Capítulo 2

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Fecho a tela do notebook com uma força totalmente desnecessária, demonstrando toda a raiva dentro de mim. Como eu poderia me encaixar em um ambiente assim? Com esse tipo de público? Fecho os olhos e solto a respiração, que até o momento nem havia me dado conta de que estava prendendo. Sinto meu coração acelerar no peito e minhas mãos começarem a suar. Eu poderia dizer que a sensação é totalmente física, sinto o sangue correndo mais rápido pelas minhas veias, o coração bombeando mais forte e mais rápido, meu organismo funcionando como se tivesse saído de uma maratona. Porém, sei que tudo isso está acontecendo por causa da minha mente. Da minha mente complexa e disfuncional.

Situações como essa não estão nas páginas dos meus livros, não são da personalidade forte e confiante das minhas mocinhas. Talvez por isso o público admire tanto os meus romances. São mulheres fortes, totalmente diferente de mim.

Decido por fim levantar do tapete e seguir os preparativos para a noite. Ainda sentindo resquícios da ansiedade rondando meu corpo, sigo em direção ao banheiro para um banho relaxante. Talvez seja isso que eu precise, desligar a mente de toda essa multidão e de todos esses barulhos. Enquanto abro o registro e deixo a água quente relaxar meus músculos contraídos do frio, tento lembrar de todos as possíveis combinações de roupas que eu poderia criar para o evento.

Queria muito a ajuda de Elliot agora.

Porém, tenho consciência de que preciso enfrentar todos os meus problemas, sozinha, e meu melhor amigo não pode estar sempre ao meu lado como uma babá dizendo o que devo vestir, fazer ou simplesmente falar. Ao terminar o banho, ponho um roupão felpudo e crio coragem para ir à caça de uma roupa que me sinta bem e bonita. Deixo meus cabelos ruivos secarem naturalmente nas minhas costas enquanto dou início a missão de colocar todas as possíveis roupas em cima da minha cama. Eu sei que tenho uma quantidade considerável de roupas, mas por que em situações como essa, simplesmente não encontro algo que pareça adequado o suficiente?

Caminho até a frente do espelho, observando o meu reflexo; eu gostaria de enxergar algo melhor do que isso. Meus cabelos vermelhos, longos e lisos, escorrendo pelos meus ombros e alcançando até a minha cintura. Minha pele clara, pálida sem o contato do sol, repleta de sardas pelo rosto e todo o restante do corpo. Respiro fundo, fechando os olhos com força, e implorando à minha mente para não boicotar minha própria visão mais uma vez. Abro os olhos novamente e desço o olhar pelo meu corpo, passando pelos ombros estreitos, os seios largos, a barriga que poderia perder alguns centímetros e aquilo que me faz sentir lágrimas silenciosas caírem pelo meu rosto, a visão do quadril avantajado. Fecho as mãos em punho, apertando as unhas nas palmas da mão, liberando um pouco a dor e a raiva que sinto da minha própria e nojenta imagem.

Viro de costas para o espelho e sento-me no chão, os fios do meu cabelo criando uma pequena poça de água a minha volta enquanto as lágrimas que rolam pelo meu rosto criam a perfeita imagem de uma garota imperfeita, que ainda não vivenciou a auto aceitação. Respiro fundo, pensando em desistir de toda a história de evento e de uma possível alavanca na minha carreira. Eu não preciso disso, eu não preciso sofrer dessa forma para ir atrás dos meus objetivos. Se eu sofro assim, talvez não seja o certo a fazer.

E eu implorei para minha mente não me boicotar, por que eu faço isso comigo mesma?

Limpo as poucas lágrimas do meu rosto com as costas da mão, levanto-me do chão molhado, recolho as peças de roupas jogadas a minha volta e fecho os olhos, apertando-os com toda a força que ainda resta dentro de mim.

— Eu sou forte! Eu sou suficiente! Eu consigo fazer isso! — Repito as mesmas palavras para mim até sentir a pressão dos meus olhos suavizarem e a força das minhas mãos diminuírem aos poucos o aperto nas peças que eu seguro fortemente. Sei que consigo, consigo me olhar no espelho e gostar do que vejo, eu sou capaz disso; só talvez não agora.

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