Durante o café com Matthew, Svetlana nem conseguiu saborear o chocolate quente que pediu. Estava com vergonha, com medo do que Bruce deve ter pensado dela.
— Você está calada, aconteceu alguma coisa? — Matthew pergunta, após beber um pouco de seu cappuccino.
— Ah, não é nada. É só cansaço. Pratiquei muito hoje.
— Tenho certeza que deve ser uma maravilhosa bailarina. Mesmo que eu não veja, sinto isso. — sorriu de leve.
— Muito obrigada. — bebe um pouco de seu chocolate. — Desculpa perguntar, mas como ficou cego?
— Quando eu era criança, gostava muito de ficar brincando na rua e pelo bairro que morei com meu pai. Num certo dia quando brincava, um caminhão vinha a toda velocidade, e eu avistei um filhote de gato no meio da rua, prestes a ser atropelado. Minha imaginação fértil fez eu me imaginar sendo o Batman, e que eu tinha que salvar o gatinho. Corri como nunca e consegui salvar o gato, porém fui atingido pelo caminhão. — ele baixa a cabeça após contar.
— Nossa! E foi por conta do acidente que perdeu a visão?
— Em parte, sim. Quando fui acertado, eu voei um pouco pra longe. Porém logo em seguida um líquido incolor, de cheiro forte e que ardia feito fogo caiu em meus olhos. Fiquei cego por conta disso, e só depois descobri que aquele caminhão portava produtos químicos.
O coração dela apertou ao ouvir aquela triste história.
— Imagino que deve ter sido ruim para você.
— Foi sim, principalmente para o meu pai. Éramos pobres e minha mãe tinha nos deixado e ido viver a vida dela,e ele não tinha como pagar as despesas médicas. Foi aí que ele começou a se envolver com coisas erradas e que prometiam dinheiro fácil, mas acabou piorando para ele. Meu pai foi assassinado por um agiota, fiquei órfão e fui para um orfanato.
— Isso é terrivelmente triste, mas pelo menos agora você parece ter superado. Pelo o que Margareth disse, é um ótimo advogado.
— Sim, em Cristo eu pude vencer e ser o que sou hoje. Minha deficiência não me incomoda mais. — sorri, mais calmo.
— É cristão? — ela se impressiona.
— Sou sim, desde a época do orfanato. Aprendi o caminho da fé através de uma das professoras de lá. Ela me mostrou como Jesus poderia ser meu melhor amigo, e desde aquele dia, nunca mais o troquei por ninguém.
— Isso é maravilhoso! Também sou cristã. Moro aqui na América há dois anos, vim da Rússia com a minha avó. Desde que chegamos, o Senhor tem sido bom e tem cuidado de nós em tudo.
— O Senhor é bom e faz mais além que pensamos.
— Posso te perguntar mais uma coisa?
— Diga.
— Por que a Margareth disse que é garanhão?
Ele ri de maneira descontraída e responde.
— Margareth e eu nos conhecemos há um tempo já. Por eu ter tido apenas duas namoradas na época da faculdade, ela me chamava de cego garanhão.
— E isso não te ofendia?
— Nem um pouco, ela é uma boa pessoa, falava aquilo brincando e eu entendi que era para levar da esportiva. Mas fica tranquila, não sou esse tipo de homem. Meus relacionamentos não deram certo, mas não era por causa da minha deficiência, e sim porque nenhuma delas tinha um caráter cristão. Infelizmente fiz a burrada de me envolver em jugo desigual, mas agora que aprendi a lição, espero por uma moça decente e que ame a Cristo verdadeiramente, assim como eu o amo.
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A Escolha (Conto)
Short StorySvetlana Semenov veio da Rússia para os Estados Unidos apenas com a intenção de cuidar de sua avó e tornar-se uma bailarina profissional e conhecida no meio do balé clássico, sua grande paixão. Seus planos estavam apenas focados nisso, porém a apari...