Jamal
Voltar para Fez era como viajar para o passado. Não somente por ter nascido e sido criado aqui dentro, mas também pelo fato de morar na Medina mais antiga da cidade, construída no século IX. Morar cercado por muros altos e grandes portões que separam os bairros uns dos outros dá mesmo a sensação de viver no século passado. As ruas labirínticas ao redor das casas disputam espaços com o mercado de rua a céu aberto. Confesso que sentia falta do barulho causado por inúmeros clientes pechinchando o preço de suas compras, animais ajudando no transporte de produtos e turistas tentando compreender algo no meio de tamanha confusão.
Claro que viver no Irã era muito mais tranquilo, afinal, o país consegue ser muito moderno sem deixar de seguir os ensinamentos de Alá. Eles acompanharam o progresso do Ocidente. Já em Marrocos é completamente diferente. Alguns conceitos no país permaneciam antigos exatamente como as colunas que cercavam a Medina.
— Por Alá, mãe, a senhora disse que seria apenas um jantar! — Reclamei ao notar a quantidade de pessoas entrando em nossa casa. Ela me lançou um sorriso ponderado.
— São apenas alguns amigos, meu filho. Precisamos comemorar a sua volta! — Explicou docemente, e eu suspirei contrariado. Estava cansado da viagem e não queria encarar uma festa. Entretanto, eu já esperava que ela me aprontasse uma dessas. — Aproveite para circular! Reveja conhecidos, conheça novas pessoas...
— Que novas pessoas? — Questionei, já sabendo a resposta, e ela sorriu, dando de ombros.
— Não está óbvio, meu irmão? Nossa mãe quer te casar logo. — Khayat disse sério parando ao meu lado. — O que na verdade já está passando da hora, afinal, você já tem trinta anos.
— Vinte e nove. — Corrigi, e ambos sorriram.
— A idade perfeita para encontrar uma boa esposa. — Minha mãe comentou alisando o tecido da minha camisa. — Casar, formar uma linda família... Voltar a morar em Fez.
— La. Eu já estou habituado a morar no Irã, mãe. Sinceramente, voltar a viver aqui não está nos meus planos.
— Mas se você casar aqui, duvido que a moça quererá se afastar tanto assim da família dela.
— Ah, então aí está! Quer que eu me case com uma mulher local para que eu fique novamente plantado no Marrocos! — Acusei, rindo, e ela tocou carinhosamente no meu rosto.
— Está certo. — Admitiu, olhando nos meus olhos. — Não pode me culpar por desejar ter meu filho caçula mais perto de mim, pode?
— La. — Neguei, e ela sorriu. — Realmente não posso. Entretanto, morar aqui não é uma decisão fácil. Eu construí toda uma vida em Teerão.
— Eu sei, mas não pode transferir tudo que construiu para nossa cidade? Digo, seus negócios são os prédios de aluguel. Creio que possa gerenciar tudo daqui. — Insistiu, e eu notei meu irmão rir, pois ele sabia que nossa mãe não desistiria tão fácil de tentar me persuadir.
— Isso é verdade. O único problema é me readaptar aqui.
— Como se readaptar? Não há grandes diferenças entre os dois países. Tem muçulmanos lá e aqui também. Entretanto, aqui você está em casa.
Assenti já sem bons argumentos e realmente cansado. Sabia do quanto ela sofria com a distância, eu também sentia falta de todos eles, porém morar em Fez realmente não era uma opção.
— Não vamos prolongar essa discussão. — Pedi, e ela me olhou frustrada. — Mas tenho uma notícia que te deixará feliz.
— E que notícia é essa?
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Rosa do deserto [DEGUSTAÇÃO| DISPONÍVEL NA AMAZON]
RomanceApós muitos anos vivendo no Irã Jamal decide voltar para sua cidade natal no Marrocos, interessado em encontrar uma esposa. Ele só não imaginava que Sofia tivesse planos para conquistá-lo e envolvê-lo em uma ardilosa teia de armações.