Prólogo

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É possível mudarmos completamente nossa personalidade?

Sendo bem sincera, por muito tempo eu detestei a pessoa que era. Pode parecer completamente insano dizer isso, mas é um pouco cansativo ser uma pessoa que veste uma máscara para determinadas situações. Poderiam dizer "Olívia, faça terapia", "Olívia, converse com alguém", ou simplesmente "Olívia, não reclame de boca cheia".

Argh!

São conselhos tão previsíveis que por muito tempo preferi nem dar atenção, mesmo sabendo que muitos deles poderiam realmente me ajudar. Dito isso, posso esclarecer que sou escritora de romances. Com heroínas fortes, seguras de si, confiantes e totalmente apaixonadas pela vida. De certa forma consigo ver a ironia em tudo isso. Uma mulher insegura e lutando para lidar com os próprios problemas dando vida a diversas histórias de romances bem sucedidos.

Por isso consigo entender os conselhos que sempre me deram quando tentei falar o que se passava dentro de mim. E é também pelo mesmo motivo que parei de tentar explicar isso às pessoas. Hoje eu simplesmente sou. Vivo da única maneira que eu aprendi. Eu luto com meus demônios quando eu estou sozinha, em casa, na frente do espelho. E quando estou lá fora, na frente de todas as pessoas, falando de personagens corajosas e fortes, visto o meu melhor sorriso, a minha melhor armadura e mostro-me como uma nova Olívia na frente de todos.

Eu diria que é cansativo...

Sentada em uma das diversas cadeiras na longa mesa, cheia de autores autografando seus mais novos lançamentos, assino algumas cópias do meu novo livro, A luz da escuridão, quando uma menina se aproxima de mim. Com a caneta em mãos, sinto a sua presença antes mesmo que ela diga algo. Sua sombra paira sobre o livro e sua voz fina me tira de todos os diversos devaneios que somente a minha mente poderia criar.

— Bom dia Olívia, seu trabalho é maravilhoso. — Largo a caneta em cima do livro, enquanto ergo meus olhos para a figura na minha frente, sorrindo para ela.

— Qual o seu nome, meu anjo? Posso autografar um livro para você. — Ofereço, sabendo o que ela provavelmente gostaria.

— Eu adoraria! Meu nome é Sophia. — Primeiro, eu posso ter vivido em um mar de problemas e ironias em minha vida, mas eu definitivamente fiquei boa em ler pessoas ao longo do tempo. Enquanto assino o exemplar para ela, analiso seus movimentos. O cruzar de braços, os dedos entrelaçados, a boca abrindo e fechando. Definitivamente ela está nervosa.

— Aqui está! Espero que você goste, Sophia. Fico muito feliz que tenha vindo. — Ao entregar o livro, ela finalmente sai do estado de torpor que se encontrava e me encara com admiração.

— Os seus livros me salvaram. De verdade, durante muito tempo minha vida foi um inferno e nas leituras eu pude encontrar um refúgio dentro da minha própria casa. Talvez não seja muito importante para você, mas eu não estaria aqui se não fosse pelas suas histórias. Obrigada. — E dizendo isso ela pega o exemplar, bate uma foto comigo e vira as costas. Um pouco antes que ela desaparecesse na multidão da livraria, eu chamo seu nome e espero que ela vire em minha direção para lhe dizer.

— É importante Sophia, você não faz ideia de como é importante.

Um ligeiro filme se passa na minha cabeça naquele momento. Uma menina, não devia ter mais que dezesseis anos, foi capaz de me desestabilizar em uma frase. Para muitos, seria um momento normal, uma troca de elogios e curiosidades com uma leitora. Mas não para mim, uma pessoa que lutou batalhas contra si e contra todos os outros durante boa parte da vida.

E mais do que isso, entendo muito quando meus leitores se refugiam nos meus livros.

Por muitos anos eu sofri com confiança e com meu orgulho, e saber que pelo menos hoje consegui vencer essa batalha e estar aqui, nesta enorme sessão de autógrafos de uma das maiores editoras de Londres, mostrando a minha nova obra para todos, me faz sentir realizada comigo mesma.

Tento ignorar os pensamentos destrutivos que se passam na minha cabeça e focar no sucesso que estou alcançando no meu trabalho. Mesmo que seja outro romance com uma personagem forte e determinada, eu sei que no fundo escrevo todas essas histórias para incentivar meninas e mulheres a mostrar que nós temos o poder para mudarmos tudo na nossa vida dentro de nós e só precisamos de um pouco de força para mostrar tudo isso ao mundo.

Hoje sou a Olívia empoderada que luta por todos aqueles que enfrentam batalhas, sejam elas quais forem. É somente mais uma das inúmeras máscaras que aprendi a usar durante a minha vida e por mais que eu tenha aprendido a aceitar quem eu sou, ainda é difícil lidar com tudo que sempre me afetou.

Novamente a grande ironia da minha vida.

Esse foi o dia que tudo mudou na minha vida. O dia em que eu parei de vitimizar meus sentimentos e minhas ações. O dia em que eu me dei conta da grande hipócrita que eu não gostaria mais de ser.

E eu sinto que as coisas só irão melhorar daqui para a frente... 

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