✨ [1] (re)começo

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Terça-feira, 28 de maio de 2024


Nós corríamos de um lado para o outro, tão rápido que nossos vultos se confundiam. Usávamos um macacão jeans com blusas alternadas: a minha era vermelha com mangas pretas, e a dele preta com mangas vermelhas.

Estávamos no quintal da antiga casa dos Park, que tinha um monte de plantas de diferentes tipos espalhadas por todos os cantos (hobby da sra. Park), uma mesinha branca com lugar para quatro pessoas no meio do lugar e era rodeado por uma cerca branca alta.

Eu não ia lá havia anos, acho que essa foi uma das últimas vezes em que estive lá.

Não gostávamos de tirar fotos, mas nossas mães diziam que era preciso "registrar os momentos para a eternidade". Eternidade. Que besteira.

— Digam: "xis"! — minha mãe gritava no vídeo.

Continuamos inquietos, no nosso próprio mundinho duplo. Então, veio a ameaça:

— Sem sobremesa para os dois pelo resto do mês se não tirarem a foto!

Foi suficiente para que eu e Park Jimin finalmente parássemos lado a lado, sorrindo, para tirar a maldita foto.

— Esses são os meus garotos lindos! — disse a Sra. Park, mãe de Jimin, que segurava a câmera e gravava tudo.

Pausei o vídeo no momento em que o foco éramos eu e ele, sorrindo felizes. Perguntei-me mais uma vez o motivo de tudo aquilo ter acabado. Abaixei-me para vasculhar a caixa em que achei o vídeo e... voilà! Lá estava a foto.

Lembro que reclamei que meu rosto parecia gordo demais, já que Jimin perdeu o equilíbrio e me espremeu um pouco antes de cair. Ele não deixou de sorrir nem por um segundo, para não estragar a foto.

O resultado não foi de todo ruim. Jimin estava com uma perna meio levantada e um braço estático ao lado do corpo, enquanto o outro abraçava meus ombros. Seu típico sorriso largo fazia seus olhos parecerem duas linhas, e mostrava o quão feliz ele estava, mesmo que dissesse o contrário.

Já eu, estava com o rosto amassado, mas ainda sorridente, com os braços apoiados em meu amigo, tentando segurá-lo. As plantas esquisitas da sra. Park eram o background da foto, contrastando com o vermelho das nossas roupas.

Era uma foto divertida, assim como foi todo o tempo que passamos juntos: divertido.

Retirei o DVD da televisão e o guardei na caixa, junto à foto. Havia dezenas de caixas como aquela espalhadas pelo chão da minha nova casa. Eu arriscaria dizer que minha infância e adolescência inteiras estavam ali.

Depois que saí de Herkunft seis anos atrás, passei por diversos lugares com meus trabalhos, tanto para vendê-los quanto para achar inspiração para quadros novos. Foi um período turbulento, mas divertido, em que eu dormia numa minivan junto a outro amigo meu que também sonhava alto.

Minha avó diz que eu já nasci pintando. Ela tem muito orgulho de quem sou.

Não se passou um dia sem que eu pensasse na minha pequena cidade e em tudo — e todos — que deixei lá. Mas expandir os horizontes é sempre bom, não?

E foi isso que vim fazer na grande Neustart: expandir.

Conseguir a casa não foi muito difícil, e descobri o motivo assim que entrei nela: parecia não ser usada há mais de 20 anos, estava com poeira em lugares que parecia impossível acumular qualquer átomo existente e, céus, cheirava muito mal.

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