Conversas e Capuccino

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- Como assim? - Eu perguntava pela terceira vez, e ainda de boca aberta ouvia minha mãe dizer tudo de novo. Ela falara que o custo das viagens na Dinamarca era relativamente alto, e o chefe do meu tio deixou bem claro que ele pagaria apenas pelos custos de minha mãe e seu irmão, logo ela explicou que mesmo pagando para eu ir, ainda seria muito caro. Ou seja, necessariamente eu não teria que voltar ao Brasil,porém teria que ficar em copenhage. As palavras saíam da boca dela mas eu já não podia ouvir, fiquei refletindo sobre todas as belezas que eu iria perder, as horas em que fiquei pesquisando sobre tantos destinos maravilhosos, como Arhus, Helsingor, Bellund e Kolding. Eu iria perder todos eles, os únicos lugares que eu ainda poderia ter a chance de conhecer seriam os mais próximos, ou seja, ali mesmo em Copenhage. Mas, pensando bem, não tinha muito do que reclamar, eu já estava em outro país, e uma cidade tem muito o que mostrar, então se fosse para ser assim, eu iria aproveitar cada pedacinho dela.

Depois que terminamos de conversar, meu pai começou a explicar algumas regras para mim, pois nós iríamos ficar na Capital. Em geral a regra que ele estabeleceu foi apenas avisar o horário que iria sair, para onde iria e que horas voltava. Afinal, ele já sabia que eu não ia ficar parada.

O almoço foi um pouco diferente do brasileiro, quer dizer, bem diferente, o que temos no Brasil como prato cheio de arroz e feijão, no hostel nosso primeiro almoço foi um sanduíche com carne fria e salada, chamado de smørrebrød, não foi a melhor comida que eu já experimentei, mas mesmo assim ainda comi dois deles. Sou o tipo de pessoa que não faz desfeita com comida.

As horas passaram e já eram quatro horas da tarde, minha mãe já estava preparando sua mala para o primeiro lugar que ela iria visitar, afinal iria partir depois de amanhã, na segunda-feira, porém como é sempre muito organizada, já estava se preparando com dois dias de antecedência. Eu estava um pouco entediada,  e conversando com outros hóspedes acabei descobrindo um ótimo lugar para tomar um café, sem pressa segui o caminho sozinha, e é claro, dessa vez avisei a todos com antecedência.

Não demorou muito e em 15 minutos eu cheguei no local, era uma ambiente agradável, um restaurante com mesas tanto dentro, quanto fora do estabelecimento, as mesas eram de madeira e dentro havia um charme de simplicidade. O nome do local era O's American Breakfast & Barbeque, um nome um tanto grande, eu diria. Entrei no estabelecimento e já pude desfrutar da vista de tantas guloseimas, aquele definitivamente seria um ótimo lugar para ir enquanto eu não estivesse na hospedagem.

Ao sentar na bancada, a atendente veio em minha direção, ela era ruiva com cachos volumosos, as bochechas rosadas com várias sardas, ela tinha uma aparência bem nórdica. Seus olhos eram azuis, de um tom bem forte, e eu poderia jurar que nunca havia visto algo dessa cor. Ela também tinha um rosto sereno e simpático, ela abriu um enorme sorriso ao vir me atender.

- Boa Tarde! Em que posso ajudar? - Ela falou com um sorriso amigável.
- Boa Tarde! - Respondo. - Bem, não sei o que pedir ainda. - Concluo, indecisa.
- Eu recomendaria um Hash Browns. Mas acho melhor você decidir olhando no cardápio. - Com agilidade ela me entrega o cardápio.
Após uma bom tempo olhando os preços, me dei conta do quanto toda a comida era cara. Depois de um tempo refletindo decidi pedir apenas um Capuccino.
- Um capuccino, por favor! - Sorrio, com simpatia.
- Okay, já trago o seu pedido.
Quando ela deu as costas, suspirei, realmente entendia porque eu não podia mais ir com tio Jorge e minha mãe, tudo por aqui tinha um preço absurdo. Mas mesmo assim o lugar não perdia o encanto.

Pouco depois, a atendente volta.
- Aqui está o seu Capuccino! - Sorrindo ela completa - Parece que você é estrangeira, estou certa?
Eu tinha acabado de saborear o capuccino, mas logo a encarei bem rápido.
- Como sabe? - questiono.
- Bem, não é tão difícil distinguir quando alguém fica com os olhos arregalados vendo o cardápio. - ela diz.
- Não achei que fosse estar tão na cara. - Sorrio, simpatizando.
- Você é bem transparente, mas não se preocupa geralmente todo mundo tem essa reação.
- Ah, que bom que não é só eu né?
- Com certeza! - ainda sorridente ela continua a conversar comigo. - Você é de que país?
- Eu sou do Brasil! - respondo.
- Nossa, sério? Que incrível sempre quis conhecer a América Latina. Você está por aqui de férias? - Ela se anima com curiosidade, e eu fico alegre por ter com quem conversar.
- Na verdade vim acompanhar minha família que está a trabalho, é por pouco tempo só alguns meses.
- Uau, que incrível. - De repente ela procura se acomodar para ficar mais a vontade conversando comigo. - Aliás, meu nome é Esther, qual o seu?
- Meu nome é Jasmin! - Falo, e continuo com surpresa - Não esperava encontrar alguém com um nome tão fácil de pronunciar.
- Ah, que bom que achou fácil, até que gosto do significado dele, mas ele é bem comum.
- Já conheci alguém com o seu nome, significa estrela, certo? Acho muito bonito.
- Sim, exatamente! E o seu? - ela pergunta.
- Ah, não gosto muito, tem haver com flor. Mas não vamos falar sobre isso. - Mudo de assunto.
- Se prefere assim, tudo bem. - então ela pergunta. - Já conheceu algo de interessante por aqui?

Eu sei que eu deveria ter pensado que não, que eu ainda não tinha conhecido algum lugar de destaque na Capital, mas ao ouvir a palavra "interessante" eu não fui capaz de mudar o primeiro pensamento, o carinha que eu tinha visto no parque mais cedo. Demorando para sair dos meus devaneios, Esther olhou para mim investigativa, e enquanto eu volto o olhar em sua direção, ela continua.

- Parece que já, hein?
- Nem. - Respondo com pressa, e confirmo. - Ainda não encontrei nada de instigante.
- Humm sei... - É o que ela diz. E eu continuo a tomar o meu Capuccino.

Príncipes da DinamarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora