Capítulo 3

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  Não sei exatamente por quanto tempo fiquei desacordado, mas acordei assustado por reflexo, a falta de oxigênio me trouxe o desespero, por mais que eu expirasse o restante do ar em mim, apenas bolhas se formavam do meu esforço, mas sem o retorno do ar, abri meus olhos subitamente e vi pequenos feixes de luz que viria da lua, adentrando no fundo do rio, clareando limitadamente onde estava, observei mais à frente e a escuridão dominava.
Formas estranhas e nebulosas surgiam ao meu redor, pedaços de lodo passavam com a correnteza, alguns colavam em minha roupa e outros vinham em direção ao meu rosto e nada poderia fazer para esquivar-me.

   Tentei me tranquilizar ao máximo que podia, aceitando meu destino terrível, mas era inútil. Porém, naquele momento percebi que não gostaria de morrer, toda aquela angústia que sentia na superfície: meus tormentos e tristezas; se tornaram mesquinhos diante do que enfrentava naquele instante.

   Em meio a escuridão das águas uma silhueta feminina surigiu, seu corpo ereto me causou a impressão de estar andado, era impossível de acordo com as minhas faculdades mentais. Ela se próximava bem devagar com movimentos graciosos, seus cabelos negros estavam à mercê das águas, moviam-se com delicadeza para lados distintos. Pela claridade da lua, pude ver sua expressão serena, seus olhos eram maiores do que se julga ser normal, sua pele branca parecia brilhar ao entrar em contado com a luz submersa.

   Aquela estranha figura, chegou bem perto do meu rosto e o acariciou em um ato caridoso  – e naquele instante – lembrei-me do que havia feito mais cedo com aquele pobre cachorro.

  Seu gesto me transmitiu paz, ela sorriu amigavelmente, inclinando seu pescoço para o lado. Já não me sentia só como antes, não me importava o que ela significava ou o que poderia ser, pois naquele momento ela era a pessoa mais importante da minha vida, pude amá-la perdidamente em único momento.

  Minhas mãos foram tocadas pelas suas, e ao entrar em contato com sua pele, notei que era mais fria que as águas sujas que nos cercavam. Seu corpo impulsionou o meu, começamos a nos movimentar em circulos. A luz estava sob nossos corpos, nos destacava daquela escuridão, era como estar dançando uma valsa.

  Até que lentamente ela soltou minhas mãos, me empurrando de volta para cima, observei seu corpo parado enquanto subia, fixei meus olhos em seu rosto para nunca mais esquecer, fiquei olhando até ela desaparecer na escuridão das águas.

Olhe Para Baixo Da Ponte [Conto]Onde histórias criam vida. Descubra agora