I. A Queda dos Selvagens

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Nota: Se, porventura, enquanto mergulhava nas páginas do Prólogo, tivera a ilusão de se aventurar por mares salgados e epopeias marinhas, permita-me dissuadi-lo de tal engano. Piratas não serão o foco principal desta narrativa. Pelo menos não nesta trama.


[Impell - Mar do Oeste]
[Reino de Bhallurn]

— Abram os portões! Que adentrem nossos guerreiros, os heróis de nosso povo! — bradou o Rei Bhallurn, O Primeiro de Seu Nome, levantando-se de seu trono com fervor, respondendo à convocação de seu porta-voz que anunciara a chegada do exército ananico no salão. A ânsia do rei para encontrar seus valentes combatentes parecia prestes a transbordar de seu corpo.

A coroa de ouro rosado, incrustada com joias, repousava majestosamente em sua cabeça, irradiando seu brilho característico. Seus cabelos ruivos eram como o pôr do sol em chamas, e a barba exuberante exibia tons de laranja e grisalho, em listras, assemelhando-se à pelagem de uma zebra. Seus olhos, em tons de mel, refletiam a alegria da vitória iminente. Vestido em trajes dourados e rosados, uma capa escarlate que se estendia ao chão, presa por broches de rubi, conferia ao rei uma imponência sem igual. Em seu rosto, carregava a força e a sabedoria de um líder nato, cujo olhar expressava a determinação de um monarca em busca do bem-estar de seu povo acima de tudo.

Bhallurn era venerado por seu povo como um verdadeiro patriarca, um rei que transcendeu o posto de governante para assumir o papel de um grande pai. Os ananicos encontravam nele a personificação do que um líder deveria ser: alguém que se importava com cada indivíduo, com todas as causas e anseios daqueles sob seu domínio. Mesmo nos tempos mais difíceis, enfrentando guerras e pragas que ameaçavam as fundações do reino, Bhallurn demonstrava uma determinação inabalável, mantendo seu reino coeso como o mais resistente dos escudos. Sua estatura podia até ser pequena, mas tamanha era a sua presença, e seu reinado deixava uma marca indelével na história de seu reino.

Ao lado dele, assentada em seu trono, estava a rainha, Hildruna Pywdravirr. Seus olhos cinzentos, cabelos escuros e coroa prateada cravejada de rubis refletiam a força e a beleza que emanavam dela. Vestia uma pele luxuosa de coelho-do-monte, habilmente trabalhada para recair graciosamente sobre seus ombros. Correntes de prata reluziam, presas sob presilhas esmeraldas de trevo de quatro folhas, símbolo de Moddest, sua cidade natal. Seu manto, tão escarlate quanto o rubro fogo mais vivo, derramava-se ao chão, exibindo em um lado um tom rosado cintilante e, do outro, um carmim rico e intenso. As joias que a adornavam eram de valor inestimável — colares exuberantes, braceletes delicados e anéis resplandecentes.

Era noite, e a brisa soprava suavemente no cume do Monte Aedlin, atravessando pelas grandes janelas e acariciando o salão do trono com um toque refrescante. O firmamento se estendia acima, pacífico e sereno, desprovido de nuvens que pudessem obscurecer a visão das estrelas. Não havia chuva nem neve. Não havia tempestades. Não havia frio. O verão, intruso no mês de quadrante, estava em seu auge, e a noite estava abençoada com a presença do espetáculo celestial. A lua, como uma pérola divina suspensa no manto da abóbada noturna celeste, derramava sua luz prateada, e o céu, um vasto campo negro salpicado de estrelas, era como uma tapeçaria divina, onde cada ponto luminoso servia como testemunha reluzente convocada para apreciar a iminente e grandiosa celebração.

O salão do trono desdobrava sua magnificência, cercado por inúmeros pilares de mármore, intrincadamente adornados com traços dourados que reluziam sob a luz dos archotes. Arcos habilmente esculpidos, de curvas suaves e sinuosas, embelezavam o ambiente com sua elegância, e através do vidro translúcido da cúpula, a lua lançava seu brilho, que se fundia aos tons prateados e dourados do piso, onde um machado e uma picareta, entrelaçados e intricados, ocupavam o centro do local. Representavam o grande símbolo ananico, sempre bordado e cravejado como joias em seus emblemas, estandartes, armaduras e escudos, proclamando a todos, a força e maestria daquele povo.

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