Em solo dinamarquês, literalmente

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O vôo durou 19 horas, quando desci no aeroporto de Copenhague, me senti em um sonho, era a minha primeira vez que ia para um país europeu, e me senti realizada por estar visitando um dos países com o maior índice de IDH do mundo. O clima estava frio, uns 16°C, mas acho que para eles não deve ser muito frio, porém no meu caso como sou de Fortaleza qualquer temperatura abaixo de 22° C , eu logo considero relativamente frio e já coloco minhas meias.
Ainda no aeroporto, sem desgrudar dos meus pais, meus olhos procuram tio Jorge, o que não parece uma tarefa fácil, já que o lugar está aglomerado. Após uns minutos finalmente nos encontramos, trocamos abraços, tiramos algumas fotos com sua inseparável câmera fotográfica, dividimos as malas e entramos em um táxi.
- Aqui parece ser tão lindo! - Minha mãe fala alegre enquanto olha pela janela do táxi. - Eu sinto que vai ser maravilhoso.
- Com certeza maninha, e olha que de quebra a gente ainda vai conhecer vários lugares incríveis através desse trabalho. - Disse meu tio.
- Realmente esse trabalho caiu do céu, já fazia um bom tempo que a gente não fazia uma viagem a longo prazo. - Meu pai completou e logo continuou. - Se a gente ver bem... Rosa vai poder aplicar suas habilidades de jornalista escrevendo, Jorge vai fotografar, e juntos vocês vão poder fazer um bom conteúdo sobre o turismo nesse país. Já eu, posso continuar com o meu trabalho onde estiver, e ainda posso ajudar vocês com a elaboração do projeto. E bom... Jasmin... Poderia estar contribuindo com a alguma coisa se ao menos estivesse fazendo faculdade.
- Ah não papai, eu tava aqui bem quietinha, e você vem com esse papo de novo?! - Questionei um pouco irritada, não é como se ele dizendo isso iria fazer eu escolher o que quero estudar tão rápido como num passe de mágica.
- Nando, não força, ela tem o tempo dela e além disso aqui é pra ser um momento feliz, okay? - Tio Jorge me defendeu.
- Muito obrigada tio!!! Pelo menos alguém sensato. Olha gente, eu sei que vocês se preocupam com meu futuro, mas eu não posso simplesmente escolher qualquer curso e me arrepender depois. Além disso, nessa viagem eu posso muito bem ajudar vocês com meu inglês, principalmente você papai, afinal é o senhor que sempre me pede pra traduzir alguns termos.
Com isso, eu consegui ao menos fazer com que papai refletisse um pouco. Ele suspirou e assentiu. Assim como mamãe e meu tio que relaxaram um pouco mais.
Ainda no carro conseguimos conversar sobre o lugar que iríamos ficar, do aeroporto até o hotel levaria umas 2 horas, o que era um longo tempo em comparação se fôssemos de metrô. Mas a gente só queria chegar bem, e com todas as malas, as quais eram muitas.
Quando as duas horas passaram finalmente chegamos no Globalhagen Hostel, restaurante e hotel em que ficaríamos, e também o qual meu tio está hospedado, como o dono é amigo do chefe do meu tio, conseguimos um bom desconto ficando lá.
O hostel era um charme, bem simples, do lado de fora era marrom com uma aparência bem tradicional, enquanto por dentro mantinha algo mais moderno, os quartos eram pequenos e aconchegantes, eu e minha mãe ficaríamos em um, enquanto meu pai e meu tio dividiriam outro. Já estava anoitecendo e estávamos cansados, jantamos cedo e tão logo fomos dormir.
Quando o dia amanheceu, eu já sabia o que queria fazer, queria treinar meu inglês e conhecer a vizinhança. Deixei um bilhete para minha mãe avisando que iria sair e que ela não se preocupasse pois a Dinamarca era um país bastante seguro, até mesmo na madrugada.
Então, antes de sair do Hostel, comi um pão de centeio e logo saí. Não era nem 6:30 da manhã, mas já era possível ver carros e bicicletas no trânsito, andando com meu celular na minha bolsa de colo vermelha, notei que eu a agarrava com força, como se a qualquer instante fosse roubada, o que era estranho já que eu não estava mais no Brasil, e é claro, a cada dois passos que eu dava, eu sempre dava uma conferida pra ver se o hostel ainda estava no meu campo de vista e se eu não tinha me perdido.
Mas então lembrei que eu não tinha que me preocupar e não seria possível eu esquecer o caminho de volta tendo o Google maps mas minhas mãos. E foi então que confiei, caminhei reto, virei para a direita e continuei em linha reta até chegar no Cemitério Assistens, na Dinamarca os cemitérios são em parques, ou seja, podemos caminhar normalmente por lá e dar de cara com alguns túmulos. E realmente havia algumas pessoas por lá aproveitando a manhã. Andei de um lado para o outro meio sem saber onde eu poderia andar, até que vi umas árvores e fiquei andando olhando pro alto, assim, feito matuta. Enquanto caminhava senti que estava me aproximando de uma esquina, mas não olhei para frente (pior erro), continuei olhando para cima e Baam, senti que esbarrei em alguém, bom, naquele momento meio que o mundo deu um pause, e eu comecei a imaginar que quando eu olhasse para a pessoa que eu havia esbarrado iria dar de cada com um dinamarquês lindo, digno de ser o dono do meu coração e que iríamos olhar um para o outro e descobrir que éramos almas gêmeas.
Mas então, quando dei de cara com a pessoa, me deparei com uma moça loira com uma cara irritada, um copo na mão com metade do líquido dentro ( isso porque a outra metade estava em sua blusa azul ), e ao seu lado havia um cara a acompanhando ele era alto e forte, ela estava com a boca aberta e eu estava com os olhos arregalados, muda.
Quando finalmente tentei falar um "desculpa", acabou saindo em português e eles me olharam mas perdidos do que eu. O cara parecia mais irritado do que a garota, e mais parecia que ele iria a qualquer momento arranjar briga, então eu falei um desculpa em inglês que quase não saiu de tão engasgado que ficou, e eu envergonhada saí correndo, ainda escutei uns gritos irritadiços vindo deles, mas a única coisa que eu queria era não ver mais a cara deles.
Meti o pé, sem nem olhar pra trás, então me enfiei no meio do bosque, passei pelo mato até finalmente sair em uma área mais ampla e dar de cara com o chão. Foi tão rápido que nem percebi onde eu tinha tropeçado, devagar levantei a cabeca na direção que eu tinha chegado e foi quando eu vi, eu tinha tropeçado em um corpo.
Mas não era um corpo qualquer, era um corpo magro, de cabelo castanho claro, com olhos tão claros que quase parecia o oceano de tão azul. Em suas mãos vi um livro mas o que mais chamava a minha atenção era o sorriso, o sorriso que logo se alargou em uma leve risada direcionada para mim, ou melhor, para a minha queda.
Eu ainda estava no chão quando ele se levantou com o mesmo sorriso estampado na cara, de alguma maneira parecia contagiante e sem querer acabei sorrindo de lado. Eu não estava machucada e podia muito bem me levantar só, mas ele ainda assim quis me ajudar a levantar, depois de um breve instante ainda com a mão estendida em minha direção, ele me analisou e falou calorosamente.
- Oi! Eu sou Félix. - E naquele momento eu percebi que ele poderia facilmente ser dono de toda a beleza do mundo.

Príncipes da DinamarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora