First; Me

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Adora nunca quis se casar

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Adora nunca quis se casar.
Não era como se fosse seu maior sonho, diferentemente de outras mulheres da sua idade. Ela gostava da sua “liberdade” de solteira. Preferia estudar, afinal era letrada e fazia manuscritos esplêndidos, embora jamais os fosse publicar. Não aceitavam nada que fosse feito por uma mulher, naquela gráfica. Então todos os textos eram guardados com carinho em uma pasta, onde ficavam escondidos. Ninguém além do seu pai os lia.

E, quando ele se foi, junto com sua liberdade, Adora soube que seus manuscritos seriam sua única fonte de conforto.

Ela tinha um irmão, Adam, mas este era casado e morava longe demais para que pudesse recorrer à ele. Seus poucos amigos eram de famílias tradicionais, mesmo assim nada podiam fazer pra ajudar.
Adora estava sozinha. Não poderia cuidar do próprio patrimônio, porque o juiz que detinha todos os papeis, tal como o advogado que pegou sua causa, era preconceituoso. Exigiu que ela se casasse, para conseguir sua parte na herança.

E, num ato de desespero, Adora se casou.
Sem amor, sem vontade, sem qualquer sentimento, além de medo e pressão, envolvido.
Ela se entregou para um homem, Riordan Prime, que já a havia cortejado por um tempo. Teve “sorte” que ele ainda estivesse solteiro.

Grande sorte.

Riordan foi um bom marido nos primeiros meses.
Carinhoso, delicado, manso como um cordeirinho. A ajudou a reaver suas posses, e prometeu não colocar as mãos em tão patrimônio. Afinal, ele não precisava.
Mesmo assim, Adora sabia o que significava tudo isso.
Ela estava presa à Riordan pelo resto da sua vida. Jamais poderia o deixar, ou tudo o que seu pai tinha lutado anos pra construir, ficaria nas mãos de outra pessoa. Ela seria largada à sarjeta, sem nem o que vestir, completamente sozinha.

Que outra escolha tinha?
Estava amarrada ao seu marido.
Seu casamento era autenticado e consumado em uma lua de mel digna da realeza.
Mas Adora não estava feliz.
Ela jamais seria feliz com Riordan, porque não conseguia amá-lo. Não sentia absolutamente nada por ele. Talvez um afeto fraternal, mas que poucos a pouco também foi se degastando.

Depois do terceiro mês de casamento, Riordan começou a mostrar sua verdadeira face.
Ele era explosivo, violento e manipulador. Transformou sua vida em um inferno, depois que Adora se recusou a querer engravidar.
Obviamente as humilhações não eram em público. Riordan os faziam parecer o casal perfeito. Mas, claro, vez ou outra ele jogava indiretas perto de pessoas importantes.

Adora nunca se sentiu tão sozinha. Tão fria, sem qualquer tipo de carinho interno ou externo.
Começou a apenas existir.
Passava a maior parte do tempo escrevendo, trancada em seu quarto, ou ajudando as empregadas da casa. Odiava ficar sem fazer nada.
Geralmente ela mesma preparava as refeições, embora comesse muito pouco.

Não sentia fome. Não sentia nada.
Por fim, até as agressões verbais de Riordan foram se tornando só algo a mais na sua lista de desgostos.
Todos perceberam que estava tão apática. Tão solitária. Nem mesmo seus amigos de infância tinham acesso a ela...
Adora se fechou no próprio casulo.
E não sairia de lá tão fácil.

[...]

— Vamos receber uma velha amiga minha, e eu quero que você se comporte — Riordan disse, autoritário, naquela manhã de domingo.

— Eu sempre me comporto — Adora respondeu baixo, brincando com as fatias de melão no prato.

— Catherine é alguém importante para mim, Adora, e vai passar uma temporada aqui em casa.

— Não me importo, Riordan — ela suspirou. — Você traz quem você quiser. Não é como se eu mandasse em alguma coisa. Vou receber bem a sua amiga, ser cordial com ela. Mas espero que tenha a decência de não chamar a atenção em suas escapadas com essa amiga.

Adora pressentiu o perigo quando ele se levantou, depois de jogar os talheres na mesa. Veio como um furacão para o seu lado, e só pôde fechar os olhos, esperando pelo primeiro tapa, que não veio.
Em vez disso, Riordan segurou seu rosto com força, virando sua cabeça na direção dele. Seus olhos verdes prenderam os seus. Nublados de raiva, e talvez, talvez, algum sofrimento.

— Eu procuro em outras o calor que você me nega como esposa, Adora — seus longos dedos apertavam as bochechas pálidas, e isso doía, mas ela sustentou o olhar. — Você passa por essa humilhação porque não é uma boa mulher. Todas elas são melhores do que você.

— Eu não tenho condições de te dar um filho, Riordan — com dificuldade ela desviou do seu aperto. — Eu... eu não posso.

— Você pode sim, Adora. Você me nega por capricho. Mas eu não vou ser paciente pra sempre. Você me pertence, jamais se esqueça disso. E eu posso te tomar quando eu quiser.

Ele saiu tempestuosamente da sala de jantar, a deixando pra trás com um aperto horrível no peito, e o corpo pulsando em repulsa.
Adora tinha ciência do que aquelas palavras significavam. Ele lhe faria um filho.

Quer fosse à força ou não.

Adora teve um dia péssimo e a noite pior ainda. Não conseguira dormir muito, e qualquer barulho a fazia pensar que Riordan estava entrando no seu quarto para cumprir a ameaça. Chorou quantas lágrimas pôde, se sentindo pior do que jamais imaginara.
Era o seu inferno pessoal, e talvez o merecesse.

Na manhã de terça-feira, ela e Riordan aguardavam a amiga dele na porta da mansão. As marcas da agressão dele no domingo não eram mais visíveis em seu rosto, graças à ajuda da governanta, Madame Razz. Ela não fizera perguntas ou comentários, apenas lhe ensinou truques práticos pra sumir com hematomas.

Talvez ela pressentisse que Adora precisaria daquilo mais vezes.

Quando o Cadillac Eldorado preto parou perto dos jardins, e a mulher desceu do carro, a loira mal acreditou no que seus olhos viam.
Afinal Catherine não era nada do que tinha imaginado previamente. Não se vestia de forma pomposa, como as outras mulheres de sua posição social. Nem mesmo usava vestido — não era tão incomum, mas sendo uma viúva se esperava que ela usasse um.
Catherine Applesauce usava calças marrons com suspensórios pretos e camisa branca. O óculos de sol repousava no topo da cabeça, entre os cachos escuros do seu cabelo curto.
Ela tinha olhos de cores diferentes, um azul e outro cor de mel, como um gato. Contrastava lindamente com sua pele escura.

Adora ofegou, porque, por cima do ombro de Riordan, Catherine a olhava com tanta intensidade quanto.
E nunca, em toda a sua vida, Adora sentiu aquela sensação de formigamento nos dedos. Suas pernas pareciam gelatina.

Mal sabia que a outra sentira a mesma coisa, e que já sabia bem o que tudo aquilo significava.

°·..·°¯°·..· 🌈 ·..·°¯°·.·°

→ Euphoria se passa na década de 60, onde "ser homossexual" ainda era punível;
→ A fanfic vai ter 3 capítulos;
→ É baseada nas músicas “Conversa de Botas Batidas” — Los Hermanos e “Euphoria” — BTS;
→ Não prometo final feliz.

• ••'º'•» єυρнοяια «•'º'•• • Onde histórias criam vida. Descubra agora