Capítulo 14: Mr. Sandman

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   O pequeno garoto se encolhe amedrontado entre os cobertores, tentando amenizar o medo que sentia da forte chuva e trovões que caiam do lado de fora. Nunca gostou de chuva, bastava o céu ficar nublado, que o menino já entrava em desespero. Naquela região, as tempestades eram de fato frequentes, entretanto, raras são as vezes em que conseguem ser tão violentas. Toda a adrenalina circulando no sangue, o medo rondando a mente, e o corpo em estado de alerta na tentativa de autoproteção, impediam que pudesse pegar no sono. Isso causava uma certa raiva no pobre coitado, que adorava dormir mais que tudo.

   A agonia do garotinho moreno persistiu por um grande período, sem nada demais ocorrer. Remoia-se em seu silêncio, numa espécie de tortura inaudível. A delicada face molhava-se com as lágrimas, que desciam sem parar. Todavia, da boca não saia som algum; apavorado demais para falar, ou para qualquer ato, que não fosse ficar em posição fetal e tremer, implorando mentalmente pela própria vida.

   De repente, a porta do quarto foi aberta devagar, rangendo consideravelmente alto. O recinto, antes envolto em escuridão, pouco a pouco ganhava alguns feixes de luz, até que a luminosidade que vinha da porta exercesse sua função, deixando parte do local enxergável. Na porta, uma figura baixa se fazia presente. A anatomia gordinha e pequena eram inconfundíveis; reconheceria imediatamente, caso não estivesse com total foco em seu sofrimento. Sem que o pequeno notasse, a silhueta se aproximava, caminhando até a cama e sentando nela. Foi só então, ao sentir a mudança de peso recente, que se deu conta de quem se tratava.

ㅡ P-papai!!! ㅡ O pequenino grita, esforçando-se para se reajustar um pouco, e então se joga nos braços do adulto, que prontamente o recebe.

ㅡ Problemas para dormir, Sandy? ㅡ Em uma voz calma, indaga, mesmo que já sabia a resposta.

ㅡ Si-im, eu... ㅡ a criança pausa, com dificuldade para falar em meio aos soluços. ㅡ Tenho medo da tempestade! ㅡ Exclamou, escondendo o rosto no peito do mais velho.

   Nesta situação, ambos ficaram quietos por alguns segundos. O pai apenas apertou o abraço, a medida que o filho tremia. Sentir o pequeno corpinho de Sandy era ótimo, uma sensação reconfortante e alegre. O garoto era tão vívido, que ainda que estivesse neste momento ruim, conseguia transmitir toda sua boa energia. Talvez o fato do homem ser um controlador de magia influenciasse nessa última parte? Provável, mas esta discussão não importa no momento. Agora só tinha um objetivo, que era confortar o filho, espantar o medo de sua alma e fazê-lo ter uma boa noite de sono.

ㅡ Você precisa de uma história para dormir. ㅡ Quebrou a quietude, sugerindo a ideia que obviamente seria bem aceita. Em resposta, Sandy largou o pai, afastando -se um pouco para observá-lo enquanto contava a história.ㅡ Sabia que você aceitaria. Veja bem, essa história é sobre o homem responsável pelos nossos sonhos.

ㅡ Como assim, papai? ㅡ O antes pavor da criança, virou curiosidade, que parecia já maravilhada antes de ouvir.

ㅡ Há muito tempo, mais do que se pode contar, existia um homem mágico e maravilhoso. Não se sabia seu nome, por isso o chamavam de: Mr. Sandman. ㅡ Começou a história, introduzindo o conceito base.

ㅡ Mas papai, por que o chamavam assim? ㅡ Perguntou, demonstrando grande interesse.

ㅡ Você descobrirá com o passar da história. Prosseguindo; Sandman era um homem bondoso, que adorava crianças. Diz-se que no vilarejo em que nascera, antes de descobrir seus poderes, ele trazia alegria e felicidade a todos os pequenos, de diversas maneiras. ㅡ Enquanto falava, utilizava de sua magia para criar as cenas no ar, por meio da luzes roxas que tomavam forma. O filho apenas observa, maravilhado com tudo aquilo. ㅡ Por vezes, presenteava seus queridos, ou apenas brincava junto a eles. Ele vivia a vida feliz, sem preocupações, raiva ou culpa. ㅡ Ao fim desta frase, o homem fez uma expressão triste, mas não durou por mais que um segundo, sendo quase imperceptível. A tristeza passou batida pela criança, que estava entretida demais para prestar atenção. ㅡ Um dia, uma garotinha apareceu com problemas de insônia. Na época, não se tinha informações sobre a doença, nem sabiam de sua existência. Assustados, os pais da pequena pediram ajuda à Sandman, que era quem mais entendia sobre crianças. Tinham esperança que, de algum jeito, o simpático homem pudesse fazer a menina sentir sono, mesmo ela estando há dois dias sem dormir, com nenhum sinal aparente de cansaço. Sandman não sabia como ajudar, mas não negou o pedido; pediu que colocassem a garota em sua cama, e ele faria o resto. O homem então, pôs sua mão sobre a cabeça da menina, fazendo um carinho em seus cachos de cabelo negro. Depois, retirou a mão, fechando-a com os dedos para cima, disse apenas uma frase, antes de abrí-la: "Tenha bons sonhos."

   O pai criou um momento de suspense, ficando quieto por um período, um tanto longo e incômodo, de tempo. Seu filho quase que se revirava, ansioso ao extremo para a conclusão da situação. Ao ver a inocência do pequeno, não pôde conter um sorriso de felicidade, que escapou e permaneceu em sua face, sustentando sua alegria. Sandy logo se alegrou, pois adorava ver quando seus pais estavam felizes; era algo tão raro, não podia deixar de aproveitar, quando acontecia.

ㅡ Milagrosamente, o desejo de fazer bem, e a boa aura que emanava de Sandman, converteram-se em sua mágica; um pequena quantidade de areia saiu de sua mão, assim que soprou a palma aberta. A areia entrou nos olhos da pequena, mas não pareceu incomodar; pelo contrário, causou uma boa sensação, seguido de um cansaço iminente que a fez apagar. A garota dormiu mais de 10 horas naquela noite.ㅡ Reparando em Sandy, percebeu que o garoto já mostrava estar pegando no sono, porém ele estava lutando para se manter acordado, fascinado com o conto.

ㅡ E como a história termina? ㅡ Indagou numa voz baixa e sonolenta, quase morta.

ㅡ Sandman continuou usando seu poder, para dar às crianças sonhos bons. E até hoje, ele continua o fazendo. ㅡ explicou, e antes mesmo que terminasse, o garoto já estava adormecido.

   Saiu da cama, deixando um beijo na testa de seu filho. Caminhou lentamente em até a porta, virando-se para dar uma última olhada antes de ir. Lágrimas escaparam de seus olhos marejados, e continuaram descendo sem parar. O sofrimento era inevitável; não conseguia se imaginar sem ele, mas tinha que partir, para proteger a si mesmo, sua esposa, e o próprio filho. Mesmo assim, doía. Uma dor profunda no peito, ao pensar que não o veria crescer, mudar, se desenvolver e virar um grande e magnífico homem, assim como Sandman era. Daria de tudo para poder passar mais tempo com seu Sandy, todavia, agora é tarde demais. O que tem que ser feito, será feito, e nada mudará o destino programado.

   Como um último presente, usou sua lâmpada mágica mais uma vez, para dar poderes de areia ao filho. Assim, teria certeza que ele estaria protegido de todo mal, e faria o bem para as pessoas ao mesmo tempo.



   Anos mais tarde, o agora rapaz observa o céu estrelado e limpo, muito diferente daquele das noites tempestuosas. Ao seu redor, haviam árvores e mais árvores, cercando-o por todos os lados. Aquela parecia uma grande floresta, tanto que perdera algumas horas de caminhada, e ainda não havia chego no fim. Por sorte, não estava frio, então suas roupas "excêntricas" não o deixavam na mão. Suas emoções eram confusas, pois estava totalmente despreparado, para o que viria logo. Encontrar novamente com os pais, depois de tantos anos, seria, no mínimo, estranho. Eles o reconheceriam? Como reagiriam? E, o mais importante: explicariam o motivo do abandono? Mesmo com toda raiva, angústia e desesperança, bem no fundo, ainda havia uma ponta de esperança no coração do árabe. Esperança essa que, em pouco tempo, era reprimida pelo próprio.

ㅡ Caia na real, Sandy: eles não te querem. Por qual outro motivo te abandonaram? ㅡ Disse para si mesmo, sem deixar de observar as lindas luzes enfeitando o céu.

   Ficou um bom tempo ali, parado, quieto. Para Sandy, o silêncio era torturante, o trazendo lembranças ruins, de épocas já esquecidas. Mas, ao mesmo tempo, ele confortava a dor de sua alma, e o ajudava com seus pensamentos tão confusos e, por vezes, incompreensíveis. Afogando-se no seu próprio mar de solidão, Sandy adormeceu ali mesmo, sentado no chão,  de costas para uma árvore. Inconscientemente, seus poderes criaram uma redoma de areia sólida ao seu redor, para evitar que sentisse frio, caso esfriasse; ou, para protegê -lo de algum possível malfeitor.

   No fim desta floresta onde se encontrava esse rapaz, tinha uma cidade, cujo o nome todos nós conhecemos muito bem. Esta cidade é Stars City.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2020 ⏰

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