Três

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Durante o café com Matthew, Svetlana nem conseguiu saborear o chocolate quente que pediu. Estava com vergonha, com medo do que Bruce deve ter pensado dela.

— Você está calada, aconteceu alguma coisa? — Matthew pergunta, após beber um pouco de seu cappuccino.

— Ah, não é nada. É só cansaço. Pratiquei muito hoje.

— Tenho certeza que deve ser uma maravilhosa bailarina. Mesmo que eu não veja, sinto isso. — sorriu de leve.

— Muito obrigada. — bebe um pouco de seu chocolate. — Desculpa perguntar, mas como ficou cego?

— Quando eu era criança, gostava muito de ficar brincando na rua e pelo bairro que morei com meu pai. Num certo dia quando brincava, um caminhão vinha a toda velocidade, e eu avistei um filhote de gato no meio da rua, prestes a ser atropelado. Minha imaginação fértil fez eu me imaginar sendo o Batman, e que eu tinha que salvar o gatinho. Corri como nunca e consegui salvar o gato, porém fui atingido pelo caminhão. — ele baixa a cabeça após contar.

— Nossa! E foi por conta do acidente que perdeu a visão?

— Em parte, sim. Quando fui acertado, eu voei um pouco pra longe. Porém logo em seguida um líquido incolor, de cheiro forte e que ardia feito fogo caiu em meus olhos. Fiquei cego por conta disso, e só depois descobri que aquele caminhão portava produtos químicos.

O coração dela apertou ao ouvir aquela triste história.

— Imagino que deve ter sido ruim para você.

— Foi sim, principalmente para o meu pai. Éramos pobres e minha mãe tinha nos deixado e ido viver a vida dela,e ele não tinha como pagar as despesas médicas. Foi aí que ele começou a se envolver com coisas erradas e que prometiam dinheiro fácil, mas acabou piorando para ele. Meu pai foi assassinado por um agiota, fiquei órfão e fui para um orfanato.

— Isso é terrivelmente triste, mas pelo menos agora você parece ter superado. Pelo o que Margareth disse, é um ótimo advogado.

— Sim, em Cristo eu pude vencer e ser o que sou hoje. Minha deficiência não me incomoda mais. — sorri, mais calmo.

— É cristão? — ela se impressiona.

— Sou sim, desde a época do orfanato. Aprendi o caminho da fé através de uma das professoras de lá. Ela me mostrou como Jesus poderia ser meu melhor amigo, e desde aquele dia, nunca mais o troquei por ninguém.

— Isso é maravilhoso! Também sou cristã. Moro aqui na América há dois anos, vim da Rússia com a minha avó. Desde que chegamos, o Senhor tem sido bom e tem cuidado de nós em tudo.

— O Senhor é bom e faz mais além que pensamos.

— Posso te perguntar mais uma coisa?

— Diga.

— Por que a Margareth disse que é garanhão?

Ele ri de maneira descontraída e responde.

— Margareth e eu nos conhecemos há um tempo já. Por eu ter tido apenas duas namoradas na época da faculdade, ela me chamava de cego garanhão.

— E isso não te ofendia?

— Nem um pouco, ela é uma boa pessoa, falava aquilo brincando e eu entendi que era para levar da esportiva. Mas fica tranquila, não sou esse tipo de homem. Meus relacionamentos não deram certo, mas não era por causa da minha deficiência, e sim porque nenhuma delas tinha um caráter cristão. Infelizmente fiz a burrada de me envolver em jugo desigual, mas agora que aprendi a lição, espero por uma moça decente e que ame a Cristo verdadeiramente, assim como eu o amo.

A Escolha (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora