- Precisa disparar a flecha mais rápido, se continuar nesse ritmo seu inimigo fugirá antes que erga o arco. - disse Dehdhros, o capitão cavaleiro da tropa dos Alto Elfos da Lua.
- Sim senhor. - Danathor respondeu rápido e firme, tentando suportar o peso da arma enquanto montava em seu cavalo negro.
Tinha oito anos de vida, mas treinava desde os quatro. Sabia cavalgar, sobreviver em campos de batalha, era obediente como uma máquina programada e escutava todas as ordens que lhe eram dadas como se fossem dádivas apontando para um único propósito: Torna-lo capitão da cavalaria assim como seu pai, seu avô, e todos os homens da família antes dele.
Acordava pontualmente todos os dias antes do nascer do sol e treinava junto de todos os outros aspirantes à soldados, com pouco ou quase nenhum descanso. Mas era ao pôr do sol que seu treinamento especial começava. Seu pai, Dehdhros, o observava com seus olhos de adaga e apontava cada mísero erro que o elfo de cabelos e olhos prateados cometesse. Queria que ele carregasse o nome da família de forma impecável, protegendo o povo como o melhor guerreiro que eles já tiveram.
- Essa é a sua definição de mira?! - Gritava observando Danathor galopar e tentar atirar flechas certeiras no centro dos alvos espalhados entre as árvores do campo de treinamento aberto, casualmente acertando uma folha ou outra por descuido. - Em um campo de batalha já estaria morto!
Por vezes o jovem elfo teria de repetir a mesma seção de ataques mais de cinquenta vezes até que seu pai estivesse satisfeito, mesmo que ele saísse com as mãos sangrando e as pernas bambas em plena luz do luar. Mas hoje, o capitão parecia mais impaciente que o normal.
- Chega, chega. - Ordenou, fazendo um gesto para que o filho se aproximasse. No semblante, um sinal de desapontamento. - Você ainda não está bom o suficiente, Danathor.
- Eu sei, capitão. Mas não pararei de treinar até que não haja mais falhas. - Respondeu como sempre, sem titubear, com os olhos fixos e a postura ereta, era um nato soldado.
- Em minha cabeça pensei que o tornaria o mais jovem elfo da história à ser capaz de tomar o título de capitão para si, mas pelo que vejo, ainda temos um longo caminho pela frente até que deixe de ser miserável no que faz. - A fala era dura e cortante, mas o garoto tentava à todo custo internalizar o significado por trás de toda crítica que recebia em treinamento.
Em seus pensamentos, quando se vive à guerrear, não há espaço para dores e sentimentos complicados. Se deixasse que seu espírito caísse e murchasse a cada palavra negativa que recebeu, possivelmente não teria muito mais de si para mostrar.
Ao invés disso, preferia provar o contrário.
Mais forte, mais rápido, mais preciso, sem margem para erros...Treinaria até que a única crítica que pudesse receber seria por não conseguir errar uma única flecha nem se quisesse.
Seu dever, desde o dia em que nasceu até o dia em que não tivesse mais forças, seria proteger o povo elfico da lua nos Reinos Esquecidos, seu lar. Jurou fidelidade à um rei e entregou o corpo e alma à luta.
Não podia negar que nunca teve a chance de apreciar devidamente a grandeza de ser um Alto Elfo por ter todas as horas de seus dias preenchidas, mas sabia que seus antepassados lutaram batalhas épicas, com dragões que se reduziram à brasa pelas lâminas afiadas e admirava mais do que tudo não só a coragem, mas também a sabedoria que eles carregavam e transmitiram para os que hoje perpetuam esse legado.
Mas mesmo com seus olhos focados em batalhas, eles não poderiam deixar de admirar a beleza que o cercava. O reino lembrava uma espécie de paraíso, com flores esmeraldas crescendo pelo chão e grandes árvores de raízes fortes fechando os céus. No centro da floresta, um pequeno poço era iluminado pela luz da noite, cedendo força a todos as criaturas que ali confessavam suas preces e desejos.
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Os Cinco
AdventureCinco viajantes, cinco aventureiros, cinco almas, apenas um destino.