20 anos atrás
Não sei há quanto tempo estou dentro desta sala com duas prateleiras e uma janela, ainda estou em pânico por ter visto meus pais cobertos por aqueles panos e sequer sei se poderei me despedir.
-Senhorita Cruz - O homem gordinho que deve estar na casa dos setenta que antes estava com os olhos fixos no processo com minha foto agora olha para mim - Sinto muito pelo que aconteceu, vi aqui que não tem familiares vivos e isso é realmente uma pena. Felizmente a Casa de la Reina tem um lugar para te receber e já mandaram um carro para te levar, alguma pergunta antes de partir?
Estou cheia de medo neste momento mas me recordo dos dias em que minha mãe me pedia para ter coragem para encarar o mundo caso algo acontecesse com ela e meu pai e eu não os tivesse mais por perto para me proteger. Então faço a única pergunta que me vem na mente:
-Poderei me despedir dos meus pais?
-É claro que sim minha querida, o carro te levará daqui para o cemitério e do cemitério irás para o orfanato - O senhor cujo nome desconheço se recosta na cadeira, que dá um chiado por causa do peso dele, e então suspira me encarando - Olha, daqui para frente deverás te virar e eu não posso dizer o que o futuro te reserva criança mas de algo sei, não será nada fácil. Boa sorte.
Com o fim do discurso dele me levanto e dou um sorriso antes de virar para ir embora. Não sei bem o que significa me virar sozinha mas essa frase me dá medo, como é que uma criança de dez anos vai se virar?? Eu acho que isso é coisa de adulto, só acho. Depois de uns minutinhos de caminhada chego ao carro e o motorista simpático me entrega uma mala e eu a reconheço logo, minha mãe comprou ela para mim no ano passado para que pudéssemos viajar e visitar os Estados Unidos mas isso não chegou a acontecer, vêem me lágrimas aos olhos mas limpo e encosto a cabeça do vidro do carro.
Não tardou nada e chegamos ao cemitério e ele me acompanhou até ao túmulo dos meus pais, me explicou que foram enterrados lado a lado e disse que eu poderia voltar sempre que tivesse vontade para os visitar, por fim me deixou sozinha e eu pude chorar. Eu, órfã de pai e mãe, nunca imaginei que uma coisa dessas podia acontecer comigo e cada vez mais minha nova realidade se torna assustadora, chorei mais um pouco e me levantei olhando uma última vez para a lápide com o nome dos dois e fui sem olhar para trás, afinal de contas estaria de volta logo. Talvez até me deixem voltar na próxima semana.
Quando cheguei no carro o motorista estava encostado no capô e digitava algo no celular, acho que sentiu a minha aproximação pois levantou logo os olhos para mim e sorriu.-E aí querida, podemos ir?
-Sim, muito obrigada por me trazer até aqui.
- Não foi nenhum esforço, tenho uma filha da tua idade, você tem dez nem? - Olha pelo retrovisor a espera da minha resposta e eu assinto - Então, ela gosta muito de dançar e diz que será bailarina ou coreógrafa ou os dois, é um pouco indecisa - Damos uma risada e ele continua - Mas eu queria que ela fosse uma dominadora de cobras.
-Cobras? Cobras não senhor, são assustadoras
-Quem disse? Elas são mansinhas, não fazem mal a ninguém.
-Fazem sim, são venenosas e dão mordidas terríveis e muito dolorosas
-E alguma já te mordeu? - Levanta uma sombrancelha e abre um sorriso- Eu não tenho medo delas.
- Nenhuma me mordeu, mas eu sei e só. E tenho pavor
-Então a conversa está encerrada senhorita - Fez uma pausa a espera que eu disse meu nome
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Imperatriz
AléatoireAndressa Cruz, dona de uma empresa de exportação de veículos de luxo e de jóias e uma das bilionárias mais jovens do mundo, é uma mulher decidida e totalmente independente e apesar de tudo o que deixa transparecer no mundo dos negócios por dentro é...