Ⅷ. Sol

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CANSADO DE MAIS UM DIA DE TRABALHO, ele vem me visitar. Bate na minha janela e meu quarto se enche dessa alegria dourada, ou talvez ela seja minha.

Acendo um incenso, puxo uma cadeira, sirvo um chá. Conversamos. Observando seu sorriso iluminado, conto como foi meu dia e ele conta que percorreu o mundo inteiro somente para me ver. Ele diz isso para todas as pessoas, me cutuco mentalmente. Ainda assim, não consigo evitar que meu coração bata mais rápido.

Ele repara que minhas bochechas estão vermelhas e eu minto dizendo que é por causa do mormaço. Acabamos por falar sobre como o clima dessa cidade está cada vez mais louco.

Mal sabe que é ele o culpado por tonar meus dias mais quentes. Se sabe, finge não saber. Ele deve gostar dessa tortura, de me ver com o rosto vermelho como pimentão e suor brilhante brotando dos meus poros de tanta emoção quando está por perto. E eu gosto de ser torturada assim.

Como tudo que é bom dura pouco, o relógio urge e meu deus dourado tem que ir embora. Uma última vez, beija minha face e me aquece com seu abraço. Céus, como amo esse abraço. O calor invade todo meu interior e nesse instante até minhas orelhas devem estar vermelhas. Eu vejo ele se afastar pouco a pouco para outro lugar e me jogar um derradeiro aceno de luz. Retribuo com outro do meu parapeito.

A escuridão fria de sua ausência me aguarda, mas não me preocupo. Sei que ele voltará à minha janela amanhã.



Baseado no pôr do sol da janela do meu quarto e em alguns abraços também.

DEVANEIO [contos]Onde histórias criam vida. Descubra agora