três

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— Não tem nada sob controle, Brad!

Grunhi, batendo os pés no chão. Estava no aeroporto, saindo de um vôo demorado e estressante, esperando meu futuro cunhado e minha irmã me buscarem.
Meus chácaras estavam desalinhados, meu pé estava doendo e tinha certeza que teria dor de barriga de tanto nervoso.

— Pare de gritar, o gatinho do check-in vai me achar estranho por andar com uma maluca.

Colocou a mão em meu ombro, tentando me arrastar até o canto. Porém, uma silhueta feminina, ligeiramente mais alta que eu, chamou minha atenção.
Violet. Loira, alta, com olhos verdes e um corpo que sempre me trouxe inveja. Ela estava ainda mais bonita.

— Lianne!

Ela me agarrou, e quase caímos no chão. Retribuí o abraço com sinceridade. Sentia sua falta. Antes de ir para faculdade, éramos carne e unha. Infelizmente as obrigações me deixavam distante, e a faculdade de medicina que Violet fazia não colaborava tanto para que me visitasse nas férias.
Sim, medicina. Podemos claramente perceber quem é o exemplo da família.
Perto de Violet, era apenas a irmã mais velha que resolveu se aventurar em um país diferente e cursou moda para desenhar bonequinhas cafonas.

— Senti saudades.

Comentei, quando nos afastamos. Ela abraçou Brad, que conhecia apenas por Skype e, logo atrás dela, estava Dian, com as mãos no bolso de sua jaqueta jeans.

— Oi.

Foi o máximo que consegui falar. Ele sorriu, provavelmente achando graça do meu esforço para ser simpática. Dian me conhecia bem, sabia que não conseguia esconder o ranço.

— Oi, Lia. Fico feliz que tenha vindo e...

Cortei sua frase, erguendo o dedo.

— Você sabe que não esqueci e, espero que não machuque minha irmã. Meu soco hoje em dia é maravilhoso.

Em silêncio, ele balançou a cabeça em afirmação. Entendeu o recado. Ótimo.
Brad, eu, Violet e o dito cujo tivemos um trajeto tranquilo até a casa dos Bellini.
Tivemos uma recepção calorosa, diversos comentários de minha mãe sobre o cabelo cor de rosa de Brad. Ela disse que adorou, mas, sabia que era mentira. Juliet chamaria isso de cafona.
Almoçamos todos juntos, como uma família feliz. E realmente todos estavam radiantes, e o assunto era sobre flores brancas ou vermelhas na cerimônia. Algo super interessante.

— Lianne, você concorda que flores vermelhas são fortes demais pra igreja?

Violet ignorou meu pai, que dizia os significados de todas as rosas existentes, e me questionou.
Dian gargalhou. Ele sabia que odiava rosas vermelhas.

— Não sou tão fã... Concordo com você. Tente amarelo.

Enfiei um pedaço do salmão na boca, e minha irmã pareceu gostar da sugestão. Pelo menos isso afastou a atenção de mim.
Depois de tomar sorvete como sobremesa, eu e Violet sentamos no chão da sala, como fazíamos antigamente, com todos os meus esboços.
Nunca arrisquei em vestidos de noiva, era algo novo. Anotei todas as referências e gostos da loira, percebendo que seria algo princesa. Bem previsível.

— Porque não usa algo justo? É diferente. Talvez um formato sereia... Sem renda. Algo clássico, mas nem tanto.

Parou para pensar, e pegou um dos tecidos.

— Podemos tentar, experimentar alguns prontos para buscar o formato perfeito.

Ela concordou. Bingo! No fim, acabei percebendo que estava tão animada quanto meus pais. Minha irmãzinha. Estava sensível, provavelmente tpm.

— Você não me odeia?

Violet me pegou de surpresa. Mesmo que a resposta fosse óbvia, fiquei baqueada. Ela se importava com minha opinião...

— Claro que não! Você é minha garotinha.

Murmurei, dobrando os moldes e anotando as últimas medidas ao lado do desenho.

