O Relógio

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Isso aconteceu há muitos anos atrás, mas poderia ter acontecido ontem. 

Em uma antiga e tranquila rua da Filadélfia, Pensilvânia, que não me lembro mais como se chamava, havia uma certa casa. 

Uma casa enorme, sombria e triste, em cujo interior era sempre noite e o silêncio sempre reinante era apenas quebrado por um único ruído.

TIC! TAC! TIC! TAC!

Com o passar das gerações, esse pacato cenário doméstico sofreu inúmeras alterações. Os móveis coloniais do início do século 20, foram substituídos por outros mais modernos, várias obras de arte dos mais diversos autores passaram por suas paredes, sem falar de seus vasos, esculturas e tapeçarias. Mas, um determinado objeto jamais deixou de fazer parte da decoração de sua lúgubre sala.

Um antiquíssimo relógio de pêndulo.

Uma verdadeira relíquia, digna de figurar como uma peça de museu.

Inclusive, uma velha lenda diz que ele não apenas pertenceu como foi construído por ninguém mais, ninguém menos, do que o próprio Benjamin Franklin.

Hoje, ele está lá na parede, no mesmo local onde o colocaram há mais de um século atrás e de onde nunca foi retirado. No mesmo lugar, há várias décadas e provavelmente lá deve permanecer sabe-se lá por quanto tempo.

TIC! TAC! TIC! TAC!

Na extremidade direita da sala, uma enorme escadaria se ergue rumo ao andar superior, onde se encontra o quarto da Srª Jenkins, uma viúva que, de seus setenta anos de vida, habita esta mansão há onze deles.

"― Maldita insônia! Por mais que eu tente, não consigo pegar no sono..."

Com tal preocupação a atormentar seus pensamentos, ela descia os degraus lentamente, deslizando os dedos pelo corrimão, segurando um pequeno castiçal metálico onde se achava encaixada uma vela acesa, em meio às trevas que preenchiam o recinto.

"― Mas, também, não é pra menos...Tenho andado muito tensa nesses últimos dias..."

TIC! TAC! TIC! TAC!

"― Onze da noite! O tempo parece não passar. Achava que já era mais de meia-noite!"

Para completar ainda mais o quadro de opressiva desolação, uma tempestade irrompia do céu tomado por pesadas nuvens, com trovões reverberando pelo ar frio e úmido da noite.

"― Ultimamente, tenho ficado nervosa por qualquer motivo... Talvez, um copo de leite quente faça com que o sono venha... sim, talvez..."

As gigantescas nuvens negras que encobriram o céu, ameaçaram uma tormenta a tarde inteira. Os fortes ventos e os relâmpagos resplandecentes são os ingredientes que faltavam para tornar esse noite... inesquecível.

"― Meu Deus! Que chuva forte lá fora!" – pensava a anciã, enquanto se servia de uma xícara de leite quente no refeitório do casarão. - ...mas, tenho fé em Deus que não vai continuar assim por muito tempo. Pelo menos, eu espero que não..."

KAAABRUUUUMMMM!!!!!

"― Minha Nossa! Gostaria que esses trovões não fossem tão assustadores!"

De repente, uma súbita lufada de vento extingue a chama da vela sobre a mesinha.

"― Oh, não! Ainda mais essa agora! Como se eu já não estivesse com os nervos à flor da pele, a vela ainda se apaga, me deixando no escuro... Deve ter sido o vento... Mas, como...? Devo ter esquecido alguma janela da sala aberta. Minha memória anda tão fraca...

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