Capítulo 003

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Jonathan Diaz

Acordei com o barulho da minha cela sendo aberta, dois guardas armados acenaram para que eu saísse, o que era estranho. Eles nunca pediam nada, a rotina era ser arrastado para fora com força bruta. Decidi que era melhor não reclamar sobre isso.

Enquanto caminhava pelos corredores, percebi que todas as celas estavam vazias, então estavam nos movendo para outra base ou nos matando de vez.

Tomamos uma rota diferente e chegamos em uma porta branca que nunca tinha visto antes, um dos guardas acenou para que eu entrasse. Para minha surpresa era só um banheiro decente. Me olhei no espelho acima da pia de cerâmica branca. Meu cabelo era um ninho castanho, estava pálido e mais magro do que antes, as olheiras debaixo dos meus olhos eram quase um poço sem fundo.

Meu corpo quase desabou quando senti a água morna escorrer pelo meu corpo, fazia tanto tempo que eles nos jogavam na água gelada só por dois minutos que não lembrava mais o cheiro de sabonete e shampoo.

Eles deixaram um par de roupas pra mim, o que era mais estranho do que o banho quente. Usando uma calça moletom e um casaco cinza, além de sapatos confortáveis, eu parecia ter dezessete anos novamente.

Quando saí do banheiro, tive certeza de que devia estar sonhando com tudo isso, nada do que estava acontecendo fazia sentido. Os guardas me levaram para um grande refeitório com no mínimo cem pessoas vestidas exatamente como eu, alguns eram crianças e ninguém dos mais velhos parecia estar acima de vinte e cinco anos.

Todos estavam sentados em mesas retangulares de metal, comendo como se não estivessem sobre a vigilância de um mini exército armado até os dentes. Peguei minha bandeja e me surpreendi que tínhamos comida de verdade, nada de pasta-rosa-sebosa, mas sim feijão, arroz, almôndegas e vários tipos de salada, tinha até suco de laranja.

Demorou um pouco andando entre as mesas para encontrar Emilly. Conseguia ver suas sardas claramente agora que sua pele não estava cheia de fuligem da cela.

— O que porras tá acontecendo? — Perguntei baixinho, ciente dos guardas ao lado das nossas mesas.

— Não faço a mínima ideia, não apagaram nossas memórias também. — Emilly respondeu.

Daniel surgiu de repente e sentou do meu lado, ele era bonito quando estava limpo, ou talvez eu estivesse preso por muito tempo. Sim, nós nos conhecíamos, éramos acostumados com os gritos horrendos de dor um do outro e etc.

— Eles nos torturam por meses e agora simplismente tiveram uma mudança de coração? — Ele riu e encheu a boca com almôndegas.

— Houve uma mudança no comando da operação, — Disse uma garota que estava sentada na nossa mesa. Ela tinha uma linda pele escura, cabelo preto cacheado e volumoso. — Meu nome é Sarah, aliás.

— Operação? — Perguntei.

— Isso é um experimento em larga escala, do que mais você chamaria isso senão uma operação? É só olhar os militares. — Sarah respondeu.

— Eu também ouvi por aí, trocaram o responsável por seja lá o que for isso aqui. — Confirmou Emilly.

— Só levou seis meses de tortura pra realizarem esse milagre, — Daniel resmungou. — Aliás, não faz diferença, acha que vão deixar a gente ir embora e contar pro mundo o que fizeram com a gente?

Ficamos em silêncio, não sei exatamente o porquê. Talvez fosse impossível aceitar nossa realidade, que tudo isso estava de fato acontecendo, que nenhuma de nossas perguntas tinham respostas e que não havia escapatória.

Depois de algum tempo, os guardas nos levaram em grupos de dez até a ala médica e cada um de nós entrou em uma cabine diferente.

A sala era maior do que eu esperava, tinha duas macas, um monte de máquinas que não sabia pra quê serviam e uma esteira.

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⏰ Última atualização: Jul 15, 2020 ⏰

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