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Londres, 4 de setembro de 1914

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Londres, 4 de setembro de 1914


Londres estava cinzenta, como sempre. O sol não parecia gostar de aparições durante a partida de soldados em direção à guerra.

O mar de homens com cabelos bem aparados e uniformes verdes se contrastava com a multidão de damas com roupas claras e cabelos bem presos por chapéus e echarpes.

O clima mesclava entre beijos calorosos de despedida e lágrimas de esperança diante da perspectiva do reencontro.

Thomas me puxava de encontro ao seu corpo, com o rosto em meu pescoço e as mãos em minha cintura.

Não parecia querer me soltar, apesar do desejo enorme de participar daquela guerra absurda.

Nos últimos meses, o exército inglês parecia dedicar a maior parte de seu tempo convencendo nossos jovens a dar a vida por uma luta que não lhes pertencia.

Enquanto os civis explodiam aos bombardeios, reis, nobres, magistrados e coronéis mandavam-nos, de dentro de seus gabinetes repletos de charutos e refeições requintadas, rumo à morte nos frontes.

Em todos os lugares da cidade estavam espalhados cartazes clamando amor à pátria e à hombridade, à coragem para honrar suas mulheres e crianças diante da ameaça inimiga.

E eles acreditavam. Assim como Thomas, outros milhares de jovens partiam de suas casas diariamente em prol de uma disputa de poder que não os envolvia.

Mas depois de viver 5 anos casada com Thomas, depois de presenciar suas partidas e chegadas de outras batalhas, eu sabia bem o suficiente que não adiantava insistir, implorar para que ficasse. Ele ainda assim acataria aos gritos por sangue dos companheiros de batalha.

O trem apitou, indicando sua partida iminente.

–Eu vou voltar, como sempre voltei. Você sabe disso, certo? –meu marido indagou, enquanto segurava meu rosto com ambas as mãos.

–Você não teria a audácia de fazer o contrário. Sabe que eu e sua mãe seríamos capaz de ir buscá-lo no fronte caso não retornasse com seu batalhão. –eu respondi sorrindo, buscando amenizar a sensação angustiante da despedida.

Com os abios trêmulos, Thomas deposita um beijo casto em minha testa e se vira em busca de seu assento no trem.

Observo os outros soldados, despedindo-se de noivas, filhos, gestantes.

Me identifico com as outras acompanhantes, com olhares desolados e corações aflitos.

Quando o trem emite o apito final de partida, corro até a janela de Thomas, puxando sua cabeça para fora por seus cabelos curtos e beijando-o com urgência nos lábios, buscando ignorar os assovios de seus companheiros de vagão.

Dou o meu máximo para decorar seu gosto e a sensação de seus lábios uma última vez, até que o trem acelera e sou obrigada a soltá-lo.

Capturo o beijo que ele me lança  enquanto acena e coloca o chapéu do uniforme na cabeça, afastando-se.

Com a visão embaçada, vejo-o cada vez mais distante e aperto mais fortemente a mão do beijo capturado junto ao meu peito, na tentativa falha de me convencer que ele estará de volta antes que eu perceba.

A guerra é traiçoeira.

Ela mata os que vão e atormenta que ficam.

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