Finn: "I want to feel alive." [reform. 2024]

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    No dia seguinte, eu não fui trabalhar. Millie queria ir comigo ver o Gale, mas pedi para que ela fosse para o estúdio, eu daria um oi por ela. Pisar na varanda dele me fez voltar no tempo, sempre no fim dos shows nos reuníamos ali e bebíamos enquanto tivéssemos energia. Eram boas lembranças, mas agora eu nem sabia o que falar quando o visse. A ideia de perdê-lo era assustadora pra mim, por mais que eu vivesse implicando com ele, eu o amava imensamente.
    Dei duas batidas na porta. Esperei impacientemente até que ele abrisse a porta. 
    - Finn! - ele endireitou sua postura e sorriu, ele provavelmente imaginava que eu não sabia ainda - Ora, seu filho da mãe, por que não me avisou que tinha chego de viagem? 
    - Não tente me fazer de otário, Gale, eu já sei o que está acontecendo.
    - Como assim? - ele se fez de desentendido, então entrei de solavanco. 
    - Por que não me contou que estava doente? 
    Ele deu dois passos para frente e fechou a porta atrás de mim. 
    - Vamos conversar, filho. - ele enfim assumiu sua verdadeira posição, abatido, manco e curvado para frente. 
    Caminhamos até a sala, onde ele pediu para que eu me sentasse e se sentou em minha frente. 
    - Como você se sentiria se tivesse que contar para a Millie que está morrendo? - ele suspirou - Imagine, você foi para mais uma consulta comunal com seu médico e ele diz que você tem um tumor dentro da cabeça que vai tomar conta de seu corpo.  Então, você chega em casa, senta no seu sofá e não sabe o que vai fazer ou a quem vai pedir ajuda, mas que ajuda? Não existe cura para isso. Você chora a noite toda até o dia seguinte, quando você tem que levantar da cama e contar para todas as pessoas com quem você se importa. Com que palavras vai dizer a sua namorada que ela vai perdê-lo para sempre? E os seus amigos? Seu irmão? Seu pai? - ele passou a mão pelo rosto - Não é fácil, é? 
    Neguei em silêncio. 
    - Quando contei isto para Ayla, Malcolm e Jack, eles choraram. - admitiu ele - Nunca os vi chorar antes, sabia? Porque crianças não deviam chorar. Mas o ponto, filho, é que eu não tinha as palavras para você como tive com eles.  
    - O que quer dizer "eu não tinha palavras pra você"? - indaguei - O que eu tenho de especial? 
    - Você sempre me deu mais trabalho, Finn. - disse ele - Tinha seus surtos de ansiedade, nunca estava completamente bem consigo mesmo, não decidia que namoradas ter, quebrava as coisas quando se irritava, se lembra da corda que arrebentou? Tive que comprar uma nova, rapaz! Mas quer saber? Você foi mais família pra mim do que os meus pais, o filho que eu nunca tive. Sou mais próximo de você do que os outros, Ayla nunca veio pedir conselhos sobre namorados. 
    - Porque ela nunca teve um. 
    - Você é muito cruel, às vezes, garoto! 
    - Continue. 
    - Ok. - ele levantou as mãos em rendição - Não vai me fazer dizer que te amo, vai? 
    - Gale! 
    - Está bem. - ele riu - Me divirto com você. Infelizmente, não sei quanto tempo de vida tenho, se é o que quer saber, algumas coisas são repentinas, por isso, fique o máximo de tempo possível com a sua garota, a qualquer momento ela pode te chutar pra fora da vida dela ou ser chutada da sua. Tem que aproveitar a vida. E vou ser sincero, sei que pediu um recesso de um ano e eu consegui, mas é mesmo isso que quer? Trabalhar em lojinhas de game? Sua paixão é a música. 
    - Sabe que às vezes eu sinto falta de tocar.
    - Então toque. - sugeriu ele - Você sabe onde os instrumentos ficam. 
    - Posso? 
    - Preciso mesmo responder? 
    Me levantei e fui até a sala dos instrumentos. Peguei minha guitarra, ela continuava a mesma desde o último show, e retornei para a sala aonde Gale me esperava. 
    - O que quer ouvir? - perguntei a posicionando sobre meu colo. 
    - Sabe que gosto de todas as suas músicas, rapaz, por que não toca a sua favorita?
    Sorri e comecei a dedilhar Greyhound.

