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Mamãe dirigia animadamente sua picape, logo atrás dos cinco carros que estavam abarrotados com malas e nossa família. Os pais de Dian resolveram que iríamos passar as últimas semanas de descanso antes do casamento em sua fazenda. 
O local era grande, com uma casa grande o suficiente para abrigar um bando de malucos animados e festeiros.

— Não me olha assim.

Murmurei, percebendo que o homem ao meu lado parecia fixado em meu rosto. Não sabia se estava suja ou, se era só pra encher meu saco.

— Não estou olhando pra você.

Dave rebateu, dando de ombros. Era óbvio que estava!

— Claro que está! Para.

Joguei um pano nele. Estávamos na parte de trás da picape, sentados entre diversas caixas de flores e algumas malas. Minha alergia com certeza iria me visitar essa noite.

— Crianças!

Mamãe lançou um olhar irritado, e cruzei os braços. Meu melhor amigo parecia aproveitar o passeio, com metade do corpo pra fora do teto solar do outro carro.
Segurava seu chapéu preto, enquanto gravava alguns stories. Falso!

— Já estamos quase chegando. Não se estresse atoa.

Curiosamente, o dono de toda minha frustração, estava tentando me acalmar. Apoiei meu corpo em uma caixa, e comecei a pedir forças aos céus. Tive quase certeza que ouvi deus sussurrando um "você que lute".

— Falta muito, mãe?

Gemi, batendo no vidro. Meu pai, que estava jogando candy crush no celular, virou assustado.

— Garota! Não. Credo. Apreciar a vista faz o tempo passar mais rápido, sabia?

Uma das minhas orações fizeram efeito, visto que paramos diante um portão gigante de madeira, provavelmente bem antigo.
Levantei os óculos escuros, que resolvi usar apenas para fingir que estava dormindo e não encarando Dave também, e pulei da picape o mais rápido que consegui.

— Olha a cobra!

Uma voz feminina gritou, e então entrei em alerta. Uma cobra? Olhei ao meu redor, e tudo que conseguia assimilar era um mato alto e uma escuridão absurda.
Corri e praticamente me lancei em Dave, que estava tentando abrir o portão, agarrando em sua blusa.

— Me levanta, merda. Não posso encostar o pé no chão!

Ele obedeceu, franzindo o cenho. Não estava entendendo nada, mas mesmo assim me segurou em seu colo. Ou melhor, me impediu de subir no topo de sua cabeça. Estava parecendo uma maluca, e ainda por cima, usando vestido.

— Lianne?!

Abri os olhos, encarando minha irmã mais nova, que estava vermelha de tanto rir.
Espera... Era mentira?
Todos ao redor pareciam degustar um misto de comédia e confusão.

— Meu deus.

Balbuciei, descendo do colo de Dave extremamente constrangida. Praticamente vinte pares de olhos estavam processando a fofoca.
Brad, o meu príncipe de cabelo colorido, estava com a mão na boca e apoiado no Dian, que carregava algumas malas. Era o único que não parecia achar interessante a situação.

— A porta.

Disse para Dave, que empurrou-a para entrarmos. Ele não tocou no assunto e, resolvi também não falar nada. Violet passou rindo, assim como a maioria de nossos familiares.
Esperei todos entrarem, para degustar da minha vergonha sozinha.
Meu inimigo-amigo pegou as nossas malas, passando o braço direito por meu ombro. Caminhamos em silêncio até a casa, onde estavam distribuindo as chaves dos quartos.
Não foi novidade quando me colocaram no mesmo quarto que Dave e Brad.

— Pombinhos, vamos dormir de conchinha!

Comemorou meu amigo, abraçando nós dois. Ele segurava a chave número dez, que significava: terceiro andar.
Só conseguia pensar na quantidade de escadas que iria descer e subir todo dia.

— Vamos!

Concordou Dave, arrastando a gente até o andar designado. Por algum milagre, estava realmente ocupada em meus pensamentos que evitei fazer qualquer comentário.
Ignorei até o chapéu de palha que Dave usava. Iria guardar a piada para depois.
O quarto era espaçoso, praticamente do tamanho de meu apartamento. Sério!

