A Babá - Kuroshitsuji { Reestruturando }

Capítulo 3

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ㅤAo abrir os olhos, envolta na teia do sono, fui saudada pela insistência do sol, cujos raios teimosos trespassavam a cortina. Uma aura de peso parecia abraçar meu corpo, como se as horas de sono mal dormidas tivessem deixado marcas indeléveis. Ou talvez fosse a premonição sutil de que algo inoportuno pairava no horizonte deste novo dia. A mera sugestão desencadeou um arrepio que percorreu minha espinha, fazendo-me estremecer involuntariamente.

ㅤCom esforço sobre-humano, ergui-me da cama, movimentos vagarosos e exaustivos me conduziram até o antigo calendário, solenemente pendurado ao lado do meu espelho luxuoso. Era impossível ignorar os esforços dispendidos para adequar meu quarto à pompa que outrora me era devida, enquanto ainda ostentava o título de filha de um marquês, antes de ser rebaixada à condição de criada. Uma cama majestosa, móveis imaculados, o chão adornado por um tapete suntuoso de um vermelho profundo, tonalidade que sempre adornara as vestes de nossa linhagem. Deslizei meu pé nu sobre as fibras macias e finas do tapete, deixando-me envolver pela sua luxúria.

ㅤImaginava que meus pais teriam imposto que, mesmo na humilhação de minha servidão, meus aposentos deveriam refletir a nobreza que um dia nos fora atribuída. Não seria surpreendente se fossem eles próprios os responsáveis por arcar com esses custos. Ah, Lisabell, afinal sempre fora a garotinha do papai.

ㅤAo retornar minha atenção ao calendário, uma caneta-tinteiro repousava displicente sobre a cômoda ao lado, enquanto eu contemplava, pensativa, os números dispostos diante de mim.

ㅤㅤㅤㅤㅤ"Seis meses até o nono aniversário dos gêmeos", murmurei para os meus próprios pensamentos, circundando o dia atual com a tinta negra da caneta.

ㅤNão importava o que eu pensasse, a sensação de presságio persistia, teimando em não se dissipar. Um suspiro pesado escapou dos meus lábios antes que eu me permitisse encarar meu reflexo no espelho. A garota ali retratada, rechonchuda, com seus cabelos dourados, parecia uma sombra distorcida de sua antiga beleza. As olheiras profundas denunciavam meu cansaço, refletindo a exaustão que me consumia. Repeti o suspiro, pesado como uma sentença, e mergulhei nos afazeres matinais que me aguardavam.

ㅤAo chegar ao banheiro anexo, despi-me das minhas vestes e as dobrei cuidadosamente, destinando-as a um novo uso posterior. Sem preparo físico ou mental, submeti-me ao choque gelado da água sobre meu corpo, um grito agudo escapando-me em protesto contra o frio cortante. Vestida em minhas vestes de serva, mergulhei assim na rotina que me aguardava.

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ㅤCaminhei com a suavidade de quem desliza sobre uma névoa silente pelos corredores marmóreos da majestosa mansão, cada passo ecoando discretamente sob meus pés enquanto eu me encaminhava para o encontro com as crianças cujo cuidado me fora confiado. Porém, antes mesmo de chegar ao meu destino, um murmúrio de vozes familiares envolveu o ar, escapando pelas portas entreabertas da sala de estar, como melodias fugazes dançando em meio à quietude do lar. Inadvertidamente, meus ouvidos captaram fragmentos da conversa que ali se desenrolava, palavras carregadas de preocupação e ansiedade, ecoando além das paredes.

ㅤㅤㅤㅤㅤ"Querido... O que faremos?" A angústia coloria a voz de Rachel, pintando cada sílaba com tons de incerteza.

ㅤㅤㅤㅤㅤ"Por agora, não nos resta senão confiar e rezar para que ele fique bem sozinho." As palavras de Vicent, embora brandas, carregavam o peso do dever e da esperança.

ㅤUm breve vislumbre revelou Vincent, envolvendo sua esposa em um abraço que parecia conter todo o consolo que o mundo poderia oferecer naquele momento de aflição. Então, como um sopro fugaz, eu segui meu caminho, afastando-me da porta com passos cautelosos, embora minha mente inquieta permanecesse presa aos ecos daquela conversa carregada de significados ocultos.