    "Going to Seattle on the Greyhound 
     I missed school for this 
     Bought two tickets last September 
     Before your harmful bliss 
     Playing at the Neptune 
     They're your favorite 
     I still can't believe you're gone 
     Can't get you to explain it, ah, ah

     I wish could go home 
     Forget this ever happened 
     I feel depressed out of whack 
     And in my own world 
     Sometimes I can't feel a thing 
     I can barely feel a thing, ah, ah

     Hats off to you 
     For you to go 
     Wish you were here 
     At the show 
  
     Ooooh 
     Ooooh
     Ooooh 
     Ooooh" 
   
    Parei de tocar e fitei Gale. 
    - Você tem muito talento, Finn. - admirou ele - Não deixe de fazer o que ama, sei que a Millie vai entender. 
     - Você tem razão. 
     - Vou me lembrar disso, filho. 

** 

    Coloquei a caixa de jogos no balcão de vidro e encarei Quincy. 
    - O que é isso, Finn? - indagou ele olhando da caixa para mim - Você disse que não ia vir hoje. 
    - Eu vim pedir demissão.  
    - O que?! 
    - O que?! - perguntou Nick em sincronia. 
    - Foram os dois dias mais nerds da minha vida, mas eu percebi que não era isso que eu queria. - disse - Você é um bom chefe, Q, mas essa profissão, com certeza, não é para mim. 
    - Você quem sabe, Finn. - disse ele pegando a caixa do balcão - Mas se você quiser o emprego de volta, você tem a vaga. 
    - Muito obrigado, mas eu acho que existe alguém que a merece mais do que eu. - agradeci - Prefiro que nos reunamos lá em casa para jogar qualquer hora, estou devendo uma rodada a vocês. 
    Nick permaneceu quieto. 
    - Ok, marcamos isso. - disse Quincy – Boa sorte na busca, Wolfhard. 
    Assenti e caminhei para fora dali. 
    - Espera, Finn! - ouvi Nick gritar atrás de mim – O que foi isso? Achei que queria o emprego. 
    - Eu também, irmão. - continuamos caminhando pela calçada - Mas aí percebi que eu não podia simplesmente deixar a música pra lá, vou procurar algo que eu goste. 
    - Já que é a música que ama, volte a tocar com a Calpurnia, então. 
    - Não estou pronto ainda, Nick. - respondi – Merecemos sim o descanso. 
    - Não te entendi. 
    - Vou procurar um emprego que envolva música, mas que não inclua a banda. - disse - Não quero que eles desfaçam os planos deles. Eu não tenho planos no momento, o que quer dizer que não tenho nada a perder com minhas ideias malucas.
    - Você é doido! - exclamou Nick - Então vai rodar pela cidade procurando um emprego? 
    - É exatamente como pretendo passar o dia. - disse a ele. 
    - Preciso voltar para o serviço. - disse Nick – Me liga mais tarde. 
    - Claro, Nick. 
    Ele assentiu e se foi. 

       ** 

    Passei o resto da tarde procurando um emprego novo, estava prestes a desistir, quando virei uma última esquina. Lá, no final da rua, estava um bar, não muito grande, mas as luzes neón me chamaram atenção. Fui até lá e dei entrada.  
    O espaço interno era bonito, muitas mesas de madeira tomavam conta do lugar e um bar largo se encontrava ali perto. Luzes brilhavam em várias cores: roxo, amarelo, azul, vermelho, verde... Elas alternavam junto com uma música instrumental calma. Parei diante do bar e chamei por alguém. 
    - Olá? 
    Um homem surgiu de trás da cortina de uma despensa..? Talvez. Não era novo, seu bigode assumia uma cor acinzentada, diferente de seu cabelo castanho irregular. 
    - F-Finn W-Wolfhard?! - o homem se assustou. 
    - Calma, não precisa ficar tão nervoso. - pedi – Acho que o senhor pode me ajudar em algo. 
    - A-Ajudar? - ele inclinou a cabeça para o lado – Assim você me embaraça.
    - Quero um emprego. 
    - É seu! - disse ele, espontaneamente. 
    - Me deixe falar, por favor. - toquei seu ombro – Finja que sou um amigo de décadas. 
    - Mas meu bar está falido, ninguém mais vem aqui. 
    - Vou te ajudar, amigo. - bati em seu ombro – Toco todas as noites e você me paga o seu preço, não quero privilégios só por que sou famoso. E não fique assim toda vez que me ver, está bem? 
    Ele assentiu em silêncio. 
    Gale tinha razão, era a música e sempre seria.

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É como viver a história toda de novo, ai ta muito proveitosa essa reformulação, visse? Espero que estejam gostando!

True Disaster Second Season [NEW CHAPTERS 2024]Onde histórias criam vida. Descubra agora