Parte 3 - O interrogatório na delegacia

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PAI ON


Eu entro na viatura, e o policial liga o motor. A aurora aparece, em meio ao céu cheio de estrelas, que logo perdem o brilho à medida que o Sol se torna mais aparente. Meu filho dorme com a sua cabeça deitada em meu ombro, segurando o meu braço, ele ainda deve estar com sono. Eu olho para o retrovisor do carro, meus olhos se encontram com o policial sentado no banco de passageiro, ódio em seus olhos, ele logo desvia o olhar. O silêncio é avassalador. Tudo o que eu consigo ouvir é a respiração do meu filho adormecido, e ocasionalmente alguns sussurros trocados entre os policiais. Depois dos poucos minutos que mais pareciam uma eternidade, chegamos à delegacia.

A sala é pequena, vagamente iluminada. Eu sinto um aroma de café amargo e de fumaça. O policial me oferece um copo, mas eu recuso. Eu arrepio, a sala está fria, abraço o meu corpo para me aquecer.

"Qual é o problema?" ele pergunta. "Tá com medo? Hm, deveria estar mesmo. Você tem ideia do que fazem com caras como você na cadeia?"

"Isso é absurdo!" Eu digo. Caras como eu? "Eu nada fiz de errado!"

Um outro policial se aproxima, deve ser outro tira corrupto. "Por que você não colabora e não nos diz a verdade?" ele continua. "Só nos conte o que nós já sabemos e deixamos você voltar pra casa."

"Eu já disse, nada fiz de errado." eu repito. "Quero conversar com um advogado."

O policial levanta da mesa, ergue sua cabeça, seus olhos me devorando. "Se você não fez nada de errado, então você não precisa ter medo de nada, não é mesmo? Nos conte tudo, não esconda nada. Você não vai querer um advogado pra entrar no meio disso."

Ele abre suas mãos como se estivesse querendo dizer, 'Não está vendo que isso faz sentido?'

"Eu quero um advogado."

"Então você vai me explicar, por que tinha um menino seminu em sua cama?"

"Eu já te disse: Ele é o meu filho. Ele teve um pesadelo, ele estava com medo." Eu olho para o policial, com meu cenho franzido. O olho dele cintilava, friamente, e eu pude notar um pequeno sorriso no canto da sua boca.

"De qualquer forma." Ele disse. "Você vai nos dizer a verdade, mais cedo ou mais tarde."

O outro policial senta na cadeira e olha pra mim, com o mesmo brilho nos olhos.

"O seu filho já nos contou tudo."

"Tudo sobre o que?" Do que ele está falando?

"Tudinho."  O policial sorri. "Ele nos contou tudinho."


Fim da InocênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora