Eu poderia ter caído em algo pior, ao menos não foi em um túmulo, e nem em uma poça d'água, no geral eu saí no lucro. O garoto ainda estava ali na minha frente, quer dizer, Félix, esse é o nome dele. Ele ainda me olhava estendendo a sua mão, porém eu ainda não conseguia raciocinar direito. Afinal quem no mundo diz o próprio nome assim que encontra alguém desconhecido? Mas olhando bem ele não parecia ser alguém mal, talvez estivesse apenas sendo educado. Logo percebo que eu tropecei nele e nem se quer pedi desculpas.
- Me desculpa! - Eu digo rápido, me levantando as pressas e deixando ele no vácuo.
Percebo que seu olhar ficou um pouco decepcionado ao deixar seu braço estendido.
- Quero dizer... Me desculpa mesmo por ter tropeçado em você. Eu meio que não vi você aí. - eu continuo.
Devagar ele volta seu braço junto ao corpo e relaxa, seguido com um sorriso encantador. Ele definitivamente parecia alguém que não ficava triste tão facilmente.
- Sem problemas, mas você não vai colocar a culpa em mim certo? Afinal o parque não parece um lugar para correr sem ser nas vias, e pelo visto você saiu desse arbusto. - Ele diz apontando para o arbusto de onde eu havia saído há poucos minutos atrás.
- Eu só estava confusa. - Eu falo, afinal era melhor dizer só isso do que o ocorrido em si.
- Não acho que você esteja tão confusa, saber onde se pode ou não correr é bem simples, e na verdade você parecia saber bem, parecia até que estava fugindo... - ele fala sorrindo.
- Talvez... - eu falo baixinho em português.
- Você tem um sotaque diferente. - ele me encara investigativo. - Quando eu te vi eu já desconfiava que era estrangeira, mas não faço ideia de onde seja.
- E nem vai saber! - respondo bem rápido. Vai que ele era um cara doido.
- Tenho quase certeza que ainda vou descobrir.
- Ah cara, só lamento hein, mas de minha parte você vai saber não. - Eu rebato.
- Você parece ser esperta. - Ele supõe e continua.
- Mas adivinha?
- O que? - questiono em imediato. E logo ele responde devagar com um divertimento estampado no rosto - Eu. Sou. Mais.Ele era realmente lindo, e isso eu não podia negar, também tinha um semblante jovem e despreocupado que era quase impossível não se sentir bem ao seu lado, porém continuava um completo desconhecido. Enquanto eu o analisava nos poucos segundos de silêncio em que ele resolveu não continuar a falar, percebi que seu cabelo tinha um corte curto, ondulado, pequenas ondas quase completamente loiras, e enquanto eu me perdia nelas, o toque do meu celular invadiu os meus delírios através de Rescue Me do OneRepublic. Naquele momento eu não sei se deveria agradecer ou não pelo escape, Félix continuava em minha frente e cogitou falar algo, mas antes que o fizesse, tão rapidamente voltei a mim e peguei meu celular. Assim que olhei para a tela, respirei profudamente desejando que minha mãe não tivesse pirado.
-JASMIN, VOCÊ ENLOUQUECEU? - Ela grita no mesmo instante em que atendo o telefone. Lentamente começo a me afastar de Félix e como se estivesse respeitando o meu espaço ele também dá alguns passos para trás. - Como você tem coragem de sair em um país completamente diferente sem avisar a ninguém aqui. Você tem noção do quanto ficamos preocupados? Onde você está? VOLTA AGORA! - Ela continuou quase sem respirar.
- Mãe, eu tô bem! Eu só sai pra conhecer um pouco, nem fui tão longe tô só a uns quinze minutos do Hostel, relaxa... e aliás eu deixei um aviso sim.
- E aquilo lá é forma de avisar? Você deveria ter esperado a gente acordar. Vem logo pra cá, a gente precisa conversar urgente!
- Mãe, você não vai brigar comigo por causa disso né? Tipo, eu já sou adulta.
- Você só fez dezoito anos há três meses, e idade não mostra o quão madura você é.
- Sim eu sei, e é por isso mesmo que estou tentado me virar e... - antes mesmo de continuar ela me interrompe.
- Jasmin, só vem logo. O ponto central da conversa é outro. - Ela desliga.
Eu nem guardei o celular direito quando Félix disparou.
- Você fala português... - E logo reflete. - Eu sabia que não ia ser tão difícil saber algo sobre você.
- Como assim você conhece esse idioma? Pensei que vocês só soubessem dinamarquês e inglês. - Falo um pouco confusa.
- Bom, eu não sei português, outras línguas talvez, mas já conheci alguns falantes da sua língua nativa, e apenas reconheci quando ouvi você falar.
-Você tem certeza que não entendeu nada?- O questiono.
- Absoluta, mas se você quiser me ensinar estou a disposição. - Ele sorri.
- De jeito nenhum. - Eu falo determinada e concluo. - Até porque eu já estou indo embora.
- Você já vai? - ele fala fingindo estar triste.
- E você acha que eu vou ficar aqui? Ata né! - Falo isso lhe dando as costas e seguindo meu caminho. Mas ele logo fala um pouco mais alto.
- Mas assim não tem graça! - Ele dá uma pausa, olho para trás e o encaro esperando o que tem a dizer. - Você deveria ao menos dizer que vai me ensinar português quando nos encontrarmos na próxima vez. - Ele diz confiante.
- Não vai ter uma próxima vez, nós somos desconhecidos cara. Acredito que essa cidade é grande o suficiente para não nos encontrarmos tão facilmente.
- Nós não somos desconhecidos, e também acredito que você não caiu aos meus pés à toa.
- É claro que somos desconhecidos! - Digo desconsiderando completamente a sua última frase.
- Você sabe o meu nome, e eu sei o seu. Logo, nós nos conhecemos.
- Você está mentindo! Você não sabe o meu nome! - olho para ele em descrença. - Tenho absoluta certeza que não contei.
- Mas eu ouvi.
- Ouviu? - então lembro da ligação da minha mãe, ou melhor dela gritando meu nome. - Ah, a ligação você quer dizer.
- Exatamente! Não foi muito difícil ouvir sabe?
- Sei... mas isso não muda nada. - Faço um leve gesto de tchau e finalmente deixo o lugar onde ele estava, mas antes mesmo de dobrar em alguma via ainda o escuto falar.
- Tchau Jasmin, você tem um ótimo nome por sinal, e na próxima vez que nos encontrarmos adoraria saber o que achou do meu cabelo. - ele conclui.
Agora pronto! Além do meu nome ele também sabe que fiquei encarando o cabelo dele. Mas isso não importava mais, afinal eu não iria dar de cara com ele pelas ruas de copenhague tão cedo, e apesar da vontade de criar uma desculpa sobre eu ter olhado qualquer outra coisa sem ser suas mechas, evitei olhar para trás e segui rumo ao Globalhagen Hostel.
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Príncipes da Dinamarca
RomanceJasmin, uma garota de 18 anos, vai com seus pais para a Dinamarca, um país incrivelmente lindo, o que ela não esperava era que iria encontrar os príncipes daquele país, os jovens mais desejados, Nikolai, de 20 anos e seu irmão Félix, de 17 anos.