Guerra Declarada

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               Gilbert entregou os papéis e Stanford leu rapidamente. Justamente como imaginara. Com a eficiência característica do secretário, estava tudo em ordem quando retornaram à cidade. Após descansar um pouco, Stanford deu novas ordens a Gilbert.

              Confirmando que Mason estava em casa, Stanford resolveu fazer uma visitinha de surpresa aos sobrinhos. E para checar sobre um certo demônio de olhos azuis. Mason mostrou-se surpreso ao rever Stanford, pois acreditava que ainda estivesse na Europa. Porém, mostrou-se calmo e o convidou para conversar na biblioteca. A conversa fluiu amena. Mason se sentia desconfortável. Claro que não era uma visita social. Ele conhecia Stanford e sabia que este não dava ponto sem nó.

                 Quando Stanford mencionou que era hora do chá das cinco, hábito adquirido durante estadia na Inglaterra, Mason atendeu ao pedido. Ele não esperava que fosse Will a trazer a bandeja... Quando Will deixou a bandeja cair e saiu correndo, Mason teve que se controlar para não sair correndo atrás dele.

                Felizmente, Sakura apareceu, instantes depois. Rapidamente, mandou que limpassem a sujeira e trouxessem outra bandeja. O chá foi servido e enquanto bebia, Stanford comentou com um toque de ironia:

               "Parece que velhos hábitos não morrem tão fácil..."

               Mason largou a xícara e encarou o tio.

                "Você fez isso de propósito!"

              "Ora, ora, meu sobrinho... Parece que você não está mantendo esse escravo na linha. Estou decepcionado..."

             "Will não é um escravo" – rosnou Mason.

             "Will? Está tratando esse demônio com muita intimidade... Cuidado, meu sobrinho! Demônios são falsos e traiçoeiros. Um descuido e eles se tornam incontroláveis! Não se deve confiar em um demônio, principalmente um demônio da mente. São os piores que existem!"

             "Está falando de Will ou de você mesmo?"

              "Como se atreve a falar comigo assim, garoto insolente! Sou seu tio, portanto me respeite!"

              "O senhor veio até a minha casa somente para atormentar alguém que nunca fez mal a ninguém! E quer que eu lhe respeite? Como posso respeitar uma pessoa que tortura, espanca e maltrata um ser indefeso?" – Mason vociferou.

               "Indefeso? Ele é um demônio!"

               "O senhor tirou os poderes dele... ele não tinha como se defender. Colocou-o trancado em um porão sujo e escuro. Acorrentou-o como se fosse um cachorro! Deixou-o passando fome, frio... eu fico enojado só de imaginar as atrocidades que cometeu contra ele."

              "Ele conseguiu lhe corromper..." – Stanford tentou argumentar.

              "Basta! Saia de minha casa imediatamente! Não quero ouvir mais nenhuma palavra dessa sua boca imunda... – Mason se levantou e abriu a porta da biblioteca. " Eu tenho nojo de você!"

            Stanford encarou Mason, lívido. Então levantou-se e saiu sem falar uma palavra. Mason o acompanhou até a porta da rua.

           "Meus advogados entrarão em contato para tratar da dissolução da sociedade no teatro e nos outros empreendimentos. Não se preocupe, faremos de forma justa e honesta. Mas, não quero ver a sua cara feia de novo!" – disse Mason, antes de fechar a porta.

             Stanford não respondeu. Limitou-se a entrar no carro e partir. Seu secretário que o aguardava no pátio, correu acompanha-lo. Logo as duas figuras indesejáveis desapareceram na estrada. Mason respirou, aliviado e foi procurar Will. O pobrezinho devia estar aterrorizado.

              Sakura o informou que Dora o levara para o quarto e estava com ele. Sem hesitar, Mason foi até lá para tranquilizar Will. Esperava que Will não tivesse regredido ao estado emocional em que se encontrava quando o resgatou. Levaram semanas de cuidados e carinho para que Will relaxasse e agora temia que todo trabalho duro fosse arruinado.

             Chegou à porta do quarto de Will e bateu.


            Gilbert encarou Stanford, mas não falou nada. Conhecia bem seu patrão para saber que não era prudente abrir a boca, em momentos assim. Stanford estava furioso, não, possesso! Poucas vezes o vira nesse estado... e em uma delas, seu irmão Stanley pagou caro.

             Eles voltaram à mansão e Gilbert resolveu deixar Stanford sozinho na biblioteca. O som de coisas sendo quebradas confirmou suas suspeitas. Esperou um pouco do lado de fora até ouvir Stanford chamar seu nome. Entrou com cuidado e fez uma reverencia. Stanford o encarou com um olhar assassino e falou:

             "Gilbert, temos que tomar umas providências... está na hora de retomar o que me pertence! Foi um erro entregar William para aquele garoto insolente e ingrato! Mas, vamos corrigir esse erro. Prepare tudo... agora é guerra!"

              Gilbert sorriu perversamente... Seu patrão estava decidido! Fazia muito tempo que não sentia a emoção de uma batalha. Ele não falharia... Seria preciso e certeiro! Planejaria com cuidado e já tinha algumas ideias... só precisava conseguir os aliados certos!

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