— Não finja, Lia. Sei que Dian é seu ex e da experiência com ele. Eu só não quero um clima ruim, você é mais importante que um cara.

Ela esperava minha aprovação, mesmo que indiretamente. Respirei fundo. Eu estava sendo egoísta, certo? Precisava parar de remexer no passado.

— Quero que você seja feliz, e eu te amo. É claro que fiquei surpresa, mas não irei deixá-lo machucar você. Já avisei que iria socar o rostinho dele, caso acontecesse.

Pisquei. Violet explodiu em risadas. O clima estava leve, isso era algo bom.

— Você não existe.

Balançou a cabeça, colocando as xícaras de café, já vazias, na mesinha de centro. Ficamos planejando o vestido tão entretidas, que não percebemos que já estava anoitecendo.
Antes de deixar o cômodo, minha irmã fez uma careta, virando-se em minha direção.

— Só tem mais um detalhe...

Tombei a cabeça para trás. Mais um detalhe? Ela continuou, receosa:

— Lembra do Dave? O do debate?

Dave. O grande Dave. Apresento a vocês, o meu inimigo. Éramos cão e gato, brigávamos por nota e por qualquer coisa que tivéssemos a oportunidade. Ele fazia aniversário no mesmo dia que eu e nossa família sempre foi próxima, então, praticamente nascemos aturando um ao outro.
Ele sempre dizia que o sonho dele era ser empresário, mas, sabia que era uma mentira descarada. Dave era impecável na cozinha. Como soube dessa paixão? Simples, vigiando sua vida. Mesmo indiretamente, estávamos nos protegendo, mas nenhum dos dois iria admitir isso. Ele foi o primeiro a ver meus desenhos, e meu ateliê emprovisado no sótão. E, como pedido de desculpas, ele fez uma torta de limão pra mim.
Foi o único dia que conseguimos manter uma conversa pacífica, aos oito anos.
Aos doze, ele me encheu o saco quando descobriu que havia beijado um amigo dele. Aos quinze, ele começou a namorar uma garota do terceiro ano só para jogar na minha cara que não era totalmente Zé mané.
O "terceirão" foi repleto de emoções, entre elas, um acampamento nada animador, no meio do nada. Minha escola era louca, e simplesmente decidiu que deveríamos ter provas finais ao ar livre. Sim, a ideia foi da minha mãe, e eu fiz voto de silêncio por duas semanas. Ela me jogou no meio do mato com pessoas insuportáveis. Não deveria ter deixado ela entrar no conselho de mães e professores na quinta série.
Durante a viagem, eu e Dave não demos trégua, era todos os dias uma brincadeira e implicância nova. Até que, ele me empurrou na cachoeira.
Sim, Lianne com dezessete não sabia nadar (até hoje preciso de bóias em lugares fundos, me perdoem, mas sou uma negação nisso). Foi um surto, rodo mundo precisou sair correndo para chamar os monitores e eu fui praticamente carregada até o hospital mais próximos.
Minha mãe disse que Dave se sentia culpado, mas nem fiz questão de atender suas ligações nas férias. Dei graças a Deus que estava entrando na faculdade, o mais distante possível. Depois de tudo isso, nunca mais tive notícias do moreno insuportável.

— Sei. Hm?

Murmurei. Ela encolheu os ombros, murmurando algo rápido demais.

— O que? Fala minha língua, maluca.

Bufou, colocando a mão esquerda na cintura.

— Ele é padrinho do meu casamento e, você vai entrar com ele. Simples, pronto, falei. Isso tudo foi ideia do Dian, reclame com ele.

Me arrependi horrores de não ter estapeado meu cunhado no aeroporto. Alguém volta no tempo, por favor?
"Aturar Dave por um dia não é o fim do mundo." Tentei me enganar de todas as formas possíveis.
Brad iria surtar e rir da minha cara quando soubesse da notícia. Mas, eu, só conseguia repetir que era uma mulher séria e não iria brigar com Dave durante o casamento de Violet.
Estávamos crescidos. Maturidade. Muita maturidade.

Não revisado

12 DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora