O ano era 1960. Adora era uma mulher casada. Não amava o seu marido - na verdade nunca quis realmente se casar com ele -, mas era obrigada a suportar o seu casamento, uma vez que não tinha a quem recorrer. Seus pais estavam mortos, seu irmão e seus...
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— Você está apaixonada.
Catherine levantou a cabeça pra encarar o melhor amigo nos olhos. Jacob Noah, Double Trouble ou apenas DT, era a única pessoa que ela confiava até a vida, se fosse preciso. E naqueles tempos difíceis ERA preciso. DT não se considerava nem homem, nem mulher, então não se importava de ser chamado(a) de qualquer um dos dois pronomes. Tinha olhos verdes vívidos, sempre curiosos ou aparentando esconder algo. Os cabelos loiros nunca estavam do mesmo jeito cada vez que se encontravam.
— Eu não estou apaixonada, DT — teimou a mulher, embora o bolo no seu estômago indicasse o contrário.
Por Deus... de todas as mulheres... com tantos rostos por aí... por que tinha que se apaixonar justo por ela? Choramingou, escondendo o rosto com as mãos.
— Sim, você está, querida — a risada gostosa de DT soou animada. — Seus olhos brilham toda vez que fala dela...
— Ela é casada, DT... com um homem... isso jamais daria certo.
Por fim, Catherine deu um suspiro resignado, pagou sua conta e saiu do bar daquele hotel, cuja gerência era exclusiva de DT, e todas as pessoas não-aceitas pela sociedade podiam ser elas mesmas ali dentro. Homossexuais, pessoas transgênero, entre tantas outras que precisavam se esconder, eram acolhidas ali.
Ela chegou na mansão Prime depois de alguns minutos de caminhada, e logo que entrou no hall, escutou uma suave melodia vinda do salão de festa. Conhecia o soneto, mas estranhou que estivesse sendo tocado naquela casa. Riordan odiava pianos, afinal seu pai era pianista, e o obrigara a aprender como tocar o instrumento contra a sua vontade. Sabia que tinham um piano na casa, mas achava que era meramente de enfeite.
Seguiu o som e se deparou com Adora, em toda graça e beleza, sentada na banqueta, enquanto seus dedos longos e delicados deslizavam pelas teclas. Mulheres em geral sempre atraíram Catherine, mas uma mulher que tocasse Mozart com tanta paixão... era pedir demais que não se apaixonasse ainda mais...
Não fazia nem um mês que estava ali com eles, mas Adora lhe chamou a atenção no primeiro momento. Foi instantâneo. Seus grandes olhos azuis que a observaram com curiosidade e fascínio, seu cabelo dourado, cuidadosamente penteado e preso em um rabo de cavalo alto e firme, adicionando o topete da moda... Talvez o vestido rosado a fizesse ficar tão adorável quanto o seu nome, realmente a mulher não poderia dizer o que mais a fascinou em Adora naquele dia.
Quando a música acabou, e a loira soltou um longo suspiro, Catherine começou a bater palmas, se aproximando dela a passos lentos.
— Mozart, Piano Sonata nº 16 — disse, com um sorriso. — Você tem um bom gosto.
Percebeu o rubor subir nas maçãs pálidas do rosto de Adora, e ela sorrir timidamente. Seus olhos azuis sempre estavam baixos, mas dessa vez não. Dessa vez ela a encarava de volta.
