Capítulo 1

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Eu nunca fui uma pessoa de lugares muito lotados, ou até mesmo lugares com muitos turistas. Então morar em Londres com certeza é mais uma das muitas ironias que me acompanham desde que me conheço por gente.

A vista da majestosa London Eye se estende na minha frente enquanto estou sentada na grama fofinha do Jubilee Gardens. É realmente uma vista de tirar o fôlego, isso é, se eu tivesse realmente tempo de prestar atenção a minha volta.

Algumas semanas atrás marquei a data de lançamento de mais um dos meus ebooks. É um prazo consideravelmente curto, mas o empenho que tenho em fazer o meu melhor é sempre o foco. História, essa, que estou há horas tentando finalizar sentada nesse jardim. Elliot, meu melhor amigo e assessor literário está há dias me cobrando avanços, então decidi que uma mudança de ares seria o meu empurrão literário.

Isso é algo que faço bastante, não o fato de ser cobrada por Elliot, mas ter esses incentivos à criação. Sair sem rumo, encontrar lugares novos, sentir o clima da cidade. São técnicas que me ajudam muito no processo criativo. E novamente estou divagando sobre coisas aleatórias quando deveria estar escrevendo.

Sinto o sol forte iluminando as páginas do meu surrado caderno, o mesmo que me acompanha desde a adolescência e onde coloco as minhas principais ideias antes de passar tudo para o notebook. Ao erguer meus olhos para o cenário a minha volta, encontro tudo aquilo que sempre evito, pessoas. O sol forte prejudica a minha visão, então decido colocar meus óculos escuros. Dessa forma posso me esconder da luz forte do dia e de toda a multidão que me cerca.

É estranho da minha parte amar escrever histórias sobre pessoas, porém não ser tão inclinada a gostar delas? Gosto da minha solidão, afinal, me acostumei com ela. Elliot sempre briga comigo, dizendo que sou completamente surtada e que definitivamente eu deveria ir a uma terapeuta. Entendam, eu sei que no fundo ele tem razão, mas também sei que é mais fácil continuar assim. Enquanto permaneço afastada da multidão e ela de mim, tudo está certo.

E por essa razão talvez não devesse ter vindo a um lugar tão turístico em um dia ensolarado como este. Mas eu realmente preciso continuar esse livro, antes que o Elliot queime minha cabeça com mais reclamações. E com toda a minha força de vontade, com os olhos grudados no meu caderno de rascunhos, eu volto a segurar a caneta fazendo uma força totalmente desnecessária ao pressionar ela nas páginas.

Como se um empurrão físico fosse ajudar!

As palavras fluem na minha mente, minha mão segue um ritmo rápido e sem descanso enquanto a história de um romance quente e avassalador é criada nos meus pensamentos. Sou interrompida diversas vezes pelo barulho dos passos apressados dos londrinos, correndo para chegar no trabalho antes que o horário de almoço termine, ou das câmeras barulhentas dos diversos turistas tentando uma foto com a grande roda gigante ao fundo. Meus personagens possuem uma vida cheia de acontecimentos e cheia de interrupções, que outra forma de pôr no papel se não aquilo que me rodeia na vida real?

Minha bolha literária é estourada quando sinto meu celular vibrar no bolso do meu casaco. É sempre uma péssima ideia deixar o telefone ligado quando tento escrever, mas sinceramente? Eu não estou nem aí. Largo meu caderno e caneta na grama a minha frente enquanto tento pegar o celular a tempo de atender a ligação. Qual a minha surpresa quando vejo o nome do meu melhor amigo no visor? Nenhuma.

— Tesourinho! Onde você está? — Escuto a voz brincalhona que tanto amo na mesma medida que tanto odeio. É sério!

— Estou na rua, Elliot. — Apoio o rosto no ombro, segurando o celular enquanto arrumo a pequena bagunça de caneta, caderno e basicamente tudo o que havia dentro da minha bolsa.

— Quanto mistério, credo. Fazendo o quê, exatamente? Você deveria estar terminando o próximo livro, Olie. A data de lançamento que você me passou está próxima, e eu já comecei a trabalhar em cima disso. A corda já está amarrada e o barril pronto para ser chutado embaixo de mim.

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