Prólogo

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(Alerta GATILHO. Se você for uma pessoa sensível, não recomendo que continue lendo.) 

Trinta...

Era tudo ou nada. Aquelas amoras dariam o meu fim de uma vez por todas. Peeta poderia voltar a qualquer momento, e por mais que eu duvidasse que ele fosse me matar, ele estava acompanhado de Katniss. Se alguma dupla merece vencer, com toda certeza são eles.
Pego a mochila de tamanho médio que Logan havia me enviado. O bilhete estava um pouco amassado lá dentro, mas dei uma última lida antes de aprontar tudo. A caligrafia delicada do estilista contrastando com a realidade que aquilo trazia. Apenas um comprimido e as amoras, apenas isso e eu poderia ter a minha vida de volta. Ou pelo menos parte dela.

Vinte e cinco...

A situação em que eu me encontrava não era simples. Literalmente morreria agora ou mais tarde, afinal, eu não quebraria minha promessa. Eu nunca mataria alguém. Nada é mais importante do que a minha própria aceitação, e se eu cometesse um ato desses, não seria capaz de sobreviver a mim mesma.
Coloco diversas amora-cadeado em minha mão, manchando a mesma com o líquido roxo azulado que a fruta continha. Peeta provavelmente não sabia que elas são venenosas. Talvez ele tivesse sorte e encontrasse meu corpo caído e sem vida antes de tentar colocar uma dessas na boca, do contrário, Katniss teria que enfrentar o carreirista e Thresh sozinha.

Quinze...

"Espero que tenha noção do quanto me orgulho por você ser assim."

Sábias últimas palavras de uma mãe que tem certeza que a filha está sendo enviada diretamente para a morte. Palavras ditas de maneira tão dolorosa que eu podia jurar ter escutado as mesmas rasgarem a garganta de Silvya enquanto ela falava. Mas não havia nada a se fazer, não se pode vencer os jogos.

Dez...

"Azul, use o vestido azul."

Kara estava certa. O vestido azul realmente realçou meu cabelo ruivo e os olhos claros. Mas era uma péssima forma de dar adeus para a irmã mais nova. Só não foi pior que meu irmão mais velho, que nem mesmo se deu o trabalho de ir se despedir após meu nome ser chamado na colheita.
Enfiei a mão livre no bolso do casaco, pegando a pílula e depois fazendo um movimento rápido. A dança da morte. Estava pronto, as amoras, a pílula, a vítima. Mas havia uma coisa extremamente importante faltando. A coragem.

Sete...

Pelo menos meus últimos segundos estavam sendo um belo entretenimento para o povo da capital. Uma jovem tributo ajoelhada ao lado de um pequeno riacho, prestes a comer as amoras que irão acabar com a sua vida tão rápido quanto a flecha de Katniss acertou o peito do carreirista que matou a garotinha do distrito 11.
Senti algo molhar minha bochecha, percebendo segundos depois que se tratava de algumas poucas lágrimas escorrendo. Era isso, o cenário de quem estava prestes a se encontrar com o fim. Eu já conseguia até imaginar a voz de Caesar Flickerman:

- Não sentindo capacidade de enfrentar os outros quatro tributos sobreviventes, Fynch decidiu que tirar a própria vida era a saída mais fácil. Um caminho inteligente tomado por uma garota que sabia que a arma mais poderosa que temos... é o nosso cérebro.

Cinco...

"Foxface, é um belo apelido, não acha? As raposas são sábias e astutas... Combina com você."

Me pergunto como seria se Logan e eu tivéssemos nos encontrado em algum lugar diferente. Ele não era como os outros da Capital – apesar do forte sotaque -, ele era amável, empático, além de pensar como eu. E era por esse motivo que suas últimas palavras me incentivaram a continuar.

"Confie em mim, vou dar um jeito."

Quatro...

Levei a mão até meus lábios, sentindo a pílula com seu gosto amargo tocar minha língua enquanto se misturava com o sabor doce das amoras.
Ao mastigar aquilo se tornou apetitoso, mas algo ainda estava fazendo meu estômago embrulhar. Eu estava com medo do que aconteceria. Não tive muito tempo para pensar, meu corpo começou a perder as forças abruptamente.

Três...

Quando meus olhos se abriram novamente, eu já estava caída ao lado das amoras, totalmente sem forças para erguer meu braço.
Minha respiração estava ficando mais lenta, assim como o intervalo entre uma piscada e outra estava se tornando mais longo. Era como se todos esses dias em que passei acordada fugindo e seguindo tributos finalmente seriam recompensados com uma grande soneca.

Dois...

Pelo menos eu estava em paz. Aquele seria o melhor jeito de partir. Meus olhos já não abriam mais, assim como eu já não sentia mais dor alguma em meu corpo. Pude até mesmo ouvir o barulho do canhão anunciando a minha morte. Mas tinha um único problema...

Um...

Eu não estava morta.

FoxfaceOnde histórias criam vida. Descubra agora