Capítulo 4

7 0 0
                                    

15 anos atrás

-Eu acho que prefiro as margaridas - Paola diz se sentado com as pernas dobradas e encosta a bochecha no joelho olhando para mim

-E eu já disse que as tulipas sempre serão as minhas preferidas - Faço o mesmo que ela fez e ficamos trocando olhares por alguns segundos, eu sei o que ela está a tentar fazer mas sinceramente já não precisa de tudo isso, hoje fazem 5 anos desde que cheguei á Casa de la Reina e sinceramente já nem dói tanto quanto doía antes, só me permitem fazer uma visita por ano ao túmulo dos meus pais e eu escolhi este dia pois foi o dia em que tudo aconteceu, quinze de agosto ficará para sempre marcado na minha memória. Acabo de voltar do cemitério e decidi ficar aqui no jardim antes de entrar e dormir um pouco, queria um pouco de paz mas tem sempre um insecto disposto a fazer barulho e o meu em particular tem nome e um sorriso de covinhas.

-Sabes que estou bem nem? - Dou um sorriso fraco e ela sorri de volta

-Sei que não estás bem pois não me mandaste "dar uma volta na esquina" e aliás, a Directora odeia esse tipo de expressão aqui dentro, como é que ainda não te colocaram de castigo??

-Querida eu sou a rainha do pedaço - Faço uma cara bem debochada e ela ergue uma sobrancelha - Ok! Eu tomo cuidado para não falar com ela por perto, agora sai daqui, preciso curtir a minha própria companhia.

-O que é isso menina? Nada de bad por hoje, o dia te faz lembrar de coisas tristes mas como tudo de ruim também tem o seu lado bom - Ela se levanta e fica de frente para mim, preciso mudar de posição para poder olhar para o rosto dela

- Está bem, e qual é a parte boa mesmo? - Paola rodopia e aponta para ela mesma como se fosse muito óbvio-  Ham isso! Eu pensei que fosse a parte ruim do dia - Solto uma gargalhada com a carreta de desilusão que ela faz e me levanto também.

- Da próxima pisa menos, agora chega de ofensas e vamos para a garagem que eu tenho uma surpresa para ti.

Fico meio desconfiada porque Paola é louca mas a sigo e quando chegamos lá vejo Enrico concertando alguma coisa dentro do motor da VW, quando ele escuta os nossos passos levanta a cabeça e sorri.

-Bom dia Enrico - Falamos em uníssono e com uma alegria notável na voz, não temos muito contacto com o mundo exterior só pela TV mas para uma mente curiosa uma tela não é suficiente e apesar dele ser novo já viajou por vários lugares aqui do México e também para os estados unidos, eu e Paola pretendemos fazer o mesmo quando sairmos daqui.

-Bom dia princesas, flores, moranguinhos - A cada "apelido carinhoso" que ele diz nós fazemos de contas que estamos a vomitar e depois gargalhando, ele sabe que não gostamos desse tipo de coisa e só faz isso para nos provocar. Enrico limpa as mãos com um pano que fora branco mas agora está meio cinzento, meio preto e senta num dos banquinhos que existem aqui na garagem, nós puxamos os nossos também e ficamos os três prontos para mais um dia de conversas e lições sobre mecânica -Como foi o vosso dia? Já almoçaram?- Fazemos que sim com a cabeça e ele aproveita a deixa para pegar a sacola que nem havia percebido que estava encostada na roda dianteira esquerda do carro - É uma pena para vocês, tenho aqui uma torta de morango e sumo de uva.

Tenho quase toda a certeza do mundo que minha barriga roncou logo que escutou essas palavras, não existe nada melhor que doces feitos com morango ou chocolate, eu simplesmente amo.

-Nós nunca negaríamos uma maravilha como essa Enrico, não seria justo com os morangos -Diz Paola

-Nem com o Pasteleiro que fez essa delícia - Continuo

ImperatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora