II. Um Tributo Para o Rei

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A voz de Bhallurn percorreu cada centímetro do salão, eriçando os pelos das espinhas de cada um de seus súditos. Um silêncio denso permaneceu, como se até mesmo o próprio ambiente temesse perturbar a atmosfera carregada, e nenhum som se atreveu a rompê-lo.

— Céus, eu fiz uma pergunta! — A exigência do rei explodiu em um rugido que reverberou pelas paredes suntuosas, ecoando como o ribombar de um trovão rompendo os céus. Ansiava por um uma resposta. Seu olhar, que outrora encontravam-se fixos em Alson, agora varriam a multidão, como se pudesse sondar as profundezas das almas ali presentes.

Foi então que alguém, de maneira inesperada e ousadamente corajosa, resolveu se manifestar. Não era outro senão o próprio instigador de toda a situação. Não Alson, mas Clagrim Brahmör.

— Majestade... — a voz de Brahmör emergiu da multidão enquanto ele avançava para o epicentro, destacando-se como uma sombra escura contra o esplendor do salão real. Aproximou-se de Alson, ainda caído no chão, e lançou-lhe um olhar desdenhoso de cima. Em seguida, dirigiu-se ao soberano com uma inclinação respeitosa, embora um pigarreio nervoso precedesse suas palavras: — ...este homem celebra conosco a grande vitória de hoje. Contudo, questiono-me, quem é ele? Fio algum de nobreza é possível enxergar em seu rosto, logo, creio que não deveria estar aqui. Além disso, não satisfeito, ele ainda se intromete em nosso meio, como se tivesse o direito de se adiantar na fila que leva à presença de Vossa Graça. Quem ele pensa que é para tentar burlar a ordem estabelecida? Se acaso for alguém de suma importância, rogo pela sua infinita misericórdia, meu rei. No entanto, eu duvido que seja.

Burlar a fila? Isto é uma calúnia, pensou Alson.

— Eu não estava... — ele até tentou protestar, mas suas palavras foram bruscamente sufocadas pela voz autoritária de Clagrim.

— ...e ainda tenta contestar?! — exclamou Brahmör, para que todos ouvissem, angariando apoio ao seu redor como o líder de um bando. Seus olhos fitavam Alson como se ele fosse um cão sarnento.

Entretanto, quem justamente Brahmör imaginava que pudesse estar ao seu lado, revelou-se corajosa o suficiente na frente de todos. E não foi para apoia-lo.

— Não é verdade. — A voz de Alila surgiu baixinho como uma flor desabrochando, suave, mas o suficiente para atrair olhares na multidão.

Ao reunir coragem, mantendo os olhos fechados enquanto falava, Alila não havia antecipado a atenção que viria sobre ela. Quando os súditos se voltaram e abriram caminho, dirigindo o olhar do rei para ela, Alila corou.

Clagrim Brahmör voltou-se para sua esposa, as sobrancelhas espessas franzidas em irritação.

Ela está contradizendo-o, bem diante de todos. Na frente do rei, Alson mal podia acreditar. E tudo isso para me defender... para proteger uma mentira tecida por Relson e que eu consenti.

— Que diabos pensa que está fazendo? — Clagrim aproximou-se de Alila, segurando-a firmemente pelo braço e mergulhando seu olhar profundo e irado nos olhos dela, que brilhavam em suas cores distintas. Seus dedos voltaram a marcar a pele clara e delicada de sua esposa. Porém, ele prontamente a soltou ao ouvir a voz do rei.

— Solte-a! — ordenou Bhallurn, o único no mundo com a autoridade de emitir tal comando para Brahmör quando se tratava de sua esposa. Quando o pequeno lorde Zawric entregou sua filha para casar-se com Clagrim, sabia que, a partir daquele dia, nenhuma ordem que desse à Alila seria superior à do marido dela. Era assim que funcionava, sempre foi assim para os ananicos. No entanto, quando se tratava do rei... de bom grado, Bhallurn poderia até mesmo tomar Alila para si se assim desejasse. Clagrim obedeceu, e Alila estava livre. O rei a interpelou então: — Mulher, viu o que aconteceu? — Bhallurn e Alila tinham a mesma estatura, mas perante a ananica, Sua Majestade parecia ser muito, muito maior. Alila tremia internamente, seu estômago num vórtice de ansiedade. Apenas confirmou com um meneio de cabeça, uma gota de suor escorrendo nervosamente fria pela sua testa. Bhallurn então a instruiu: — Vamos, diga-me agora. Conte para o seu rei.

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