Capítulo 5_A Dualidade dos Fatos

143 14 142
                                    

    Na manhã seguinte Edie e Kia acordaram exaustas, como a casa de ambas ficavam próximas ao local onde ocorrera o incêndio, Lirahy as tinha convidado para passarem a noite na casa dela, na verdade elas não tinham muita escolha, até aquele momento o cheiro de fumaça invadia o ambiente. As duas tinham se encolhido uma em cada canto do sofá que ficava na sala de Lirahy, ela até tinha achado um cobertor para as duas, tinha sido bastante prestativa em relação a isso.

     A casa de Lirahy era simples, sendo uma construção de madeira e telhas de dois andares, apenas com dois quartos que ficavam no segundo piso, uma sala com tapete e lareira cuja chaminé se via do lado de fora, uma cozinha e um quintal bem grande rodeado por árvores, as mesmas levavam ao bosque fora dos arredores da montanha onde jazia a vila, o local era plano e sem subidas, diferente do vilarejo. Era um ponto mais afastado das outras casas, calmo e silencioso, a não ser por um ou outro coelho pulando entre os arbustos.

     A irmã de Lirahy, Árabel as tinha recebido muito bem. Ela também era uma demônio assim como a irmã mais nova. Árabel era jovem e bonita, seus cabelos castanhos escuros longos e ondulados a diferenciavam de qualquer aldeão que Edie e Kia já haviam visto na vila. Possuía olhos finos e verdes, pele parda e usava um vestido branco e verde claro caindo nas canelas junto com botas marrons grossas. Os chifres eram de um azul fosco, tinham a mesma curvatura dos da irmã com a exceção de serem bem maiores. A demônio trocava comida por coisas valiosas, essas tais coisas ficavam apenas a conhecimento dela e da irmã sendo mistério para aqueles que não compactuavam com o prazer de comer. Salve algumas exceções, a demônio deixava Lirahy oferecer seus doces de graça para amigos próximos.

     Já Lirahy possuía apenas algumas características da irmã, era mais magra e um pouco maior que as outras garotas, os cabelos eram longos, porém lisos e mais claros, os olhos eram totalmente escuros, caídos e tímidos, a pele era mais clara e os chifres azuis eram muito mais escuros que os da outra. Lirahy também tentava copiar um pouco do visual arrumado da irmã, ela usava botas marrons menores, um vestido de inverno xadrez em tons azuis que ia até os joelhos, além de um colar com uma pedra azul pendurada e que quase nunca o retirava do pescoço... requintada demais para Edie que sempre andava descabelada.

     O contraste de seu visual era visível quando ela andava com a amiga Moly de cabelos roxos chamativos, presos num rabo de cavalo alto que descia até suas asas. A anjo sempre usava um cachecol branco inseparável, um vestido roxo claro e bufante ia até as canelas, além de ser aberto nas costas deixando suas asas à mostra. Calçava sempre sapatilhas pretas de fivela. A auréola flutuava na cabeça reluzindo o roxo forte dos cabelos, era pálida demais para um anjo e um pouquinho menor que as outras, tinha o rosto rechonchudo e arredondado, os olhos eram lilases e quase sempre ficavam cerrados numa expressão de tédio e monotonia, além de lamber os beiços sempre que alguém falava em comida, seu assunto preferido. Isso de certo modo explicava sua amizade com Lirahy.

     As quatro estavam sentadas em volta de uma mesa de madeira tomando café e comendo fatias de uma torta de maçã recém assada, quando a porta da frente se abriu. Árabel entrou carregando um cesto coberto por um pano xadrez e vestindo um capuz simples. Ela havia deixado às garotas em casa enquanto ia até a vila a procura de notícias sobre o incêndio além de entregar umas encomendas de doces em algumas casas, sendo esse, seu trabalho:

    — Trago péssimas notícias meninas, a escola de vocês foi completamente incinerada, portanto as aulas estão suspensas por hora, felizmente ninguém se machucou...

     — Jura??? É bom demais pra ser verdade... — Um sorriso se abriu no rosto de Edie ao ouvir a notícia.

     — Como é? — Kia estreitou os olhos para ela séria.

     — É... digo.... é ruim de mais pra ser verdade... — Edie fingiu uma cara triste.

     — Infelizmente as ruas em volta foram seriamente danificadas e estão interditadas a pedido da própria Tkal, sua casa não fica por lá Edie? Acho que não vai conseguir passar até ela, bem... podem ficar aqui o tempo que precisarem. — Árabel colocou o cesto em cima da mesa conforme contava.

     Edie quase cuspiu o café ao ouvir a notícia, ela se obrigou a engolir o resto da bebida de uma vez só e limpou a boca melada tentando manter a calma:

     — Você está bem?— Lirahy perguntou assustada com a careta dela.

     — Que pergunta idiota ela acabou de virar uma sem teto...  Moly resmungou ao lado dela.

     — Sinto muito...

     Edie cutucou o arranhão cicatrizado sobre a bochecha:

     — Não sinta! Eu sou uma azarada! Aquela coisa não era gigante daquele jeito quando me atacou e ela ainda ganhou um bônus de queimar tudo, que apelação, você concorda Kia?

     — Sim... acho — confirmou baixo.

     — Oh, não fale assim, vocês foram sortudas e corajosas ao saírem da escola em chamas sem nenhuma queimadura, felizmente nada de mal aconteceu — Árabel comentou.

     — Doidas... — Moly murmurou com um sorrisinho traiçoeiro no rosto.

     — Ah Moly, você ficou lá para me ajudar mesmo sobre as chamas... — Lirahy pigarreou.

     — Sim, quem vai me dar tortas de graça se tu morrer? — questionou com um tom de desespero na voz.

     As outras riram, Moly suspirou com indiferença:

     — Estou falando sério...

     — Obrigada por deixar a Kia e eu dormir aqui, mas precisamos ir agora... — Edie levantou da cadeira se espreguiçando e chamando Kia com um gesto de cabeça.

     — Não precisa agradecer. — Árabeu sorriu contente.

     — Mas aonde vocês vão? — Lirahy observou Edie e Kia andarem apressadas até a porta.

     — Eu e Kia vamos contar a Tkal o que aconteceu... eu preciso avisar que aquele monstro gigante foi quem me atacou na noite passada!

     Sem olhar para trás as duas saíram fechando a porta com um baque:

     — Isso tudo soa peculiar. — Árabel se virou para Lirahy e Moly. — Faz tempo que não vejo um acontecimento tão estranho..., não desde que eu morava no submundo.... — murmurou distraidamente.

     — Submundo? O que é isso? — Moly ergueu uma sobrancelha.

     — Não vou explicar uma coisa tão complexa para vocês, agora tenho muito que fazer. Por que vocês duas não vão brincar um pouco no quintal? — Ela deu um sorriso calmo.

     — Não quer ajuda? — Lirahy já estava acostumada a ajudar a irmã no preparo das comidas.

     — É podemos beliscar... digo ajudar... — Moly soltou começando a se alegrar.

     Árabel sorriu para as duas:

     — Obrigado por se oferecerem, estou precisando de alguém para lavar a louça...

     — Vamos brincar! — Moly soltou aborrecida já puxando Lirahy pelo braço.

     — Ãh? Mas Moly...

     Árabel deu uma leve risadinha quando ambas sumiram pela porta.

     Árabel deu uma leve risadinha quando ambas sumiram pela porta

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Belo JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora