Epígrafe

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Um vazio.

Meu coração está vazio. Sempre esteve vazio.

Nenhum amor, nenhuma felicidade, nenhuma tristeza, nenhum apego.

Nada.

- Filho, você vai se atrasar para a escola! - Gritou a loura que insistia em me obrigar a chama-lá de mãe.

O homem que dizia ser meu pai já havia percebido que havia algo errado comigo e estranhamente ele tem me ajudado a "esconder" meu verdadeiro eu.

Mas eu não queria esconder nada, muito menos fingir alguma coisa, porque eu simplesmente não ligo.

- Hey! Pra um garoto de 9 anos você está bem preguiçoso.

Apenas a encaro sem expressão alguma. Essa mulher me irrita. Como poderia me livrar dela?

A irritação e a repulsa são umas das poucas coisas que consigo sentir.

Tudo na minha vida se resume a coisas que eu suporto e coisas que não suporto.

O homem que eu deveria chamar de pai é suportável, ele não me enche o saco cobrando algum tipo de afeto.

Essa mulher está cruzando a linha tênue entre o suportável e o insuportável. Isso não é bom pra ela. Pois tudo que eu considero insuportável, arrumo um jeito de me livrar.

Afim de evitar que me dirigisse mais alguma palavra me levantei e fui em direção ao banheiro me arrumar e começar mais um dia sem sentido, no meio de pessoas repugnantes.

Afim de evitar que me dirigisse mais alguma palavra me levantei e fui em direção ao banheiro me arrumar e começar mais um dia sem sentido, no meio de pessoas repugnantes

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Estou sentado na minha mesa, na sala de aula, enquanto aguardo a professora chegar.

Vejo o Stalin vir na minha direção. Continuo sem esboçar nenhuma reação, mas sei qual é a sua intenção.

Ele sem dúvidas já passou para o lado das coisas que não suporto. Mas ainda não me livrei dele porque não sei como fazer isso sem suspeitarem de mim.

Por enquanto.

- Hey, Verme! Que tal costurar a cara do Freddy Krueger na sua? Ficaria bem menos assustador.

Ele e um grupo de amigos caíram na gargalhada enquanto eu apenas o encarava sem expressão alguma.

Não consigo entender esses animais irracionais, então suas ofensas não me alcançam, sou muito superior a todos eles.

- Ei, estou falando com você, seu cara de cu! - Ele para de rir e me encara irritado.

Continuo com a mesma cara de sempre, pois não tenho medo mesmo sabendo o que ele fará a seguir.

- Você se acha muito melhor que a gente, né? Seu verme insignificante. Vou te mostrar que você não passa de um monte de lixo. - Disse gritando me pegando pelo colarinho.

Ele armou o braço direito e fechou o punho, mas antes que sua mão atingisse meu rosto, ele foi atingido por uma cadeira.

A sala toda se levantou para olhar o ser repugnante caído no chão.

Enquanto eu mirei meus olhos estrategicamente na linda menina de cabelos cor de chocolate e olhos castanhos arregalados que foi o motivo do Stalin ter ido parar no chão.

Naquele momento eu senti alguma coisa.

Quando a vi olhar pra mim e fazer um sinal de silêncio, levando o dedo indicador aos lábios, senti uma coisa estranha no meu peito.

O que é isso?

Não parece com nada que eu já tenha sentido antes.

Antes que eu pudesse perguntar seu nome a menina correu pra fora da sala.

Eu corri para alcançá-la, mas fui barrado pela professora que entrava na sala naquele exato momento.

Droga.

- Mas o que houve aqui? - Ela gritou espantada.

Eu sequer ouvi alguma palavra da sua boca.

Estava muito confuso e a única coisa que passava na minha cabeça era que eu precisava encontrar aquela garota, perguntar seu nome.

Pela última vez a vi entre a professora e a porta, escondida atrás do armário que ficava no corredor.

Ela olhou pra mim e sorriu.

Foi o sorriso mais lindo que já vi, diferente de qualquer humano imundo que já conheci.

Seu sorriso era de um anjo e fazia algo estranho no meu peito, causava sensações diferentes na minha barriga.

Sem me conter, eu levantei o canto dos lábios formando uma espécie de sorriso.

A menina riu da minha tentativa de sorrir e correu para fora da escola.

E essa, foi a primeira vez que eu sorri de verdade na vida... E a última também.

O ManipuladorOnde histórias criam vida. Descubra agora