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    O borbulhar de lava corroendo as pedras era alto e gritante. As cavernas subterrâneas estavam silenciosas, a não ser pelo barulho anterior que não cessava em hipótese alguma. O local era iluminado por um intenso facho de luz avermelhada que entrava por um enorme buraco ao teto, a luz do inferno.

     Assim passavam-se as horas inúteis naquele lugar, até que duas vozes romperam o silêncio:

     — Esse lugar tá todo ferrado, o que cê quer aqui?

     — Feche a boca e continue andando...mais que porcaria! Onde aquele cretino está! — Nevra olhou ao redor mais furiosa do que nunca.

     Se passaram dias desde que tinham sido expulsos da superfície, além de que Sílbe tinha simplesmente desaparecido. Nevra e Maick pouco se importaram a princípio, estavam acabados e humilhados, e ignoraram o fato de um buraco enorme ter sido aberto no centro do pátio da muralha. Finalmente eles tinham descido até ali em baixo para vasculhar o local. O buraco estava se fechando sozinho, como se o chão se regenerasse e o ambiente estava mais quente do já jamais estivera antes. Havia sangue, restos de tentáculos decepados e pedras destruídas para todos os lados:

     — Eu aposto que ele morreu... — Maick cuspiu no chão indiferente, o dejeto imediatamente evaporou quando encostou-se à superfície de uma pedra extremamente quente.

     Era a primeira vez que descia até aquele pátio subterrâneo e cheio e lava, mas ele não deu a mínima para a novidade:

     — É bom para ele que esteja, assim não vai ter que lidar com o fato de ser um fracassado completo! — Nevra sorriu ao falar, a ideia de tê-lo morto a agradou, agora ela podia tomar posse da muralha sem que nenhum obstáculo a atrapalhasse.

     Estava se deliciando com a ideia quando o chão deu uma leve tremida:

     — ...

     — ...o que raios está causando isso?! Como eu odeio esse lugar! — ralhou encarando o teto.

     — Sei lá...

     Os dois olharam atentos para uma rachadura que tinha acabado de se abrir no chão bem em baixo de seus pés. Ambos se afastaram abruptamente quando ela se expandiu pelo piso de pedra e começou a separá-lo, o tremor cessou de repente deixando apenas uma nova e longa abertura no chão. Nevra e Maick se aproximaram curiosos para olhar dentro da fenda, mas logo recuaram quando um jato de lava foi expelido para fora numa velocidade impressionante. A lava voou pelo teto grande da caverna e desceu como chuva em cima dos dois demônios:

     — AH! MEU CABELO! MAIS QUE DROGA! — Nevra protegeu a cabeça com as mãos quando o líquido quente começou a atingi-los, seus cabelos já haviam sido picotados, não precisava de mais aquilo.

     — Arg... como cê é fresca, é só lava... — Maick se manteve parado e sem expressão, a lava bateu nas costas de sua mão provocando uma queimadura feia, mas o demônio não demonstrou nem um tipo de dor ou preocupação, estava começando a se acostumar com as pancadas investidas contra ele a todo momento.

    — Cale a boca! Aposto que aquele idiota derreteu nessa...

     Um movimento repentino fez com que os dois encarassem a rachadura novamente. Uma mão cheia de garras pontiagudas e sujas surgiu de dentro do buraco se cravando no chão com força, seguida de outra, até que uma figura se içou para fora da fenda bruscamente. O ser estava terrível em todos os sentidos, o rosto e chifres estavam corroídos por queimaduras que o desfiguravam a tal ponto de se tornar irreconhecível, o próprio sangue escorria de seu rosto e sujava todas as partes de seu corpo, as roupas estavam chamuscadas, a pele das mãos enrugadas e os olhos completamente vermelhos de sangue. A figura se arrastou pelo chão até se apoiar sobre um dos joelhos e finalmente seu olhar maquiavélico se voltou para Nevra e Maick, suas pupilas vermelhas se cravaram nos dois:

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