Avisos básicos e importantes: conteúdo +18, com palavras pesadas e nenhuma censura. Camila g!p.
Camila Point of View.
Olho pela enorme janela de vidro e contemplo o mar lá embaixo. Provavelmente está fazendo quase trinta graus, mas de dentro do escritório até sinto frio por causa do ar-condicionado. Sinto muita falta de passar o dia todo na água, na praia, de viver com roupa de banho e não ter que me importar com o cabelo ou com as roupas que visto. Sinto muita falta de Cojímar, da minha vila e do meu povo, que fui obrigada a deixar em Cuba. Mas meus pais insistiram que esse seria o melhor para mim.
Por isso me mudei para o Rio de Janeiro, há três meses, com a ajuda de uma amiga, que me conseguiu um emprego nesse escritório de advocacia. Nunca gostei muito de estudar, sempre preferi a vida ao ar livre e a natureza. Mas quando fiz dezesseis, ganhei um livro sobre Direito e acabei ficando fascinada por essa área. Trabalhei durante as férias de verão e juntei todo meu dinheiro para comprar um computador onde pudesse ter acesso à internet.
Comecei a ler um livro atrás do outro, ao menos aos que tinha acesso gratuitamente na internet, e quando terminei o colégio, um ano mais tarde, fui direto para a Argentina, onde passei no vestibular e cursei Direito por cinco anos. Foi onde também conheci Jade, uma brasileira que estava fazendo intercâmbio e pretendia voltar para o Brasil quando se formasse. "Há muita injustiça no meu país, Camila. Eu quero voltar para lutar pelas causas que eu acredito". Ela dizia com tanta força, que acabou me deixando curiosa sobre o seu país.
Começamos a passar muito tempo juntos, eu, ela e Jordan, seu namorado argentino. Jade nos ensinava português nas horas vagas e dizia que tínhamos que voltar com ela quando terminássemos a faculdade. E foi exatamente o que aconteceu. Ela voltou primeiro, depois Jordan veio atrás e alguns meses depois, eu vim também. Ela me conseguiu uma vaga em um escritório bem conceituado e apesar de muito longe da minha casa, seria perfeito para começar e engordar o meu currículo. Fora que melhoraria muito o meu português, e eu poderia aproveitar e começar a aperfeiçoar meu inglês também.
- Quem diria, Karla Camila? - Sorrio para meu reflexo no vidro da janela. Vinte e três anos e tanta coisa pra contar... Na primeira oportunidade que tivesse, viajaria para Cojímar e com certeza deixaria minha família muito orgulhosa.
- Gringa, a chefe tá chegando e pelo jeito não tá de bom humor hoje, se prepara. - Ouço a voz de Ana Caetano me chamando e levo um susto. Já faz três meses, mas ainda acho engraçado quando me chamam de "gringa". Todos no escritório me chamam assim, menos a minha chefe, claro. A toda poderosa senhora Jauregui.
- E quando é que ela esteve de bom humor? - Ana ri e deixa uma pasta em cima da mesa na sala de reuniões, depois recolhe algumas xícaras e sai, fechando a porta atrás de si.
Menos de um minuto depois, a porta se abre novamente e ela entra. Tento manter meus olhos longe, mas é difícil. Minha chefe é o tipo de mulher que para o trânsito e a vida de qualquer pessoa por onde passa. Não tem como não olhar. Uma morena linda de trinta e seis anos. Os cabelos negros lisos e soltos na altura dos ombros, óculos escuros, a camisa social com os dois primeiros botões abertos, deixando apenas um breve decote à mostra. A saia lápis comprida, mas colada em suas coxas grossas, o que deixa sua bunda redonda perfeitamente marcada, e sapatos de salto alto. Ela é quase um evento...
- Bom dia, senhora Jauregui.
Ah, se não fosse tão esnobe... Ela passa por mim e nem me olha. Depois tira os óculos escuros e deixa, junto com sua bolsa, sobre uma das cadeiras vazias. Pelas olheiras em seus olhos, sei que passou mais uma noite em claro trabalhando. Bom, há boatos no escritório de que a senhora Lauren é obcecada pelo trabalho e desde o seu divórcio há quase um ano, não faz nada além de trabalhar compulsivamente. Não sai com amigos, não comparece em festas familiares, e, muito provavelmente, não transa há um século.
