a cortina branca do quarto principal começa a machucar lá pelas 9 quando o sol fica alto e já não dá mais pra esconder as mentiras em um calabouço escuro. quando já não dá mais pra implorar para que as cobras parem de trocar de pele toda hora só porque estamos frustradas pra caralho com o fato de que a nova coleção da gucci não possui nenhuma bolsa com estampa animal para satisfazer o nosso desejos pela crueldade do veneno que jacarés e lobisomens escondem em seus sonhos mais miseráveis, onde podemos até cogitar uma trégua entre o homem e a máquina. tudo isso se passa enquanto todos ainda dormem. é verão e são exatamente 8:25 da manhã. por que vocé estaria acordada, garotinha?é claro que é inevitável enfeitar os seus fetiches de carne branquinha, mas se você usar bronzeador as cobras te olham diferente nos olhos e o sol cruza o seu lado na calçada só pra não te encarar de frente, juro por deus!
coloco os óculos lilases em frente aos olhos e vou irreverentemente de encontro ao cego mártir que se esconde sob a epiderme que muito em breve estará avermelhada e seguro meus desejos cobertos com o silicone do nosso corpo e o latex confiável dos nossos lábios de tigre, porque você me disse que eu não posso mentir só porque isso não é compatível com a beleza, mas eu digo completamente o contrário, se quiser saber a realidade das coisas. hoje é o dia mais quente do ano mas você não conferiu a previsão do tempo no jornal de quinta feira, então...
me conformo em levantar da cama, arrancar as cortinas e quebrar a flauta que eu te emprestei para encantar uma ou duas cobras por aí.
biquini azul, óculos lilases e chinelos amarelos... hoje é o dia mais quente do ano e você pode explicar para os garotos que não há humana explicação para nossos olhos alaranjados e que eles não fazem com que eu tenha vontade de engolir meteoros, porque simplesmente não sabem quem eu sou e muito menos sabem o que eu mereço em troca de alguns puxões de cabelo.
afinal de contas, eu arranquei as cortinas e o sol das nove pode abraçar o meu corpo o quanto que ele quiser, contanto que fique quieto.
quebre a flauta, esconda os caquinhos acrílicos debaixo do seu chapéu bonito com laço de fita e finja não se importar com as gotículas de suor escorrendo dos seus seios enquanto todos sabem que podem te devorar com os olhos. coloque as cobras que você pensa poder domar envolta do seu pescoço, arranque as penas de alguns pássaros azuis extremamente raros e faça um cocar...
acredite em mim, eu já estive em bangkok!
podemos esperar até as 16:57, colocar as nossas cadeiras de praia em frente ao mar em alguma área privilegiada do rio de janeiro enquanto esbanjamos o senso político jamais requisitado ao nosso próprio estereótipo.
às 17:00, o sol te contará um segredo sobre as coisas douradas do mundo e cobrirá a maré dos seus pensamentos impuros com uma camada fina de imperfeições que poderão te destruir caso você se esqueça de que nos anos 50 saias plissadas estavam na moda e que você pode com toda e completa certeza pintar uma unha de cada cor.
não posso esconder a magia aos encantos de uma sereia que se veste com cortinas e dita movimentos e músicas e ensaios sobre um amor infinitamente catastrófico. 2015. azul, laranja, lilás.
os garotos assistem o mar engolir seus olhos de tigre.
me pergunto se algum deles já nos amou de verdade ou se aquelas pedras em seus colares são usadas para que escondam suas verdadeiras identidades.
consigo camuflar os desejos enquanto a minha pele mastiga suas agulhas internas e nós duas nos deixamos levar pela maré alaranjada daquele dia no leblon em que eu pedi pare que você colocasse uma cascavel em meu pescoço em troca da minha única recordação de bangkok.
faça com que eu nunca mais consiga proferir o seu nome sem me engasgar em incertezas infinitamente mais deliciosas do que pedaços acrílicos do sol que eu construí quando observava o mar, desacreditada com a cobra que rastejou ao meu lado naquela selva arenosa.
é só dar um pulinho no mar, siyeon, não vai doer nadinha!
estarei te esperando em bangkok, mesmo que você não consiga arrancar os pedaços de seda do seu corpo ou seja barrada ao tentar passar pelo aeroporto com metais ilegais presos aos dentes.
posso mentir pra você mais uma vez ou você consegue me responder cientificamente se na cadeia alimentar contemporânea das classes sociais, o tigre come a cobra ou completamente o contrário?
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𝐛𝐚𝐧𝐠𝐤𝐨𝐤
Fiksi Penggemaróculos lilases, biquínis azuis e chinelos amarelos. dreamcatcher | lee gahyeon & lee siyeon @exoparis: 24/07/20