Capítulo 4

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O dia estava sendo cheio, eu mal havia conseguido parar para respirar. As aulas esta manhã tinham sido intensas e novamente Hansel não tinha vindo trabalhar na cozinha. Do fundo do coração eu esperava que ele pudesse voltar logo. Dois dias seguidos sem o dinheiro extra das gorjetas não era uma coisa muito boa na minha situação.

Mexi o molho na enorme panela enquanto Rebeca corria de um lado para o outro para tentar atender o máximo de mesas possíveis já que eu não estava disponível e hoje era o dia de folga de Kyle. Limpei o suor da testa com uma toalha que eu pendurava em um dos bolsos do avental, encostei-me ao balcão e observei as outras duas pessoas, que também trabalhavam na cozinha, executarem suas tarefas. Em breve Ryan, o outro cozinheiro, chegaria e eu estaria dispensada para ir para casa.

— Terminou aqui? – Silas perguntou ao entrar.

Confirmo me preparando para tirar meu avental, mas ele me detém com um aceno da mão.

— Pode fazer hora extra hoje? Dia de folga de Kyle, normalmente ele serve com a Tina, mas por incrível que pareça Tina não veio. – Ele diz tentando conter a raiva. – Rebeca também vai ficar. Pode ficar, por favor?

Eu estava cansada, obviamente, mas o dinheiro seria bom. Seria um passo a mais para os ingressos de Emma. Tentei conter a animação ao pensar nisso e assenti para Silas. Assim que Ryan chegou fui ao banheiro jogar uma água no rosto e passar um brilho nos lábios, arrumei a trança no meu cabelo e ajeitei o avental. Queria estar com uma boa aparência, quem sabe assim as gorjetas fossem mais generosas que o normal. Passei a mão pelo o vestido do uniforme e notei que estava sem crachá. Ótimo. Pelo menos Silas não havia notado. Eu teria que procurá-lo em casa, pois caso eu o tenha perdido, lá se ia mais quinze dólares para um crachá novo. Suspirei apoiada na pia do banheiro, só mais alguns meses e no próximo período eu poderia dar aula. Eu aguentei isso por muito tempo, consigo aguentar um pouco mais.

Saí do banheiro e ajeitei tudo o que eu precisava no meu bolso, caneta, caderneta e uma pequena toalha. Aquela lanchonete era mais quente que a temperatura do lado de fora. Passei pela cozinha e peguei uma das bandejas, a noite estava apenas começando.

Eu havia servido algumas mesas e eram apenas oito da noite, a lanchonete fechava às onze. Eu estava feliz, Rebeca e eu fazíamos uma boa dupla naquele salão. Por mais que a movimentação tenha ficado um pouco mais fraca, os clientes que estávamos servindo eram educados e alegres. Rebeca voltou do salão saltitante, pendurou os pedidos no mural e se encostou ao meu lado no balcão.

— Por que está saltitando assim?

— Você não sabe os colírios para os olhos que nos aguarda naquele salão.

Dei risada e balancei a cabeça negativamente. Peguei o meu pedido e antes de sair dei um tapinha em seu braço.

— Adorei a presilha.

Ela sorriu e mexeu no cabelo. Hoje ela usava cachos presos em uma presilha rosa choque que chamava atenção. Completamente diferente de ontem em que ela usava tranças compridas. Equilibrei os refrigerantes na minha bandeja e endireitei a postura, uma música da Camila Cabello tocava no salão e aquilo me animou. Era uma das minhas cantoras favoritas e eu tive que me segurar para não dançar ou cantarolar. Quando pisei no salão meus olhos foram involuntariamente para a mesa cinco, não era a que eu estava servindo, mas eu não tinha como esquecer aqueles olhos e cabelos pretos e aquele sorriso arrogante em seu rosto. Recompus-me e quebrei o contato visual, a mesa que eu servia estava logo atrás dele, era só ignorar.

Passei por ele de cabeça erguida, aquele sorriso ridículo não abandonava o rosto. Ele tinha acabado de estragar uma noite boa.

— Desejam mais alguma coisa? – Falei simpática para os dois senhores que sorriram e negaram.

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