O vento castigava o delicado rosto de Adora. Envolvendo seus braços ao redor do tórax de Catra, a loira sentia seu coração explodir em pura adrenalina. A moto na qual se encontravam acaba de superar os 100 km/h, e a cada segundo ela se locomovia mais e mais rápido, quase voando sobre a pista totalmente deserta onde dirigiam. As gotículas de chuva que agora caíam, combinadas com a alta velocidade, funcionavam como pequenas agulhas que penetravam na pele de ambas as jovens; Porém, Catra se mostrava indiferente.E, para si, aquilo servia até mesmo como um alívio. Aquele insignificante desconforto não se comparava à dor em seu peito; Aquela era uma dor diferente, e, em sua opinião, mil vezes pior. Em uma dor externa, você chora, aplica um curativo no local prejudicado, e espera passar. E uma hora, ela passa.
Porém, na dor interna, não há curativos; Não há lágrimas que aliviam, e muito menos o remédio do tempo. Nessa dor, o tempo necrosa, machuca e te consome por dentro. Essa intensa pressão em seu peito nunca vai embora, não importa se Catra derrame um rio de lágrimas, ou cubra seu corpo inteiro com bandagens; Aquele desconforto estava lá, não importa onde ela estivesse, o que ela fizesse, ou o que ela não fizesse. A dor sempre estava lá, como uma sombra que te acompanha até quando não há luz. E, para Catra, não há luz. Ela se dissipou na escuridão há bastante tempo; E a morena se pergunta se um dia a luz ao menos esteve lá.
Então, sim, aquelas pequenas agulhas de água serviam como um alívio.
- Catra! - Adora gritou, afundando seu rosto nas costas da morena, tentando se esconder da chuva - Vai devagar, porra!
Nenhuma resposta.
A mente da menor estava distante dali, mergulhada em memórias. Memórias empoeiradas, guardadas no fundo de sua mente, jogadas em qualquer canto da mesma. De alguma forma, essas lembraças pareciam sonhos; Daqueles onde você nunca realmente se lembra, mas sabe que eles estão ali. Catra torce o punho do guidão, aumentando ainda mais a velocidade. Mal se lembra da primeira vez que fez isso; Dirigir pelas estradas na maior velocidade possível. A sensação de terror e liberdade que afloram nesses momentos são, de fato, viciantes. A ideia de desafiar a morte é excitante, aos olhos da morena. Tão viva, mas a poucos passos de seu fim; Uma adrenalina que consome cada milímetro de seu corpo, consome sua voz e te desliga da realidade.
- PELOAMORDEDEUSCATRA!! - Gritou em horror, espremendo o corpo da jovem com uma força descomunal, por sorte não quebrando nenhuma das costelas de Catra.
E então, como um choque que percorre por todo o seu corpo, a morena pisa com todas as forças no pedal direito, acionando o freio traseiro e fazendo com que a moto derrapasse por aproximadamente duzentos metros.
Ambas as jovens se encontram estáticas, exceto pelo fato de arquejarem pela intensa falta de ar. Adora, em nenhum momento, deixou de abraçar o tórax de Catra, e agora a mesma tremia pelo frio e pelo excesso de adrenalina que percorria por seu corpo, enterrando sua face nas costas da morena. O pequeno chuvisco se tornou uma tempestade que castigava as duas pobres almas naquela pista deserta. Eram cerca de oito horas da noite, e o breu cobria todo aquele vasto ambiente, perdendo espaço apenas pela pequena lanterna do veículo.
Silêncio. Catra ainda se recuperava do choque. Aos poucos, seu coração voltava aos seus batimentos usuais, e sua respiração, tranquilizava-se. Moveu sua cabeça poucos centímetros para trás, se deparando com uma adora ainda agarrada ao seu corpo, totalmente trêmula e ofegegante, com a cabeça abaixada.
- 'Dora...
Imediatamente, seu corpo cessou a movimentação, agora totalmente imóvel. Nem o movimento de sua respiração era visível, se é que a mesma realmente estava respirando. De forma cautelosa, Adora retraiu seus braços, retirando-se da moto, sempre com a cabeça voltada ao solo.
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Amor e Outras Drogas - Catradora
Fanfiction" Experimentar algo proibido é emocionante, você não concorda? " Adora tem sua vida toda milimetricamente planejada; Ela se formará com excelentes notas, se casará e terá lindos filhos com seu futuro e perfeito marido. Porém, mal sabia ela que, ao s...