— Eu fico com essa.

Brad apontou para cama que ficava na janela. Torci o nariz, percebendo que sobrou uma péssima cama com auxiliar.
Dave e eu nos encaramos, combinando uma corrida mentalmente. Ambos contamos até três e, saímos disparado até a cama. Me joguei na de cima, comemorando vitória.

— Isso! Isso! Eu ganhei.

Ele bufou. A cama era estreita e, eu me mexia demais. Seria mais confortável ficar na auxiliar, já que poderia aumentar com alguns cobertores. Porém, a rivalidade me fazia ser guerreira.

— Como consegue correr tão rápido? Suas pernas são de formiguinha!

Indagou. Jogando sua mochila na cama. Revirei os olhos, retomando minha linha de mulher séria. Arrumei o cabelo com os dedos, e arrumei a postura.

— Vou colocar o pijama e tomar meus remédios.

Brad costumava tomar alguns comprimidos naturais para dormir, ele dizia que se sentia um bebê relaxado assim.

— Vai no banheiro do corredor, Dave. Quero trocar minha roupa também.

Disse, assim que meu amigo entrou no banheiro do quarto. Dave levantou a sobrancelha, debochado.

— Não. Você vai, não estou incomodado.

Deu de ombros, tirando a roupa com a maior naturalidade.
Minha cabeça foi na lua e voltou, e meus olhos estavam chocados diante tanta beleza.
Caramba, esse homem tem saúde.
Dave ficou de cueca, organizando sua roupa em um canto do quarto, empinando sua bundinha perfeitamente redonda em minha direção. Babaca.
Acompanhei com o olhar cada movimento que ele fazia, e tinha certeza que estava babando.
O homem voltou pra cama, com um livro nas mãos e, usando um óculos de grau. Dessa vez, meu coração pediu misericórdia, pulando de meu peito com uma bandeira branca.
Fala sério! Cueca e óculos. Não sabia que era uma combinação perfeita até ver Dave usando.
Brad simulou um grito silencioso, assim que deu de cara com a beldade deitada no colchão, ao lado da minha cama. Piscou pra mim, como aprovação. Ele era extremamente idiota, mas confesso que deveria concordar. Dave não era um pedaço de mal caminho, ele era o mal caminho inteiro, incluindo rotas alternativas.

— Boa noite.

Lançou beijos, desligando a luz e seu abajur. Dave não se importou, já que o abajur ao lado de nossa cama ainda estava aceso.
Sai mais rápido que o flash, indo ao banheiro para me enfiar no meu conjunto de moletom extremamente confortável. Quando me encarei no espelho, percebi que a estampa era de ursinhos. Droga.
Tenho uma mania horrível de usar pijamas e meias coloridos e estampados, parecendo o look de uma criança, mas até então nunca me incomodou.
Cruzei os dedos. Estava escuro, ele não iria ver. Pelo menos, era isso que achava.
Não tinha nem terminado de fechar a porta do banheiro, quando Dave riu e falou:

— Roubou o pijama da Anabel?

Anabel era a irmã mais nova de Dian, uma das únicas crianças na viagem. Ela tinha seis anos.
Respirei fundo, lembrando que meus chakras deveriam continuar alinhados para aguentar até o casamento.

— Cala boca.

Me enrolei no cobertor, virando de costas pra ele.
Deveria ter pedido ao Brad alguns comprimidos dele, ou, enchido a cara de vinho quando tive a oportunidade, minutos antes de sairmos da cidade.
Naquela noite, demorei a dormir. A respiração de Dave era o suficiente pra me deixar nervosa.
Ao contrário de mim, o homem irritante terminou sua leitura antes das duas da manhã, engatando em um sono profundo.
Apertei o cobertor contra meu corpo, começando a contar carneirinhos.
Uma hora iria adiantar.

Não revisado.

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⏰ Última atualização: Aug 27, 2020 ⏰

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