Dou um último sorriso e fecho a porta, colocando as mãos em meus bolsos e indo para a rua em direção ao meu destino.

Sinto a brisa bater em meu rosto enquanto caminho. Aquilo era uma coisa inspiradora, admito. Fazia tempos que não sentia aquilo e me sentia um pouco mais vivo somente de poder novamente, por mais que isso não fizesse diferença quando comparado à minha alma completamente destruída e sem esperanças. Era outono e as folhas das árvores estavam completamente avermelhadas e alaranjadas e caiam aos montes, enchendo o asfalto preto das ruas com uma colocação completamente exótica e bonita, mesmo sendo até estranha de olhar as vezes. Eu chutava aquelas pequenas coisinhas secas enquanto soltava leves sorrisos. Me sentia uma criança novamente, como aquelas de filmes americanos em que as pessoas pulavam em montes de folhas em família.

Podia ouvir algumas crianças gritando do outro quarteirão, elas pareciam felizes e suas risadas eram realmente contagiantes. Espero que nenhuma delas sequer tenha uma vida igual a minha, ninguém merece o sofrimento que eu passo todo santo dia. Tentando esquecer isso, presto atenção nas casas da vizinhança, coisa essa que eu nunca havia reparado antes. Elas tinham tons mais frios, algumas sendo pretas, ou azuis, ou até roxas. Eu definitivamente me sentia dentro de um filme americano, isso é assustador. Brincadeiras a parte, também conseguia ver o lago da praça dali, o que significava que estava perto. Minha casa era bem perto de algumas praças da cidade, o que facilitava me refugiar nas mesmas quando precisasse no meio de surtos internos e brigas com meus pais ou conflitos comigo mesmo, já que sou incompreensível.

Vi que algumas nuvens estavam cinzas e isso indicava que uma chuva estava próxima. Precisava de somente uma hora, no máximo. Espero que não chova nesse tempo, não quero ser atrapalhado por água caindo do céu, não no meu momento de reflexão. As ruas não estavam muito movimentadas hoje, pois era feriado e as lojas não se abriam e poucas pessoas iam para o trabalho. Ótimo, quanto menos barulho em minha cabeça, será melhor para que eu me concentre em tudo o que preciso. Já bem perto do lago, me sento na beira do mesmo e começo a olhar para meu próprio reflexo. Não entendia o porquê de fazer isso, mas eu sempre via algumas pessoas fazendo quando eu era menor. Talvez elas também estivessem passando por um momento difícil naqueles dias em que passei por aqui, nunca se sabe.

— Pff... Você é patético. — Digo àquela pessoa que via na água enquanto passava a minha mão no líquido, vendo meu rosto se distorcer.

As vezes a água me representava. Tudo pode parecer estar calmo em algum momento, porém, ao menor toque possível, tudo se desmorona e a paz vai embora. Assim como a água, eu também sou frágil. Pouca gente entendia e eu até tinha problemas com isso, pois me sentia culpado por ser assim quando, na verdade, isso deveria fazer parte de mim e não ser considerado uma vergonha. Mas eu sinto que é desnecessário sofrer por poucas coisas como eu (quase) sempre faço. No final sempre seria apenas eu e eu, somente. Eu seria quem iria me levantar, apesar de tudo e seja lá quanto tempo demorar. Eu irei me decifrar e sair desse estado, somente não sei quando e muito menos como.

—8 dias para a cura.

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