Lúcia

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Chegou o dia da visita daquela cliente especial. Já havia ligado para ela de manhã e confirmado para as duas da tarde. Para impressionar, eu caprichei muito muito no visual. Fiz uma apresentação apurada em slides no computador e até ensaiei na frente do espelho, para garantir que nada desse errado.

Quando a cliente chegou, eu não pude prever que quem a atenderia seria o Bruno, o patrão. Ao ver a mulher entrando na loja, ele se atirou como uma flecha na minha frente para cumprimentar primeiro, me dando uma trombada que me jogou de lado e quase me derrubou. Só faltou ficar de quatro para ela passar por cima das suas costas por falta de um tapete vermelho... Parecia o bobo da corte! O marido careca e grosseiro estava com ela. Estava todo pomposo simulando ser o verdadeiro dono, se apresentando para o Bruno como se fosse o rei dos negócios. Fiquei uns segundos pasma observando aquele absurdo, então dei uns passos para me aproximar, me dirigi à Lúcia com muita educação e a cumprimentei. Ela me deu um abraço amigável, porém o marido não me cumprimentou, nem ao menos me olhou na cara.

-Vamos para minha sala e depois poderemos conhecer melhor a loja, o que acham? -Disse o Bruno lambe-botas.

-Vamos sim! Primeiro os negócios! -Respondeu a mulher.

Eu ia os seguindo atrás, afinal era minha cliente e eu havia marcado aquela visita. Mas o Bruno, depois que os dois já haviam entrado na sala, passou pela porta e quase a fechou na minha cara. Eu segurei a porta e estava teimando em entrar quando ele me disse:

-Vai fazer um café para os clientes, anda!

Fiquei olhando pra ele indignada.

-M-mas seu Bruno, é minha cliente... Ela marcou comigo essa visita! Eu não posso ficar?

-Já fez a parte fácil que foi contatar a cliente. Agora pode deixar que eu faço a reunião, afinal essa empresa é minha.

-M-mas espera...Não foi fácil! E depois eu fiz uma apresentação cuidadosa... esperava eu mesma fechar negócio com ela!

-Já disse, menina, vai fazer um café! Está atrapalhando ficando aí na porta como "Dois de Paus"!

-Ah, a moça não vai ficar? -A cliente disse, para minha esperança.

-Não, sinto muito. Ela tem muitos afazeres. -Disse o patrão fazendo para mim um sinal de "chispa daqui" com a mão.

-Ah, que pena! Ela é tão simpática!

-Ela não tem importância, meu bem. Negociar diretamente com o dono é bem melhor. -Disse o marido me olhando com olhar de satisfação, de vingança concluída.

Praticamente expulsa da sala, saí de lá e fechei a porta como uma derrotada. Passando pelo meio da loja disfarçando os olhos cheios de lágrimas, puxei a Lady de volta para a copa.

-O que aconteceu, Vana? Não são seus clientes? Porque não está lá fazendo a apresentação?

-O Bruno não me deixou ficar! Me mandou fazer café, acredita!? -Eu disse não podendo segurar as lágrimas.

-Mas que ordinário! Porquê ele fez isso?

-Não sei! Ele nunca me trata bem... Acho que ele não gosta de mim...

-Aquele velho não trata ninguém bem, Vana!

-Ele não deve acreditar no meu potencial, então. Deve estar achando que não sou capaz de fechar uma venda dessas... mas eu sei que sou, Lady!

-Sim, você é! E esta venda está praticamente certa pelo que você me disse!

-Sim! A Lúcia só veio até aqui para conhecer melhor a empresa e se assegurar de um bom negócio. Mas ela já havia me dado uma certeza absoluta de que fecharia contrato. A venda é certa! E vai ser grande! Ela tinha um contrato com a concorrência mas não estava satisfeita. Se se tornar cliente, será cliente fixa para o ano todo!

-Nossa, Vana, você encontrou uma mina de diamantes! Qualquer patrão estaria te agradecendo de joelhos, e não fazendo isso que o Bruno está fazendo com você! Como pode?

-Eu fiz tudo certinho... não entendo!

-Ou... pode ser outra coisa...

-O quê?

-Pode ser que ele esteja fazendo isso para não te pagar as comissões...

-Também pensei nisso, mas não queria acreditar... Será, Lady? Pra eles essas comissões são trocados, não são nada!

-Aí é que você se engana... A loja não está tão bem das pernas quanto eles querem aparentar. Depois da reeleição da presidente Dilma, o setor empresarial está descontente. Eles queriam eleger o Aécio, que prometia uma abertura maior pro mercado. Junto com crise política sempre vem crise econômica e vice-versa.

-Nossa, Lady! Não sabia que você entende de política e economia...

-Estudei três semestres de economia, boba! Mas depois tive que abandonar porque não pude mais pagar. Por isso sei que essa empresa está à beira da falência. Não deve ser fácil manter uma loja dessas num Shopping tão chique. E a fábrica está demitindo funcionários. Colocar você e os outros dois funcionários como vendedores externos sem treinamento algum ao invés de contratar bons vendedores ou uma boa equipe foi puro desespero. E pro Bruno estar lambendo tanto assim aqueles clientes, ele deve estar muito desesperado! Há um tempinho atrás, quando a economia estava boa, ele nem pensaria em atender clientes pessoalmente.

-E o que eu faço? Foi muito difícil conseguir essa cliente! Eu mereço minhas comissões!

-Já sei! Faz o seguinte... Pára de chorar, limpa esse rostinho lindo, retoca a maquiagem, faz esse café, leva até eles e pergunta, não pro Bruno, mas pra cliente se ela quer ver a apresentação que você fez no computador. Se ela te adorou como você disse, ela vai querer ver, e o Bruno não vai ter como negar, porque é a vontade da cliente.

-É isso! Você é uma gênia, Lady! -Dei um abraço nela.

Passei o bendito café bem caprichado, levei na sala e fiz o que a Lady disse. A cliente adorou a ideia e o patrão, mesmo à contragosto, não teve como dizer não. Ao final da apresentação, a mulher estava ainda mais encantada.

-Que menina de ouro o senhor tem na sua loja, Bruno! Quem me dera ter uma funcionária tão dedicada assim! Vai ter que dar um aumento à ela, viu? Vou fechar o negócio! -Disse a cliente.

Meu coração estava quase saindo pela boca! Ela assinou uma compra de 50 mil reais! A minha comissão seria de dois mil reais, mais até que meu salário! 

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AVISO: Esta é uma obra original de minha autoria devidamente registrada para fins legais. Lembre-se, PLÁGIO É CRIME!

*Declaro que esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.  

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