❛ 𝑺𝑬𝑮𝑼𝑵𝑫𝑨 𝑪𝑨𝑹𝑻𝑨

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𝑺𝑬𝑮𝑼𝑵𝑫𝑨 𝑪𝑨𝑹𝑻𝑨

Não irei começar do jeito normal, mesmo com minha mente me lembrando que isso não é uma carta se não possuí todos os adereços que a faz parecer uma carta, eu apenas ignoro tudo isso e foco no fato de que estou escrevendo. Não é o que deveria estar fazendo – isso não é uma música, muito menos um livro ou uma ideia para uma nova organização na academia, ou qualquer outro material que me favoreceria e traria dinheiro para sustentar a casa em que hoje moro.

Noah, você alguma vez tentou conversar comigo sobre o que acontecia em seu coração? Eu joguei tudo para o alto e iniciei outra conversa, ignorando seus sentimentos, ou era isso que você pensava que iria fazer então apenas decidiu não dizer nada? Essas perguntas parecem rodear minha cabeça toda vez que olho para pequenas coisas que me lembram ti – tudo, pois cada decoração, cada risco nas paredes brancas de nossa casa, tudo é uma grande lembrança da pessoa que você foi e da pessoa que viveu nessa casa.

Taylor continua me dizendo para não pensar nisso, que os seus problemas eram os seus problemas e não tinha nada que eu conseguisse fazer para melhorar tudo aquilo, mas ela está mentindo, eu sei que está. Uma vez peguei Krystian e Lamar conversando sobre como era óbvio que você acabaria fazendo o que fez, eles tentaram disfarçar na hora, mas era certo que também acreditavam que tinha algo em meu poder para te ajudar. Acho que a única pessoa que não está me julgando é Heyoon, ela tem muita bondade em seu coração, não acredito que seja capaz de julgar alguém – muitas vezes, acaba me lembrando de você, e me mato por dentro cada vez mais.

Então me encontro novamente no mesmo lugar, imaginando se deveria tentar fazer algo além de me lamentar por seu uma pessoa inútil, e mesmo assim, tudo o que faço é escrever sobre você – certas coisas nunca mudam. O sol que passa pela fresta da janela ainda me lembrava você e seu jeito estranhamente contagioso, e me pego repensando de tudo aquilo foi uma farsa, se você era apenas um bom ator que conseguia mascarar tudo com um sorriso tão perfeito quanto o resto de ti. Eu ao menos cheguei a realmente te conhecer?

Noah Urrea – eu te amei como um cego ama a luz; como um livro precisa da luz mesmo sabendo que poderia o destruir; eu te amei como um louco ama a sanidade, e não faço a menor ideia de como parar este sentimento, porque por mais que tente falar no passado, o amor ainda esta dentro de mim, brilhando e se corrompendo aos poucos. Você dizia que no momento em que eu conseguisse o amar mais do que amava a dança, essa seria a hora de ter medo.

Então preciso admitir que estou com medo, e nunca senti tanto medo e terror dentro de mim.

Você ainda aparece nos meus sonhos, e tudo parece normal – a depressão não existe, aquela parte negra dentro de você que não havia percebido até sua morte, tudo aquilo parecia ter desaparecido, e restou apenas a felicidade. No começo até gostava de ter uma memória sua que não remetia ao suicídio, até perceber que retirar aquilo era tirar uma parte de quem você era. Eu sou um idiota.

No final do dia, eu continuo sendo Josh Beauchamp, uma bagunça certificada que nunca vai ser arrumada. Você iria ficar horrorizado se me visse agora – sem músculos, muito mais magro do que quando nos conhecemos, com um rosto cansado e sem força para sequer levantar da nossa maldita cama e tentar sair da bolha que me enfiei desde sua morte. Hina uma vez me disse que era como se tivesse sido substituído, como se a pessoa que realmente era morreu junto contigo aquele dia, e não poderia concordar mais. Eu não estou vivo afinal, estou apenas continuando uma rotina sem razão alguma.

Pensei várias vezes em seguir o seu caminho, desistir de tudo e tentar te encontrar no céu, se isso existe e se fosse para ele; mas não iria conseguir deixar Taylor aqui, não com minha afilhada no caminho, e devo dizer, ver essa garotinha me faz querer ficar vivo, apenas para olhar em seus olhos e tentar ser melhor por ela. Você deveria estar aqui ao meu lado, ouvindo Taylor reclamando das cores e do trabalho de cuidar de uma criança que nem ao menos nasceu, e sei que você estaria radiante pois sempre foi bobo por bebês e estaria pegando ela no colo primeiro do que eu apenas para ter a chance de erguer o olhar e falar que deveríamos ter um daqueles.

E eu consegui me magoar, novamente, pensando em como você sonhava em ter uma criança, e em como essa conversa surgiu várias vezes durante o nosso relacionamento, principalmente quando falávamos sobre casamento. Quando foi que tudo começou a despedaçar? Quando foi que passamos de desconhecidos na casa da praia alugada entre diversos amigos e que simplesmente se conectaram para um relacionamento se destruindo aos poucos e que acabou com os dois?

Se eu pudesse voltar no tempo e apenas aproveitar aqueles dias na praia, a semana de ano novo que passamos juntos, nos conhecendo, sem ter certeza se aquilo ia se tornar sólido ou apenas um amor de verão e aquilo realmente não importava no momento, o que importava era ser feliz.

Noah, algum dia você foi feliz ao meu lado?

𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐎𝐕𝐄𝐋𝐘 𝐋𝐈𝐓𝐓𝐋𝐄 𝐋𝐎𝐍𝐄𝐋𝐘 𝐋𝐄𝐓𝐓𝐄𝐑𝐒 ─── 𝑛𝑜𝑠𝘩 ༉‧₊˚Onde histórias criam vida. Descubra agora