tres.

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Era 11hrs de uma segunda feira, pós casamento da Sierra. Minha cabeça doía em conjunto a todo meu quarto, eu notei que estava sem roupa e sozinha em uma cama de casal desconhecida. Reparei que por todo quarto havia alguns livros e aquele óculos inesquecível, e não deixei de notar muitas roupas, incluindo minhas, espalhadas por todo o quarto. “É, eu definitivamente aproveitei” pensei. Sergio não estava deitado junto comigo, então decidi levantar e ir embora mas escuto meu celular tocando, era Alicia.
- Raquel??
- Oi Ali... – respondi meio tímida.
- Raquel eu te liguei mais de 5 vezes, vai se foder – ela disse brava.
- O que foi Alicia? Porra, eu estava aproveitando com meu amigo Sergio. – eu dou uma risada lembrando de alguns momentos fantásticos daquela noite.
- VOCÊ ESTAVA FODENDO COM ELE. ISSO SIM. – ela gritou do outro lado, fazendo eu me assustar – Porra Raquel, eu fiquei preocupada. Você saiu daqui carregada ontem, por ele. – ela disse a última palavra com um desprezo, mas não estava entendendo tamanho surto.
- Ta tudo bem Sierra, só sinto dores no corpo e dor de cabeça. Nada que uma aspirina e um dia de repouso não resolva. E sua lua de mel? Fodeu muito ontem também? – perguntei com zero interesse, mas precisava fazer meu papel de amiga.
- Com certeza, creio que até mais que você. – ela ri. – Bom, agora estamos indo para Veneza, eu tenho que desligar só queria tentar falar com você antes de ir. Eu te odeio por ter me deixado tão preocupada sua safada do caralho!
- Eu também te amo! Agora vá e aproveite suas férias de mim, depois vou encher o saco querendo saber tudo. – é claro que era mentira, se eu pudesse não saber nem do casamento eu estaria feliz.
- Eu te amo Murillo. E eu nunca vou ter férias de você puta rata. – ela desliga e por fim eu dou um sorriso.
Aquela noite tinha sido fantástica mesmo, pelo menos as partes que consigo me lembrar. Porém, logo acordar e ouvir a voz dela, mesmo que por telefone, era satisfatório. Fui ao banheiro, vesti minha roupa e logo depois fui para a cozinha e avistei o Sergio.
- Bom dia Raquel. – ele diz bem sério, lendo jornal e tomando um café que parecia bem forte só pelo cheiro que exalava.
- Bom dia Sergio. – eu respondi meio corada.
- Café? – ele levanta e pega uma xícara e eu aceito.
- Não precisamos falar sobre essa noite ne?!
- Não... Agora não, mas saiba que foi uma ótima noite pra mim. – eu me surpreendo com sua resposta mas fico feliz.
- Pra mim também – eu digo.
Depois de meia hora conversando, peguei minha bolsa e ele me levou até em casa. Eu apenas tomei uma aspirina e dormi o resto do dia.


2019

Hoje era o dia do enterro de German, fazia 5 anos que ele e Alicia estavam juntos e ela estava devastada. Infelizmente ele morreu de câncer, Sierra contou que a cena foi a seguinte:
- Os médicos deram 2 meses de vida para ele. Enquanto nele nascia morte em mim nascia vida, ele ficava amarelo e eu rosa, ele emagrecia e eu engordava. Realmente, quando os médicos disseram só dois meses era só dois meses! – ela dizia sem chorar. E sim, ela estava gravida dele. – A ultima coisa que ele pediu foi para ver os noticiários, ele literalmente falou ‘liga a televisão nos noticiários para mim por favor”. Eu liguei, fui ate a cozinha e quando voltei ele estava la... m-morto... – ela começa a chorar. Estava eu, Silene, Agatha e Monica junto a ela no cemitério, eu não sei como ela estava aguentando mas ela era forte.

[...]
Passou o enterro, durou menos de duas horas e tinha muita gente. Era incrível como o German era amado, eu o amava também. Ele era uma pessoa sensacional e tenho certeza que seria um ótimo pai. Eu estava indo ao banheiro até que Alicia me para.
- Quel... Posso dormir na sua casa hoje? – ela pergunta com os olhos marejados. Era raro ver Alicia sem um lápis de olho, e um batom mas nesse dia ela simplesmente estava sem nada no rosto, era nítido suas pequenas sardinhas lindas que a deixavam fofa demais.
- É claro Ali, não precisa nem perguntar. – eu abracei ela e senti ela desabar em mim, ali mesmo. Meu coração doía de não poder tirar sua dor.
- O bebê sempre mexe quando escuta sua voz – nos separamos e sorrimos. – Eu não sei como vou cuidar dessa criança sozinha Quel.
- Você não esta sozinha Sierra, você me tem. Sempre me teve, você se lembra o que disse no dia do casamento? Que se não fosse o German seria eu?
- Lembro. E ai logo depois você me trai com o padrinho dele... sem palavras. – caímos na risada, era bom ouvir sua risada rouca. Fazia 24hrs que não ouvia aquele som e já estava em abstinência.
- Você é importante para mim e esse neném também, eu vou cuidar de vocês duas enquanto eu puder. Eu prometo! – eu disse a abraçando mais uma vez.
Ela ainda ficou mais um tempo no túmulo de German, chorando e conversando com ele como se ele pudesse escutar, talvez pudesse mesmo. Deixei ela ali 20 minutos e depois fomos para o carro, ela ainda tinha lágrimas caindo pelo seu rosto.
Antes de ir para minha casa parei no mercado, e pedi para ela pegar seus doces favoritos e pipoca para comermos em casa enquanto víamos filme. Alicia amava doce como ninguém e sabia que talvez isso pudesse a ajudar um pouco. Era minha ultima esperança.

[...]
E assim passamos o resto do dia, comendo doce, vendo filme, conversando sobre o passado, e eu abraçando ela e a ouvindo chorar, isso era o que mais doía. A noite foi ainda pior, ela pegou uma camisa do German e vestiu, ainda tinha o cheiro dele como ela dizia repetidamente. Ela chorava e dizia o tempo todo “Como dói Raquel”.
Depois de umas 3 horas assim, ela caiu no sono. Estavamos na cama, era uma noite fria então tínhamos duas cobertas em cima de nós, eu a abraçava de frente porque ela queria ver meu rosto sempre que acordasse para lembrar que não estava sozinha. E eu a observava dormir, sabendo que meu amor por ela nunca tinha diminuído e que agora mais do que nunca eu precisava cuidar dela em dobro.

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