Um Mestre Cruel

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                  O som de uma chicotada ecoou, seguida de um grito de dor. Em seguida, vários palavrões e outra chicotada. Uma voz fraca implorando piedade e outro grito de dor. A mulher, encostada na parede com uma cesta pendurada no braço, tentava tampar os ouvidos para não escutar. Alguns estalos de chicote e então, silêncio. A porta do porão se abre e um homem de cerca de cinquenta anos sai, carregando um chicote ensanguentado.

               "Ah, é você, Dora? O que traz nesta cesta?" – pergunta ele, ao perceber a presença da mulher no corredor.

                "Apenas uns trapos, remédio feito de ervas, e um pouco de comida – sopa de sobras e pão velho, Mestre Stanford." – responde Dora, fazendo uma reverência e mostrando o conteúdo da cesta.

                "Pois bem, cuide daquele inútil, como sempre!"- rosnou Stanford, passando ao largo. Antes de se retirar, ele lhe deu outra ordem: "quando terminar aqui, venha até a biblioteca!"

                "Sim, Mestre Stanford. Como desejar..." – responde Dora, fazendo uma mesura. Ela observou seu patrão se afastar, seguido de perto pelo secretário, Gilbert Adams.

                Não se surpreendeu ao ver o segundo homem. Sabia que este sempre ficava por perto, quando o patrão estava no porão. E sabia também que Gilbert parecia apreciar assistir as sessões de tortura. Sem poder definir qual dos dois era pior: um por torturar ou o outro, por assistir e se divertir com isso.

               Balançou a cabeça e entrou na sala meio escura. Apenas uma pequena lâmpada suja pendia no teto. No chão, jazia um rapaz, sem camisa e coberto de sangue. Pobre Will, desmaiado por causa da tortura novamente. Suas costas e seu peito estavam cheios de marcas de chicotadas e seu rosto exibia marcas de bofetadas.

                Com cuidado, Dora pegou um balde com água e com um pano começou a limpar as feridas, tentando não machucar mais ainda. Ele gemeu ao toque e começou a se mexer. Aos poucos, foi recuperando a consciência.

              "Calma, Will... sou eu. Não se mexa." – sussurrou Dora, gentilmente. "Assim que a pomada fizer efeito, você poderá se levantar." - De fato, logo os cortes começaram a fechar.

               Não importava quantas vezes ela tivesse feito isso, sempre se surpreendia como ele conseguia se curar rápido. Mesmo porque ela sabia muito bem que Will não era um simples humano. Will era um demônio. E demônios não eram fáceis de morrer, por mais que se machucassem tinham a habilidade de se curar com facilidade.

              Em poucos minutos, ele conseguiu se levantar e sentar-se. Dora aproveitou para limpar o resto dos cortes e passou o remédio. Depois lhe entregou um vidro de conserva com uma espécie de sopa e um pedaço de pão velho.

             "Coma, Will... sei que não é muito, mas pelo menos vai ajudar. Gostaria de poder trazer mais. Mas não permitem, me desculpe!"

              "Tudo... bem... Dora! Eu... agradeço..." – murmurou Will, com dificuldade. As dores eram insuportáveis, mesmo depois que as feridas sararam. Devagar, ele começou a comer.

               Sua segunda refeição do dia...

               Ela esperou que Will terminasse de comer. Então, retirou uma camiseta velha do cesto e o ajudou vestir. A que ele usava, havia sido rasgada e arrancada por Stanford, antes que pudesse tirar. Depois ela o ajudou a deitar sobre o colchão velho no canto e o cobriu com um cobertor puído. Tentando segurar as lágrimas, ela acariciou seus cabelos azuis, antes de sair e trancar a porta.

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