Capítulo 3_Má Sorte II

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     Welty estava parado num canto da sala circular. O anjo se aproximou de Tkal sentada numa cadeira de costas para ele, espiando pelos lados viu a mesa de xadrez entre ela e o demônio. Eles estavam jogando desde o dia anterior sem parar para comer, dormir, ou se quer se levantar, não que precisassem...

    A partida era silenciosa, onde ambos olhavam fixamente para o jogo sem desviar um único minuto sequer. Era melhor não interromper mesmo que aquilo durasse por mais um dia:

     — Hum... Valt?

     — ...?

     — É sua vez de jogar, lembra?

     — Não me apresse... — O demônio analisou as peças meticulosamente antes de continuar. — ...não irei permitir que ganhe tão facilmente.

     — Claro que não... — Tkal deu um sorrisinho e colocou as mãos uma em cima da outra paciente.

     Quanto mais Valt aceitava as revanches contra ela mais eles ficavam empacados naquela sala. Agora que não era mais um jogo de xadrez comum e sim um jogo de promessas, a concentração de ambos estava muito maior, mais que o normal. Welty sabia bem disso, quando se tratava de desafiar um ao outro nada os fazia parar... e normalmente os pedidos envolviam algo humilhante:

     — Eu não sei como aguentam jogar por tanto tempo... — murmurou baixo enquanto limpava uma pilha de livros com um pano, apoiados numa mesa pequena.

    — Shhhh... — Tkal o repreendeu sorrindo. — Ele precisa de total concentração para me vencer, não é Valt? Valt???

     O demônio contraiu a testa irritado antes de voltar a focar no jogo, estava prestes a calcular sua próxima jogada quando uma batida na porta ecoou na sala inteira, batidas frenéticas e rigorosas. Welty olhou desconfiado para a porta antes de voar até ela e atender, o anjo olhou para baixo. Edie e Kia estavam paradas ali:

     — O quê... como entraram aqui? ­— Welty baixou o tom de voz.

     — ...bem, pela porta... tipo.... ela tava aberta? — Edie falou enquanto se balançava nervosamente de um lado para o outro.

     — Aberta? Não me lembro de tê-la deixado aberta, na verdade eu nunca a deixo aberta — questionou inquieto.

     — Deixe-as entrar Welty — Tkal falou do fundo da sala sem se virar.

     Assim que ambas se aproximaram do altar, Valt levantou o rosto e fixou o olhar em Edie parada a porta. Observou sua cara extremamente inchada por alguns minutos e um novo pensamento o distraiu do jogo:

    — A sorte de ambas está prestes a mudar, após milênios sem uma partida, estou a uma jogada de ver o demônio perder novamente.

    Edie e Kia se aproximaram de Tkal subindo as escadas e espiaram o tabuleiro na mesa:

     — Na verdade... eu não entendo nada de xadrez, você entende Kia?

     — Hm.... é legal.

     — Você é estranha... muito.... estranha..... — Ela tentou fazer uma careta, mas o rosto doía até mesmo para mexer as bochechas.

     — O que as trouxe aqui novamente, mais uma pergunta interessante? Ou mera visita? Há já sei! Você veio me contar sobre o oito que ganhou? — Tkal falou sem desviar os olhos das peças.

     — Nã... como você sabe disso??? — Edie olhou abismada para Tkal.

     — Edie... vamos ao ponto. — Kia a cutucou no braço com o cotovelo.

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