Take 02

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-Esperem aqui, Carmem já notificou os seus pais, eles já devem estar vindo. - Cesar diz assim que entramos na sala.
-O meu pai não vem. - Comunico me sentando no grande sofá estofado e pondo meus pés na mesa de centro. O lado esquerdo do meu rosto arde, mas não quero massageá-lo na frente dessa...
-É o que veremos Júlio. Nem preciso dizer o quanto estou decepcionado, com vocês dois - sua testa franzida me faz rir. Maria Antônia que se escora na parede do outro lado da sala, carrancuda como sempre. - Tenho que resolver outro assunto, fiquem aqui e, por favor, não se matem até eu voltar.

A encaro novamente quando ouço a porta bater, ela tem os olhos fixos na janela.

-Agora vai ficar calada? - Provoco-a.

-Você devia tentar isso de vez em quando, sua voz fina faz minha cabeça doer. - Retruca.

- Não vai nem me contar o porquê de eu ter levado aquele soco? - ela solta uma risada, parece mais que se engasgou.

- Margo é a minha melhor amiga. O que você fez com ela foi humilhan..

- Não. - Interrompo-a. - Isso eu já sei. O que eu quero dizer é que, se a Margo se sentiu humilhada, porque foi você quem veio tomar as dores?

- Tá de brincadeira? - Finalmente me olha nos olhos - Ela está arrasada, e é isso que um amigo faz pelo outro.

- Que bonito que você cuida dela, de verdade, mas o engraçado é que ela nem estava na cantina, e nem veio te procurar até agora..
-O que você sabe sobre amigos? Os seus nem se deram o trabalho de te ajudar a levantar.

- Maria? - um casal entra apressado, a mulher usa dreads acobreados e um vestido no pé, já o homem, gorducho, uma jaqueta de couro e um jeans surrado. Eles abraçam Maria Antônia como um tesouro, e presumo que sejam seus pais.

-Esse é o cara que você bateu? - O homem aponta para mim, e ela faz que sim revirando os olhos. - Me desculpe meu rapaz, minha filha tem um gancho de esquerda muito bom.

-Nem me fale- sorriso para ele que retribui. Ao contrário da filha, ele parece descente.

-Paulo, Agostina - Cesar cumprimenta o casal, se sentando em seu trono. -Imagino que Carmem já tenha colocado vocês a par.

-Sentimos muito pelo acontecido. - A mulher se desculpa.

-Infelizmente um pedido de desculpa não pode reverter a situação. Serei obrigada a aplicar um castigo.

-Okay. Não me importa. Mas eu imagino que esse verme também vai ser castigado. - Maria Antônia se manifesta.

-Claro. - Cesar afirma. -Apesar de o Dr. Guerra não poder comparecer - o olho vitorioso - acabo de falar com ele, que me deu total liberdade para aplicar o castigo que eu melhor achar.

-Falou com o meu pai? - pergunto.
-Mesmo que as coisas não se resolvam com força bruta, você usou da imagem de uma colega para denegri-la, e seu pai como advogado sabe disso. - O que me surpreende não é o castigo, mas o fato de meu pai não me atender a semanas.

-E do que se trataria o castigo? - Paulo questiona.

-Vocês estão responsáveis pela faxina do nosso anfiteatro.

-Aquele mesmo que desmoronou? - Rio abafado

- A equipe de obra já está finalizando, vocês só vão ter que lidar com o teto descoberto até o final da semana.
-Vai ser só isso? Não vai dar nenhum castigo mais severo pra ele? -Maria aponta para mim, com desdém.
-É lógico que o que Júlio fez foi detestável, no entanto sua atitude deixou a desejar. Esse castigo tem como finalidade estimular a boa convivência e melhorar a relação de vocês.

- Eu acho ótimo, vai ser uma experiência enriquecedora - Agostina se levanta batendo palmas, o sotaque argentino me deixa irritado.

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- Eu achei que você nem ia levantar depois daquele soco - Lucas olha a vitrine de aparelhos a sua frente.

-Pra ser sincero, também não, ah, vou levar esse aqui. - Aponto para um celular de última geração, depois que a sardenta quebrou o meu, preciso de outro. A moça me acompanha até o caixa. Estendo o cartão para ela, sem nem olhar o valor e digito rapidamente a senha. -Vou aproveitar esse castigo pra infernizar a vida daquele projeto de imigrante.

-Você sabe o que significa essa palavra? - Lucas ri.

-Rapaz- a moça me chama - O cartão não passou.
- Deve estar tendo algum engano, pode tentar de novo? - repetimos o procedimento, mas também deu erro. - Só um minuto. Me empresta seu celular Lucas? - disco o número e me afasto. O telefone chama algumas vezes, até que finalmente sou atendido.
-Pai?
-Deixa eu adivinhar, o cartão não passou? - sua voz do outro lado da linha é firme, seguida de um silêncio que machuca.
-O senhor tem alguma coisa a ver com isso?
-Quem você acha que mandou cancelar os cartões?! Já está na hora de você aprender que as suas ações tem consequências, Júlio. Aproveite esse tempo e tente não envergonhar mais o nome da família, tenho uma reputação a zelar. - Ouço-o desligar. Minha vontade é de quebrar algo.

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